Poupança continua atraente, um ano após nova regra

Apesar de ganho menor, caderneta é a melhor opção para quem tem até R$ 25 mil para aplicar, dizem analistas.

Um ano depois de o governo anunciar a mudança na regra de remuneração da caderneta de poupança, a aplicação permanece uma opção atraente em relação aos populares Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e fundos DI, especialmente para quem pretende investir até R$ 25 mil. Isso porque quanto menor for o valor inicial investido, maiores serão os custos com taxa de administração nos fundos DI e piores serão os juros dos CDBs oferecidos pelos bancos.

Segundo especialistas, a poupança tem a vantagem de ser uma aplicação simples, o que continua atraindo o interesse de poupadores. Prova disso é que, mesmo com a mudança das regras, o dinheiro depositado na caderneta cresceu 16,9% desde maio do ano passado. São R$ 516,6 bilhões, segundo o Banco Central (BC), depositados em 102 milhões de contas poupança.

— Poupança é um produto de boa relação custo-benefício. Ela permite aplicação de pouco dinheiro, o que outros, se permitem, rendem pouco. E, como reserva de emergência ou forma de guardar para trocar o carro, o que importa é a segurança e previsibilidade — explica o especialista em finanças pessoais Gustavo Cerbasi.

O que mudou um ano atrás foi a forma como a poupança faz o dinheiro render. Os valores que já estavam depositado em 3 de maio de 2012 rendem 6,17% ao ano, mais a TR (Taxa Referencial), que varia mês a mês. Já o dinheiro depositado a partir de 4 de maio passou a render 70% da Selic, a taxa básica de juros, mais a TR.

Na prática, a regra nova “mordeu” o equivalente a mais de um mês de rentabilidade do investimento: para conseguir o retorno que era obtido em 12 meses, por exemplo, o dinheiro precisa agora ficar 13 meses aplicado.

Uma simulação no site Comdinheiro.com.br mostra que um montante de R$ 5 mil aplicados durante um ano na poupança renderá R$ 268,84 pela nova regra. Na antiga, o ganho seria de R$ 308,40.

Alta da inflação afeta rentabilidade
O advogado Felipe Lima é um dos brasileiros que frequentemente aplicam na caderneta de poupança. Ele diz que, geralmente, destina as sobras de seu orçamento mensal.

— Eu cheguei a olhar as notícias sobre a mudança de regra da poupança, mas não senti muito impacto. Talvez porque costumo deixar pouco dinheiro na poupança. Valores maiores eu aplico em ações — explica Felipe.

Mesmo com essa perda, a caderneta continua atraente. Os ganhos ainda superam os de R$ 254,15 que seriam obtidos em um fundo DI — com taxa de administração de 1% ao ano — e de R$ 250,41 em CDBs — que remunerem 85% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).

Segundo o professor de matemática financeira do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), José Dutra Vieira Sobrinho, a vantagem da poupança é a isenção de IR. Em CDBs e fundos DI, o imposto reduz em 22,5% os ganhos de quem sacou a aplicação até 180 dias após o depósito. Para quem deixa o dinheiro por dois anos, a alíquota encolhe para 15% sobre o lucro.

— Além disso, os bancos continuam com taxa de administração de 1,5% a 2% ao ano nos fundos. Isso afeta o ganho. Um fundo DI só vale a pena com taxa igual ou menor que 0,75% ao ano, o que é muito difícil encontrar para quem tem pouco a investir — explica Dutra.

O problema é que a taxa de administração média cobrada pelos fundos DI é de 1,26% ao ano, segundo dados da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). E para conseguir uma taxa menor do que 1% ao ano, o investidor precisará, em média, de um investimento inicial de mais de R$ 25 mil.

Especialistas lembram que os ganhos da poupança acima da média de outras aplicações não significam que a vida do poupador esteja fácil. Como a maioria das aplicações, a poupança tem perdido a corrida para a inflação.

Desde junho de 2012, quando a Selic caiu para 8,50% ao ano, o rendimento acumulado da poupança foi de 5,66% até abril deste ano, seguindo a regra antiga. Pela nova, foi de 4,88%. Nesse mesmo período, a inflação medida pelo IPCA avançou 6,06%, considerando a expectativa média do mercado para a alta dos preços em abril.

O empresário Victor Marques percebeu essa perda de rentabilidade real. O dinheiro que ele aplicava na caderneta antes da mudança da regras permanece intocado, já que rende mais do que outras aplicações. Mas ele nunca mais voltou a depositar dinheiro na caderneta.

— A poupança rende um pouco menos do que o avanço da inflação, mas isso não é uma exclusividade dela. Eu busco sempre outras aplicações financeiras, mas a maioria das aplicações também está assim — explica o empresário, sócio da marca de roupas Welford.

Brasileiro desconhece nova regra
Rafael Paschoarelli Veiga, professor da FEA/USP e responsável pelo site Comdinheiro.com.br, acredita que a preferência pela caderneta de poupança tem mais a ver com a falta de interesse das pessoas em pesquisar aplicações melhores no mercado do que realmente com retorno.

— Para quem tem pouco a investir e faz questão de aplicar num banco grande do varejo, a poupança será mesmo a melhor aplicação. Mas existem bancos menores que oferecem retorno maior. E a própria Caixa tem fundos bem competitivos — afirma Paschoarelli.

Uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) no ano passado mostrou que 64% das mil pessoas entrevistadas ouviram falar da mudança das regras, mas não sabiam detalhes do que tinha mudado. Só 7% declararam saber todos os detalhes da nova regras.

A corretora de imóveis Cristiane Raed reconhece que não buscou informações sobre a mudança de regra da caderneta. Ela diz que seu objetivo é guardar dinheiro para o futuro do filho.

— Eu sei que é um jeito bem simples de guardar dinheiro, não tem Imposto de Renda, e posso ver o extrato pela internet — afirma.

A mudança na regra da caderneta foi anunciada em maio de 2012 e foi considerada necessária para que o governo pudesse cortar a Selic a seu menor nível da história. Ela entra em vigor sempre que os juros básicos forem iguais ou menores do que 8,50% ao ano — o que, de fato, aconteceu em 31 de maio do ano passado.

E, apesar da forte captação da poupança, Carlos Massaro, vice-presidente da Anbima, afirma que não houve migração de recursos com origem em fundos de investimento. Segundo ele, a indústria manteve o mesmo ritmo de crescimento nos últimos três anos, mesmo após o corte da Taxa Selic.

— A indústria manteve o mesmo ritmo beneficiada pelo bônus demográfico, mais planejamento financeiro das empresa. E começamos agora a ver crescimento de produtos atrelados ao planejamento financeiro adequado, como a previdência — diz Massaro.

Fonte: O Globo

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