O que os roqueiros pensam da legalização da maconha

Reprodução/CompletelyblitsO que os roqueiros pensam da legalização da maconha

O que os roqueiros pensam da legalização da maconha

Neste sábado, 8 de junho, acontece em São Paulo mais um edição da Marcha da Maconha. O evento político que passou por 28 cidades do país desde o início de maio chega à capital paulista com presença anunciada de artistas, intelectuais e demais personalidades, acumulando mais de 10 mil pessoas confirmadas via Facebook.

Mas para além do engajamento digital, o movimento social e suas bandeiras de liberdade individual, fim do narcotráfico, despenalização do consumo e plantio, entre outras, em diversos momentos de sua história teve estreita relação com as artes, a música, até chegar ao rock nacional, onde desde os primórdios do ‘gênero’ costuma encontrar abrigo ainda que em forma de um simples ‘baseadinho’.

Para saber mais sobre essa relação do rock com a maconha, fomos até alguns roqueiros brazucas a fim de descobrir o que pensam sobre a descriminalização e legalização da erva no país. Leia abaixo:

Fê Lemos (Capital Inicial)

"As drogas deveriam ser legalizadas, já que a criminalização só trouxe toda essa violência, esse caos, corrupção, esse desespero que a gente vê na sociedade. Eu não vejo outra saída a não ser a gente acabar com a hipocrisia e olhar de frente para a questão. Existe um mercado consumidor e as pessoas dão um jeito. Do jeito que está, tá provado que não tem jeito de continuar".

Dinho Ouro Preto (Capital Inicial)

"Você tem uma guerra às drogas declarada pelos Estados Unidos há mais de 30 anos, gastou-se dezenas de bilhões com isso – na ‘Prison Song’, do System of a Down, fala exatamente quais são os números, são inacreditáveis. O fato é que a guerra já está perdida, vivemos uma situação parecida com a proibição do álcool nos EUA nos anos 20, onde a proibição acabou gerando a criminalidade.

Mas é curioso que no Brasil a discussão acaba se pautando se a maconha é mais nociva que o álcool, ou se o cigarro é pior que a cocaína, e na minha visão a discussão é outra. O problema é se o Estado tem ou não o direito de se meter na vida de um adulto. Eu sou adulto, e se não estou fazendo mal a ninguém, assaltando, matando, o Estado não tem nada a ver com o que faço. Aqui as pessoas consideram uma questão de saúde pública, mas é sobre o direito do Estado sobre a vida de um adulto que devemos falar. Então eu sou a favor da legalização de todas as drogas. E que o Estado as venda".

Chuck Hipólitho (Vespas Mandarinas)

"Acho que seria bom [a legalização], mas acho que ainda não estamos prontos, infelizmente. Acho importante trazer isso à discussão. É importante encarar drogas em geral, incluindo álcool e cigarro, como uma questão de saúde pública e não criminal quando se fala em usuários. Vejo o consumo de álcool no Brasil de uma maneira muito mais agressiva e prejudicial à sociedade do que o consumo de maconha, por exemplo. Mas maconha não é cocaína, e crack não é cigarro. Infelizmente vivemos em um país que remedia mais do que previne porque isso dá mais dinheiro ilegal e abre brechas para a corrupção – todos perdemos como isso, usuários ou não. Existe mais preconceito e interesses obscuros do que informação das partes que se recusam a discutir tudo isso.

A legalização da maconha aumentaria muito a qualidade do produto e tiraria toda a energia negativa necessária para que o produto venha parar nas mãos do consumidor, o que também é positivo. Latas e bitucas jogadas livremente nas ruas por quem consome álcool e cigarro revelam o tanto que o cidadão não aprendeu nem a se desfazer do lixo que produz. É preciso melhorar muitas coisas em cidadania, educação, saúde e justiça para que o caminho se abra e todas as pessoas possam ter condições de decidir o que fazer com suas vidas e quais as consequências – é preciso haver a liberdade, e também é preciso haver as consequências. Enquanto isso quem bebe e mata aqui no Brasil segue tranquilo".

Vivendo do Ócio

"Achamos que a cannabis deve ser legalizada. O Brasil é o único país que está dando um passo atrás adotando políticas proibicionistas onde de fato já foi comprovado pelos países europeus e norte-americanos que elas não funcionam. A proibição só fortalece o tráfico, superlotando o sistema carcerário brasileiro e alimentando a criminalidade. O Brasil deve se espelhar nos países europeus onde o usuário é tratado como problema de saúde publica e não como criminoso".

China (Del Rey, ex-Sheik Tosado, A Ilha do Rato)

"Sou a favor da legalização, mas não adianta nada legalizar a maconha se não temos uma boa educação no país. Não são todos os usuários que fazem bom uso da plantinha. É preciso se esclarecer várias coisas antes de legalizar".

Capilé (Sugar Kane e Water Rats)

"Eu acho que a legalização da maconha resolveria grade parte da violência gerada pelo combate às drogas. Em países onde seu consumo foi liberado houve diminuição no número de usuários, comprovando que a liberdade de escolha não vai gerar uma epidemia de viciados. Sem contar os inúmeros benefícios que podemos ter usando a maconha para outros fins, pois ela tem diversas utilidades. Nunca vi ninguém que fuma maconha cometer nenhum crime devido a seu uso como o álcool, por exemplo. Pra que proibir então? Há muita hipocrisia na nossa sociedade em relação às drogas, isso precisa mudar, não precisamos repetir os mesmos erros do passado.

A guerra contra as drogas só gerou mais violência e não resolveu nada, e o pior, colocou muito usuário na cadeia, simplesmente por fumar um baseado. Quer acabar com o tráfico? Simples, libera o cultivo individual, como rola na Argentina, Califórnia e em outros lugares. Eu mesmo quando morava na Califórnia tinha meu pé em casa, ia na farmácia especializada e comprava maconha legalmente, e não me tornei um marginal por isso".

Selvagens À Procura de Lei

Nós achamos que a legalização da maconha é um assunto a ser discutido com bastante profundidade, pois além dos tópicos de praxe que sempre são falados como o combate ao tráfico e, assim, uma diminuição da criminalidade associada à venda de maconha, outro fator bastante importante é o preconceito social. O primeiro passo para que a legalização da maconha seja discutida é fazer com que o maior número possível de pessoas saibam o que é a maconha. Enquanto a maior parte da população brasileira continuar associando o efeito da maconha à outras drogas como cocaína, êxtase, heroína, crack, etc, prova-se um total desconhecimento sobre o assunto.

Antes de qualquer sim ou não, é necessária uma pesquisa econômica, política e social sobre as mudanças que ocorreriam após a legalização. Legalizada de outra forma, a maconha pode se tornar arma nas mãos de grandes poderes, sustentando a desigualdade e a corrupção no Brasil. Antes da legalização, acreditamos que algo mais urgente é a descriminalização da maconha. Acreditamos que uma reeducação sobre o que é a maconha, tentar desmistificar o tabu, é o passo mais urgente.

Fonte: MTV

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