Festa na quadra da Mocidade Alegre termina na madrugada

Desfile teve como tema a tentação e a subversão de valores.

A festa pelo título de campeã do carnaval de São Paulo da Mocidade Alegre começou logo após a apuração, na tarde desta terça-feira (12), e só terminou na madrugada desta quarta (13). Torcedores lotaram a quadra da agremiação, na Zona Norte, e tomaram conta também da rua. A agremiação conquistou o bicampeonato com o enredo “A sedução me fez provar, me entregar à tentação… da versão original, qual será o final?”

A disputa pelo título foi apertada até o último quesito, enredo. A Mocidade estava apenas um décimo de ponto atrás da Rosas de Ouro, que até então liderava nas notas dos jurados.

Mas, no critério final, a agremiação sediada no bairro do Limão levou a melhor e alcançou o bicampeonato, mesmo ficando empatada em 268,9 com a Rosas. A Mocidade teve a nota máxima em enredo, e a Rosas perdeu um décimo de ponto. Por um sorteio realizado no sábado, esse era o critério de desempate mais importante.

A Mocidade já havia ficado em primeiro lugar no ano passado, e foi a terceira a passar pelo Sambódromo do Anhembi na segunda noite de desfiles, na madrugada de sábado (9) para domingo (10). Seu desfile contou com 3.200 componentes, cinco alegorias e 25 alas.

O carnavalesco Sidnei França conquistou três títulos com a agremiação. Ele disse que, neste ano, a comemoração será diferente do ano passado, quando houve a confusão das notas rasgadas. “Com certeza, este ano a escola está plena, está inteira”, disse.

Angelina Basílio, presidente da Rosas, lamentou a derrota por diferença tão pequena.

"A gente não sabe o que passa na cabeça dos jurados. Há notas que não concordo, vai ter que ter uma avaliação. Mestre-sala e porta-bandeira e enredo prejudicaram bastante", avaliou.

Medidas de segurança

Neste ano, por causa da confusão na apuração dos desfiles de 2012, as torcidas não acompanharam a leitura das notas no Sambódromo. No ano passado, um tumulto interrompeu a apuração.

Um representante da Império de Casa Verde invadiu o local onde eram lidas as notas e rasgou os envelopes durante a divulgação dos pontos do último quesito. Devido à invasão, a apuração teve de ser interrompida.

Torcedores na arquibancada começaram a jogar objetos na área dos organizadores até que conseguiram derrubar as grades e entrar no espaço restrito. Houve quebra-quebra e parte da torcida chegou a atear fogo em carros alegóricos que estavam na área da dispersão do sambódromo.

Em 2013, apenas dez representantes de cada escola, previamente cadastrados, tiveram acesso, e cada um deles recebeu uma pulseira com o emblema da escola. Nesta sexta-feira (14), Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Águia de Ouro, Dragões da Real e Império de Casa Verde voltam à passarela para o Desfile das Campeãs.

Águia penalizada

Para a Águia de Ouro, a terceira colocação tem sabor especial, já que foi a única escola a ser penalizada por estourar o tempo de desfile, e mesmo assim conseguiu se manter entre as primeiras colocações. Ela perdeu 1,1 ponto (1 ponto pelo fato de ter estourado o tempo, e mais 0,1 pelo minuto a mais que esteve na avenida, conforme as regras do carnaval paulista).

"Tem gostinho de primeiro lugar. Saímos atrás de todo mundo, somos terceiros colocados. Se a gente não perde esse ponto, era campeão com sobra", afirmou o presidente Sidnei Carriuolo.

Rebaixadas

A Mancha Verde e a Unidos de Vila Maria foram as duas escolas rebaixadas do Grupo Especial e vão para o Grupo de Acesso. "Difícil entender isso, a escola vem para disputar o campeonato e fica em último lugar, cabeça para frente", afirmou o presidente da Vila Maria, Paulo Sérgio Ferreira, logo após o anúncio dos resultados.

