Maioria dos presos de São Paulo quer estudar, mas faltam cursos

Pesquisa indica que 86% da população carcerária tem interesse em aumentar conhecimentos dentro das cadeias, porém apenas 28% consegue.

ELZA FIÚZA/ ABRDos cinco CDPs analisados apenas um possuía estrutura física para as aulas

Dos cinco CDPs analisados apenas um possuía estrutura física para as aulas

Uma pesquisa da Ação Educativa aponta que 86% dos presos no estado de São Paulo gostariam de estudar nas unidades prisionais, mas a maioria não consegue por falta de cursos condizentes com escolaridade ou de vagas naqueles pelos quais os detentos se interessam. Com isso, apenas 28% frequentam algum curso nas prisões estaduais. Os demais não estudam ou pararam, sendo que 53% nunca estudaram.

Os cursos profissionalizantes estão no topo da preferência dos entrevistados (56%), seguidos pela combinação entre essa modalidade e a educação escolar tradicional (35%) e apenas as matérias escolares (9%).

“A combinação desses resultados demonstrou a reduzida oferta, no conjunto das unidades pesquisadas, de cursos técnicos ou outros inseridos no campo da educação não formal”, diz o texto.

A pesquisa ouviu 599 internos do sistema penitenciário em quatro Centros de Detenção Provisórios (CDPs), três penitenciárias masculinas e uma feminina, na capital paulista e no município de Guarulhos. Ao todo, o estado tem 158 unidades prisionais.

“A população é muito jovem e a expectativa tem de ser pensada como a dos jovens aqui de fora. O fato de eles estarem sentenciados não significa que perderam sua juventude”, afirma a coordenadora da pesquisa, Mariângela Graciano. “Para pensar o que seria adequado é necessário ter em mente que eles ainda não são adultos e que vão sair de lá e vão ter muito tempo pela frente.”

Apenas 18% dos entrevistados afirmaram que estudam para matar o tempo. A maioria (24%) disse gostar de aprender e 22% afirmaram que querem aumentar sua escolarização. Entre os entrevistados, 82% disseram gostar muito ou moderadamente de ler. Entre os principais interesses estão artes, literatura e geografia.

“As pessoas, em geral, manifestam muito interesse por cursos profissionalizantes, mas também querem elevar sua escolaridade, sem abrir mão da educação não formal, sobretudo do que diz respeito às áreas de arte, educação, esportes e direitos humanos”, afirma Mariângela. “A população é muito diversa: as pessoas têm escolaridade e expectativas muito diferentes; quem tem dois anos de detenção tem outro planejamento de quem vai ficar 20 anos.”

Em relação ao espaço físico, foram avaliadas quatro penitenciárias e cinco Centros de Detenção Provisória. “As quatro penitenciárias dispõem de espaço específico identificado como ‘escola’, com equipamentos e mobiliário adequados para as atividades de educação. Nos CDPs, apenas um encontrava-se nesta condição, sendo que três não possuíam equipamento escolar e uma unidade contava com salas improvisadas”, conclui o texto.

Até 2010, não havia a oferta de educação formal em presídios, sendo que ocorriam atividades esporádicas, ministradas por internos com maior escolaridade. Naquele ano, o Conselho Nacional de Educação e o Ministério da Educação homologaram as Diretrizes Nacionais para Educação em Prisões. Entre as determinações, ficou estabelecido que os programas deveriam ser vinculados à rede pública de ensino, sob responsabilidade das secretaria estaduais.

A partir daí, o governo de São Paulo instituiu, em 2011, o Programa de Educação nas Prisões, porém só em 2013 as ações ganharam força e passaram a ser orientadas por uma política de governo.

“Acima de tudo, é preciso que o que está sendo feito lá dentro em termos de educação ganhe visibilidade do lado de fora, porque a sociedade precisa entender que dentro daquelas unidades não estão monstros, estão pessoas, como nós, que tem anseios e desejos e que a educação formal e não formal é fundamental”, concluiu a pesquisadora.

Fonte: RBA

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