A solidão do cidadão de bem

Na estrada, em abundância, só a ausência: do bom senso e do poder público...

Vanessa Alencar
Vanessa Alencar

Domingo, 1º de janeiro, 18h. Retorno de Paripueira, no Litoral Norte do Estado com minha família. Na estrada, um congestionamento absurdo, mas, previsível e um sentimento de solidão na multidão.

Como em uma espécie de circo dos horrores, vimos todas as aberrações no trânsito: motoristas invadindo a contramão em curvas e o acostamento tomado por “espertos”. Nenhuma fiscalização. Nada. Na estrada, só a solidão do cidadão de bem, que ainda respeita as regras: de trânsito, de convivência, de civilidade…

Pensei: pena que os que praticam tais barbeiragens quase nunca se firam sozinhos. Na pista contrária, invadida despudoradamente, poderia vir, inocente e corretamente, o veículo de uma família de bem. Eles estariam sós. Entregues à própria sorte, como nós.

Assim como o congestionamento no retorno do litoral em um domingo de réveillon, também era previsível que houvesse – aos montes – motoristas alcoolizados e imprudentes na estrada. Ou não? Então, nada justifica não ter havido nenhum planejamento, nenhum plantão, nenhuma fiscalização, nenhum policial… Na estrada, em abundância, só a ausência: do bom senso e do poder público.

Mal concluí o pensamento, rezando para que uma desgraça não ocorresse – o que seria, também, previsível, a crônica de uma morte anunciada -, quando meus irmãos, que vinham com as esposas no carro pouco atrás de nós, telefonam: “Um motorista que vinha pelo acostamento bateu em nosso carro. Ele está embriagado e exaltado”.

Voltamos ao encontro deles e iniciamos, cada um de seu respectivo aparelho celular, inúmeras e infrutíferas tentativas de acionar a polícia, por meio do 190, ou a perícia. Consegui falar com o Corpo de Bombeiros (193). A atendente, gentil, explicou que passaria a ocorrência para a Polícia Militar, que não veio. Estávamos sós.

O motorista infrator foi embora no mesmo estado em que estava. Rezei novamente. Dessa vez, pedi para que ele não fizesse coisa pior mais adiante. Quantos deles haveria na estrada? Quem há de saber? Estávamos sós.

Na estrada escura, com quase toda a minha família dividida em dois carros, dei graças a Deus por ninguém ter se ferido fisicamente. O prejuízo foi apenas material e emocional. Éramos cidadãos de bem entregues à própria sorte.

No restante do caminho, procuramos, como miragem no deserto, uma barreira policial, uma blitz, a “cavalaria” ou até mesmo alguém nos postos policiais. Mas, não encontramos nada, nem ninguém. Estávamos sós. Nós e a consciência dolorosa e inacreditável do nosso abandono.

Fonte: *Jornalista

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