Pérola Negra e Leandro de Itaquera, por sua vez, conquistaram as duas primeiras posições no Grupo de Acesso e irão desfilar no Grupo Especial em 2014. A Pérola terminou com 269,6 pontos, contra 269,2 pontos da Leandro.

Em seu desfile campeão, a Mocidade quis chamar a atenção do público e dos jurados com um convite à tentação e à subversão de valores.

A escola, que ficou em primeiro lugar no carnaval do ano passado com um enredo sobre o centenário do escritor Jorge Amado, foi a terceira a passar pelo Sambódromo do Anhembi na segunda noite de desfiles, na madrugada de sábado (9) para domingo (10).

Para encenar o enredo “A sedução me fez provar, me entregar à tentação… da versão original, qual será o final?”, a escola usou o bom humor. A ideia era recriar dogmas da humanidade, em uma tentativa de questionar as verdades e conceitos que são transmitidos de geração para geração.

O final de lendas e contos de fadas foi transformado ao longo do desfile: Branca de Neve virou uma moça malvada que come criancinhas, a rainha era a mocinha da história, Pinóquio quis continuar boneco de madeira e as madrastas viraram "boadrastas" — foram representadas pelas baianas.

“De tudo aquilo que nos foi contado ao longo dos tempos, até que ponto podemos ser donos dos nossos caminhos e das verdades que nos são apresentadas? Assim, a nossa proposta é nos tornarmos donos dessas histórias e mudarmos esses finais”, disse o carnavalesco Sidnei França.

Pecado original

Batizada de "O poder da sedução", a comissão de frente convidava o público a morder a "maçã da tentação". Fantasiados de serpentes, os destaques eram Nani Moreira, que já foi rainha de bateria da Mocidade Alegre e voltou à escola após dois anos afastada, e Robério, que foi o primeiro Rei Momo magro do carnaval de São Paulo.

O carro abre-alas também representava a história do pecado original de Adão e Eva e tinha uma serpetente gigante segurando uma maçã. O rosto da serpente foi inspirado nas feições de Robério.

As alas que vieram depois representavam os pecados capitais. Integrantes vestidos com roupas cheias de doces mostravam a gula. Fantasias com "olhos gregos" (amuletos contra "mau olhado") encenavam a inveja, plumas de pavão, a vaidade e casais seduzindo-se, a luxúria. Cada um dos 240 ritmistas da bateria usava uma fantasia pontiaguda inspirada em um soco-inglês, mostrando o pecado da ira.

Depois de tantos pecados, veio a ala da redenção. Um carro alegórico subvertia a ideia clássica de céu, mostrando-o como uma grande festa de música eletrônica na qual São Pedro é o recepcionista, que permite ou não a entrada das pessoas. No universo da Mocidade, é para lá que vão os pecadores.

Em alguns momentos, a bateria de Mestre Sombra (que é casado com a presidente da escola, Solange Bichara) fez "paradonas", deixando o público e os componentes da escola cantarem o samba-enredo. A rainha da bateria era Aline Oliveira.

Acidente

Adriana Gomes, que por dez anos foi a primeira porta-bandeira da escola, não pôde desfilar no posto neste ano por ter sofrido um acidente. Ela machucou o joelho quando o elevador em que estava, em um prédio de Copacabana, despencou do sétimo andar.

Adriana foi destaque em um carro e foi substituída por Karina Zamparolli, que fez par com o mestre-sala Emerson Ramires.

Os filmes "Avatar", de James Cameron, "Inteligência Artificial", de Steven Spielberg, e "O Feitiço de Áquila", de Richard Donner, foram lembrados em algumas alas.

Também desfilaram componentes fantasiados de vampiros e zumbis, com figurino e maquiagem caprichados. Um dos casais de porta-bandeira e mestre-sala estavam vestidos de Romeu e Julieta.

O quinto setor fechou o desfile mostrando o final que a escola quer para todas as histórias: de muita felicidade. As alas representaram a paz mundial, fartura na mesa do brasileiro e também um carnaval unido em São Paulo.

Fonte: G1

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