Luz vermelha pode ser alternativ​a para cura de câncer de pele

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Bastam duas sessões de 20 minutos para renovar a esperança de um paciente diagnosticado com câncer de pele. Pesquisadores do Instituto de Física (IF) da Universidade Federal de Alagoas, em parceria com médicos dermatologistas do Hospital Universitário (HU), trabalham no projeto Terapia Fotodinâmica – Brasil, que utiliza luz para tratar lesões do tipo Carcinoma Basocelular (CBC).

Os pacientes passam por uma triagem que vai sugerir o tratamento no HU, após biopsia que indica uma lesão nodular ou superficial de até 2 cm de diâmetro. De acordo com a professora Maria Tereza de Araújo, os tratamentos à base de luz já são bastante utilizados na área da estética, para amenizar rugas e linhas de expressão, acne, estrias, entre outras disfunções, mas o procedimento realizado no projeto usa as luzes violeta e vermelha para diagnosticar e eliminar células cancerosas.

O aposentado Geraldo dos Anjos, de 70 anos, está no perfil da pesquisa com um câncer de pele na região da boca. Ele conta que desde os 40 anos de idade, começou a aparecer os nódulos pelo corpo e sempre foram tratados na sala de cirurgia. Dessa vez, ficou animado com a alternativa. “Eu já estava pronto para fazer outra cirurgia quando soube do tratamento no HU e achei melhor, porque não vou precisar ser mutilado de novo”, diz, esperançoso.

A Ufal é o único centro associado em Alagoas, entre os cem espalhados pelo País e um dos poucos do Nordeste. O projeto nacional, coordenado pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato, do Instituto de Física da USP de São Carlos e financiado pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), concedeu o equipamento e a droga para realizar os procedimentos com tecnologia e fabricação totalmente brasileiras. Em contrapartida, o Ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário cedeu o espaço e os médicos que se voluntariaram para participar do estudo.

“Do ponto de vista de eficácia é um tratamento interessante, com suas limitações e especificações. A gente quer buscar para o nosso serviço pacientes com lesões precoces, lesões iniciais de câncer de pele de modo que possa ser tratada logo no começo para evitar que evolua para uma lesão maior e precise de cirurgia, ou um tratamento mais oneroso”, comenta o dermatologista Everson Leite.

Desde janeiro deste ano, os pesquisadores começaram a realizar a triagem dos pacientes que serão submetidos às sessões de Terapia Fotodinâmica para cura do câncer de pele. A previsão é tratar cerca de 80 pessoas encaminhadas ao HU, em Maceió, até janeiro de 2013. No Brasil, o projeto vai beneficiar oito mil pacientes com diagnóstico e tratamento gratuitos.

Procedimento
O câncer é facilmente identificado no procedimento realizado no ambulatório. A professora Tereza explica que o primeiro passo é aplicar, na região da lesão, uma pomada à base do ácido Metil (ALA), que é um precursor do fotossensibilizador endógeno, já existente no organismo, no caso, uma substância chamada protoporfirina IX.

Três horas depois, o paciente retorna para iniciar a sessão com incidência da luz violeta em 405 nanômetros (nm) direta na lesão, que vai fornecer o diagnóstico por fluorescência óptica. “Onde tem fluorescência verde, são células normais, tecido sadio. E onde tem fluorescência vermelha significa que há a protoporfirina IX naquele local, ou seja, tem células cancerosas. Isso acontece porque essas células têm um metabolismo maior, então elas retêm muito mais a medicação do que as células normais”, explica.

Ainda na primeira sessão, feito o diagnóstico, retira-se a luz violeta e entra em cena a luz vermelha em 630 nanômetros (nm), para tratar o carcinoma. A pesquisa mostra que as protoporfirinas vão absorver a luz vermelha e gerar um oxigênio altamente reativo que vai matar, assim, as células cancerosas. Após 20 minutos, todo o processo da primeira etapa é repetido, a fim de fazer outro diagnóstico com a luz violeta. Se não houver fluorescência vermelha, significa que a protoporfirina foi consumida e o tratamento teve a eficácia desejada.

Como faz parte do protocolo do projeto, para que haja embasamento científico a partir de resultados mais precisos, sete dias depois uma segunda sessão de terapia fotodinâmica é oferecida aos pacientes, mesmo que na primeira vez tenha surtido efeito. A biópsia que confirma, ou não, a cura do câncer, é realizada após 30 dias.

Escolha certa
A terapia fotodinâmica é uma técnica alternativa. A idade do paciente muitas vezes é fator preponderante para inviabilizar um procedimento cirúrgico, então a única opção é a fototerapia. “Não tem efeito colateral, o paciente vai para casa no mesmo dia, só não pode se expor ao sol nem a vapores como os de banho muito quente. Mas não tem contraindicação, poderia fazer várias vezes e em várias lesões ao mesmo tempo. Para que as luzes não incidam diretamente nos olhos dos pacientes, fornecemos óculos especiais que bloqueiam essas luzes”, destaca a pesquisadora Maria Tereza de Araujo.

Como a base do tratamento é a luz em contato com a pele, não oferece riscos para os casos de lesões localizadas em cima de vasos sanguíneos, que seriam difíceis para uma intervenção cirúrgica. Há ainda o fator estético, já que na maioria das vezes não fica cicatriz, ao contrário de cirurgia, quando se retira tecido com uma margem maior do que a lesão e, muitas vezes, é preciso fazer enxerto de outras partes do corpo.

“Pode ficar hipocromático ou hipercromático, com a tonalidade um pouco mais abaixo ou acima do tom da pele, mas isso não acontece com todos, depende da interação da radiação luminosa com o tecido tratado e da sensibilidade da pele”, esclarece.

Resultados
A equipe envolvida no projeto está otimista. “Todos os dias os números mudam, porque de acordo com o avanço da pesquisa e os resultados das biopsias, há um termômetro que pode variar e chegar a todos os pacientes curados, mas há semanas em que um ou dois não se curam completamente e isso influencia no percentual de eficácia. Mas a expectativa da equipe é conseguir 90% a 96% de cura”, comenta o Dr. Everson Leite.

O médico explica que mesmo os tratamentos cirúrgicos têm índices de insucesso, porque algumas vezes a lesão pode não ser retirada completamente. Além do ganho científico, a expectativa é atingir resultados positivos para instituir, definitivamente, esse tipo de tratamento para o serviço público, beneficiando os pacientes atendidos pelo SUS.

A terapia fotodinâmica já é oferecida em algumas instituições particulares, mas boa parte da população não tem acesso ao serviço, devido ao alto custo por utilizar medicação e equipamentos estrangeiros. A grande motivação para realizar a pesquisa em pacientes da rede pública é porque houve o barateamento dos procedimentos, já que o insumo para a pomada e o equipamento de diagnóstico e tratamento, usados no projeto, são fabricados no Brasil.

Equipe da pesquisa

Não existe fomento financeiro para pesquisadores e médicos, apenas para o equipamento e a droga, que o Instituto de Física da Ufal já recebe prontos. Todos que trabalham nesse projeto são voluntários.

A equipe de físicos é formada pela pesquisadora Maria Tereza de Araujo, o doutorando Francisco de Assis Martins Gomes Rego Filho e a aluna de graduação Isadora Barros Souto. Já a equipe médica é composta pelos dermatologistas Everson José dos Santos Leite, Maria do Socorro Ventura Silva Lins, Kathia Monielly Tenório Nunes, e Raquel Patriota Cota Bastos; além da técnica em enfermagem Elma Zechinatto. Todos do Hospital Universitário.

Fonte: Manuella Soares/Ascom Ufal

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