Collor diz que falta de sustentação política o levaram à saída da Presidência

Vinte anos depois do processo que resultou em sua saída da Presidência da República, o hoje senador pelo PTB de Alagoas Fernando Collor de Mello disse que a falta de sustentação política no Congresso Nacional, ocasionada pelo que ele chamou de arrogância de sua parte, foi a grande causadora de seu afastamento. Collor concedeu entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, da Record News, e falou sobre a carreira política e sobre a participação na Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) do Cachoeira.

Na entrevista, que teve a primeira parte veiculada nesta segunda (28) no programa Entrevista Record, o ex-presidente lembrou que foi inocentado pela alta corte de Justiça de todas as acusações feitas à época e questiona se não teria direito a ter seu mandato novamente. Ele falou ainda da participação de Paulo César Farias em suas eleições e dos erros cometidos durante sua passagem pela Presidência.

Questionado pelo jornalista sobre o que teria o ‘derrubado’ da cadeira de presidente, Collor falou em falta de sustentabilidade. “O que na realidade causou a minha saída da presidência, da forma como se deu, foi a falta de sustentação política no Congresso Nacional”, disse. O senador destacou que da forma como chegou ao Palácio do Planalto – sendo eleito o presidente mais jovem (na época com 40 anos de idade), o primeiro através do voto direto, oriundo de um pequeno estado do Nordeste, entre outras coisas – o levou a um sentimento de superioridade e a não dar a devida atenção ao Poder Legislativo.

“Meu erro foi achar que o Poder Legislativo, da forma como fui eleito, não tinha mais nada a fazer a não ser dizer muito bem, nós estamos aqui à sua disposição diante do programa de governo”, destacou. “Foi sedimentando em mim algo nocivo para qualquer político, que é arrogância, mas, sobretudo, um certo sentimento de superioridade em relação aos seus semelhantes… o que é um erro terrível, que me penitencio sempre”, comentou.

Entre os erros apontados por ele na época em que era presidente, Fernando Collor lembrou de um pronunciamento durante uma solenidade no Palácio, onde convocou a população para ir às ruas pela democracia. “Quando terminou a cerimônia e os taxistas começaram a gritar ‘fala Collor’, eu me senti estimulado a falar, voltei e falei. Foi quando eu pedi, foi um erro de avaliação meu, que no domingo seguinte todos saíssem às ruas vestidos das nossas cores para mostrar que a democracia no Brasil era mais forte do que qualquer tentativa de golpe… e minha solicitação não foi atendida, ao contrário, a manifestação foi todos vestidos de preto. Então esse meu erro, junto com a capa da revista Isto É, isso sim, foram esses aqueles emuladores que realmente deram afastamento da presidência”.

O ex-presidente fez questão de lembrar que foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele questionou ainda se não teria direito a ter de volta seu mandato com a decretação de sua inocência. “Foram dois anos de investigação de toda a minha vida. Depois da investigação e da pressão enorme, o STF me inocentou de todas as acusações que me foram feitas. Se eu perdi meu mandato com base na suposição de que as denúncias que me faziam eram verdadeiras, onde está o mandato que eu perdi quando a mais alta corte de Justiça do país decidiu que aquelas acusações eram falsas? Eu não deveria ter de volta o meu mandato? É uma pergunta a ser respondida…”, questionou.

O senador destacou também a participação do empresário Paulo César Farias em sua trajetória política. Para ele, PC foi de extrema importância para sua eleição. PC Farias foi tesoureiro de campanha de Fernando Collor e a personalidade chave que causou o processo de impeachment, em 1992. Perguntado se o empresário teria saído do controle, Collor disse acreditar que a notoriedade lhe ‘subiu à cabeça’.

“Eu quero dizer que sem o Paulo César Farias não haveria campanha presidencial. O Paulo César, diferentemente do que ‘pintam’ dele, era uma pessoa extremamente cordata, correta, amiga… Mas, fundamentalmente, ele foi a pessoa importante e decisiva para que a eleição fosse possível e os erros que eventualmente ele tenha cometido, foram erros levados, eu não tenho dúvida, pelo que a notoriedade lhe trouxe de entendimento… ‘e subiu à cabeça’”, declarou.

A segunda parte da entrevista será exibida na próxima segunda, dia 4. Segundo o jornalista, o ex-presidente falará mais sobre a queda da Presidência e o que não faria de novo, falará do ex-presidente Lula, da presidente Dilma e de como gostaria de entrar para a história.

Cachoeira

O senador Fernando Collor falou ainda sobre investigações da organização criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira. Para ele, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, cometeu crime ao não investigar o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

“A resposta por escrito dele [Gurgel] é um testemunho escrito e assinado, que ele oferece à sociedade, demonstrando que ele prevaricou ou que no mínimo cometeu improbidade administrativa”, disse.

“Ele pode tentar elucubrar, mas está muito claro que ele prevaricou, porque o procurador-geral quando recebe o inquérito – da 11ª Vara da Justiça Federal de Goiânia, porque havia uma pessoa com prerrogativa de foro, no caso, o senador Demóstenes -, ele deveria pedir o arquivamento ou ao STF a quebra dos sigilos ou devolver o inquérito ao juiz solicitando quais as informações precisavam. Mas não tomou nenhuma atitude. Ele cometeu no mínimo improbidade, podendo chegar à prevaricação”, completou.

Quando questionado sobre a declaração de Gurgel de que aqueles que o atacavam temiam o julgamento do mensalão, Collor disse “essa carapuça não me cabe”.

Collor defende ainda a convocação do jornalista Policarpo Junior e do dono da revista Veja, Roberto Civita, para prestarem contas à CPMI.

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