Thereza Collor ensina como garimpar joias no deserto

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Thereza Collor ensina como garimpar joias no deserto

A caixa de joias de Thereza Collor não é apenas uma coleção de peças bonitas e caras adquiridas por uma socialite durante suas viagens internacionais. São cerca de 2 mil itens, entre brincos, colares, braceletes e outros adornos produzidos cuidadosamente por povos de desertos do Oriente Médio, África e Ásia no século 19 e início do século 20. Entre as raridades encontradas pela historiadora estão um colar de âmbar de baleia cachalote da Tunísia e adornos tântricos feitos com osso de crânio de seres humanos do Tibete.

Quando se está em um deserto onde ninguém fala sua língua e os costumes constituem um verdadeiro desafio à coragem, especialmente tratando-se de mulheres, discernir o que é valioso e negociar é uma tarefa árdua. Ao longo de três décadas, Thereza Collor buscou em cinco regiões desérticas diferentes – Saara, Arábia, Ásia Central, Thar e Himalaia – construir um acervo etnográfico genuíno, no qual prezou principalmente a originalidade e o valor cultural das peças, além do aspecto estético.

“Em algumas regiões é muito difícil para a mulher, como no interior da Argélia. As instalações são precárias e o povo é muito fechado”, conta Thereza. “No Iêmen, por exemplo, as mulheres só podem deixar o olho de fora. Já na Ásia Central, onde houve domínio soviético, os países onde não se podia manifestar a fé deixaram de ser tão intolerantes”, completa. Além das joias, a exposição traz mais de 300 fotografias feitas por ela durante as viagens.

Muitas das peças adquiridas foram produzidas com metal reutilizado, pois a prata era derretida e negociada, segundo a historiadora. “Como os povos do deserto são nômades, eles carregavam as joias como uma espécie de poupança. O lóbulo de algumas mulheres chegava quase no ombro porque o metal era muito pesado. Quanto maior era a peça, maior era o status”, explica. As famílias mais nobres tinham inclusive seus próprios prateiros, que cravavam nas peças os símbolos da linhagem.

Alagoana que ficou conhecida durante o processo de impeachment de seu ex-cunhado Fernando Collor (hoje senador por Alagoas), Thereza Collor mantém o sobrenome de seu primeiro marido, Pedro Collor. Morto vítima de câncer em 1994, o irmão mais novo do ex-presidente fez as primeiras denúncias de corrupção contra o governo federal. Há mais de 10 anos casada com o empresário Gustavo Halbreich, Thereza Collor decidiu compartilhar sua coleção com o público na exposição “Joias do Deserto”, em cartaz no Centro Cultural Ruth Cardoso, na Fiesp (Av. Paulista, 1313), até o dia 10 de junho.

iG: Como identificar uma peça original?
Thereza Collor: Pelo preço não dá para saber. Eles podem colocar um preço, inventar uma história e vender caro. Há muita coisa falsa, outras que são misturadas, principalmente as peças menores. Uma vez uma amiga voltou de Marrocos e trouxe um bracelete. Eu logo vi que era uma engembração (cópia). Eu leio muito, vou a museus, a livrarias, a sebos das cidades. Tenho livros que estão em turco, chinês, russo, tibetano. Mas só de ver as imagens já vale. Tem muito livro em francês e em inglês também.

iG: Existem duas peças originais iguais?
Thereza Collor: Não. Meus filhos perguntam a mesma coisa! Eles chamam as peças de ‘os meus ferrinhos’… Mas eles não entendem que nenhuma peça é igual porque elas todas são feitas manualmente. Há diferença de tamanho, de uso. (Na exposição, Thereza fez questão de mostrar um bracelete com pequenos objetos pontiagudos e outro bracelete similar com furos. “Esses furos estão aí porque as pontas caíram. Elas se desgastaram com o uso. Tem peça que eu nem limpei, que é para manter a opacidade”, explicou)

iG: Como você se comunicava?
Thereza Collor: Eu sempre ia com um intérprete. Meu marido me acompanhou algumas vezes. Minha mãe (Solange Lyra, que mora na Espanha) também fez algumas viagens comigo.

iG: Onde se pode encontrar essas joias?
Thereza Collor: Em Istambul (Turquia) o centro é o Grand Bazar. Mas lá dentro têm diversas ruas especializadas. Umas em ouro, outras áreas são da época otomana. Lá dentro tem que procurar muito. No Cairo (Egito), tem o Khan el Khalili, dentro da Medina. Lá tem de tudo. Como existiam rotas de comércio, com muito intercâmbio, as peças viajaram muito. No Uzbequistão e no Iêmen são os mais autênticos, parece que você está na Idade Média. Mas lá está tendo sequestro…

iG: Quando é a melhor época para ir?
Thereza Collor: Na Arábia e na Índia, no deserto do Saara, a melhor época é o inverno. Já para a Ásia Central, o melhor é a meia estação, na primavera e no outono. No Tibete, é melhor ir no verão.

Fonte: IG

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