Pela sobrevivência da ‘humanidade’…

...Acredito que perder alguém de forma tão brutal não tem consolo, nem explicação racional. Nossa primeira reação é querer justiça, de uma forma ou de outra...

Inicialmente, minha solidariedade aos parentes e amigos do médico José Alfredo Vasco, assassinado covardemente no sábado passado, quando passeava de bicicleta em frente ao Corredor Vera Arruda, que era para ser um ponto de encontro e lazer na orla de Jatiúca. Acredito que perder alguém de forma tão brutal não tem consolo, nem explicação racional. Nossa primeira reação é querer justiça, de uma forma ou de outra, ou resolver a questão de forma ‘prática’: quem sabe ‘fuzilando’ todos os ladrões, assassinos e criminosos de Alagoas. Todos mesmo, caro leitor?

Estamos tão atordoados com a violência na nossa porta, mostrando sua face cruel sem véus e sem subterfúgios (no estacionamento do supermercado do bairro nobre, na orla da Jatiúca, à luz do dia e dos olhares de testemunhas atônitas) que, infelizmente, esquecemos que ela se trata da “conta” que, injustamente, pagamos – os culpados e os inocentes – por séculos de desmandos, roubos ao erário e falta de investimentos básicos.

Alguém pensou que tantos desmandos ficariam impunes eternamente? Se hoje Alagoas verte sangue, lamento que muitos dos causadores de tudo isso não estejam mais vivos para ver seus netos e bisnetos entregues à própria sorte. Começou no passado o nosso atraso nas áreas de educação, saúde, geração de emprego e renda e investimentos nas crianças e nos jovens.

Alagoas hoje é o touro que reage após ser sangrado quase até a morte por séculos de coronelismo, de politicagem e de gente que só pensou em si mesmo e na própria riqueza. Por trás de cada assassinato, seja do médico na Jatiúca, do mecânico – que também foi baleado ao tentar fugir de um assalto, na quinta-feira passada, no bairro da Colina, ou do usuário de drogas que devia ao traficante, há a mão invisível e sangrenta de muitos dos que nos antecederam.

Quisera eu que a maioria estivesse vivo, para ver o resultado de sua irresponsabilidade.

No auge da dor e da revolta, o caminho mais simples: apontar o dedo para o Estado e unicamente culpá-lo. É claro que o Estado tem culpa por não conseguir estancar a violência que está nos amedrontando e destruindo. É claro que é preciso investir em policiamento ostensivo, aumentando os números de policiais nas ruas e em uma polícia investigativa mais eficiente. Mas, julgar que é só dele – do Estado – a culpa é simplificar uma história de desigualdade ancestral, que caminha para terminar em um banho de sangue em plena orla da capital, para ‘fazer jus’ ao título de capital mais violenta do País.

Devemos ir às ruas, sim, não só pedindo paz, mas, educação, saúde, oportunidade para as crianças, antes que elas se tornem, também, assassinas e assassinadas. Talvez, agora, que a violência saiu das grotas e veio nos perturbar em nossas casas, nos locais que frequentamos e até no nosso trabalho, a gente possa brigar por mais igualdade.

Quanto aos bandidos que não mais serão recuperados, sugiro brigarmos por um Código Penal (a reforma está aí… Mas, quantos de nós sabe ou quer saber a quantas anda?) sério, que puna com rigor os crimes hediondos, que encarcere até perpetuamente (porque não?) os assassinos, estupradores, pedófilos e corruptos.

Vamos lutar por justiça com justiça. Pelo fim das regalias para crimes hediondos: como redução de pena, indultos natalinos, benefícios para réus primários etc. Se nós nos mobilizássemos como milhares se mobilizam na hora de votar no Big Brother Brasil (BBB) (são inacreditáveis milhões de votantes!!!), poderíamos exigir essas e outras mudanças, como a aplicação de penalidades mais duras para os crimes de trânsito.

Eu já fui assaltada. Hoje, contamos nos dedos quem nunca foi. Confesso que senti raiva, revolta e desejei que o assaltante tombasse baleado. Confesso também que, no lugar de um parente de uma vítima fatal de um criminoso, não sei qual seria a minha reação… Mas, é possível salvar o que ainda resta a ser salvo, em uma junção de forças envolvendo a federação, o estado, o município e a sociedade.

Podemos escolher entre ‘autorizar’ as autoridades policiais a empunhar as armas e dizimar todos criminosos (todos mesmo, caro leitor?? Lembrando, ainda, que outros surgirão…) ou usarmos das armas que possuímos: educação, capacidade de indignação e de cobrança, em benefício de um bem maior: a sobrevivência da ‘humanidade’, no sentido mais amplo da palavra.

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