Senado deve confirmar hoje cassação de Demóstenes Torres

Rose Brasil/ABRO senador Demóstenes Torres em 2003, seu primeiro ano no Senado, apresenta relatório sobre o Estatuto do Idoso

O senador Demóstenes Torres em 2003, seu primeiro ano no Senado, apresenta relatório sobre o Estatuto do Idoso

Corria o ano de 2005, o mais politicamente turbulento dos oito com Lula como presidente da República. Expoente da oposição, o senador Demóstenes Torres subia à tribuna dia sim, outro também, para debulhar metáforas de arquibancada contra o governo federal. Linchava adversários, sugeria sermões aos chefes do Palácio do Planalto. Garantia com frequência de artilheiro o gol no horário nobre da TV.

Foi já em 2003, no entanto, no início do primeiro de seus mandatos, que o senador goiano deu o indicativo, em um dos infindáveis discursos anti-Lula, do que nove anos depois seria aplicado diretamente a ele. Sacou do jornalista americano Henry Louis Mencken a máxima que, pode-se dizer, ilustrou sua trajetória como pseudo-paladino da ética no parlamento: “as multidões, bem trabalhadas por um esperto demagogo, acreditam em qualquer coisa”.

Depois que, flagrado em grampos policiais demonstrando intimidade com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, perdeu a aura da probidade, Demóstenes Torres cambaleia pelos corredores do Congresso. Foi escanteado por aliados, se diz ignorado por amigos. Dentro de poucas horas deve ser apeado do mandato a ele conferido em 2010 por mais de dois milhões de eleitores.

O político que ostentava uma eterna temporada de caça contra cada malfeito dos governos Lula e Dilma não deverá ter hoje, mesmo sob o corporativismo do voto secreto, como evitar que pelo menos 41 de seus pares o destituam do cargo. O destino político do apedrejador-mor dos governos petistas terá seu rito final a partir das 10h.

A partir de discursos do petista Humberto Costa, relator do processo no Conselho de Ética, do senador Pedro Taques, responsável pelo relatório na Comissão de Constituição e Justiça, e do senador Randolfe Rodrigues, representante do PSOL, partido que pediu a abertura de processo contra o goiano, os demais parlamentares terão direito à palavra para, em plenário, exorcizar o senador que lhes apontou o dedo a cada deslize ou denúncia de irregularidade. Demóstenes terá pouco mais de 20 minutos para seus apelos finais contra a cassação.

Às vésperas do julgamento que deve lhe custar o mandato, o senador, já sem argumentos que lhe deem sobrevida, apelou para um último suspiro: a mentira de um político não poderia ser classificada como quebra de decoro. “Se o parlamentar mentir, é um problema dele com sua consciência e sua audiência, não com o decoro”, ensaiou.

Se cassado, como todos esperam, Demóstenes só estará autorizado a voltar a um cargo eletivo a partir de 1º de janeiro de 2027, oito anos depois do término do mandato conquistado nas urnas. Sem assento como parlamentar, abre espaço para o empresário Wilder Pedro de Morais, ex-marido de Andressa Mendonça, atual mulher de Cachoeira.

Antes do destino final do político, o site de VEJA selecionou frases que Demóstenes Torres disse em plenário desde o primeiro discurso feito da tribuna, em 18 de fevereiro de 2003:

"Esse pessoal age com falta total de escrúpulo e tem um senso de rapinagem que faz corar de vergonha bandidos da qualidade de um Fernando Beira-Mar." (Em junho de 2004 sobre PT e máfia dos sanguessugas.)

"Eu tinha plena convicção de que o PT era incompetente e não possuía quadros à altura do Brasil." (Em junho de 2005, imediatamente após o então deputado Roberto Jefferson denunciar o esquema do mensalão.)

"O meu mandato não está a serviço das manobras enganadoras. As investigações precisam provocar gestos efetivos ou todos nós, os políticos, vamos ter de guardar na manga do paletó a tarja do descrédito." (Em agosto de 2005 sobre corrupção no governo Lula.)

"O PT fez de tudo em matéria de corrupção. O PT ruiu, perdeu a estrela, desceu ao limbo, roubou o país." (Em outubro de 2005 sobre atuação do PT.)

"Estou convencido de que Lula é caso não só para impeachment como para interdição civil." (Em dezembro de 2005 também após mensalão.)

"Foram os políticos que atolaram o Brasil. Serão os políticos que vão retirar o Brasil desse mar de lama em que se encontra." (Em agosto de 2006 sobre o escândalo dos sanguessugas.)

"O PT é um grande fiasco. É o grande perdedor por imaginar que elegeria até poste e não conseguiu, até porque muitos dos seus candidatos são piores que os postes, pois há postes com alguma luz." (Em outubro de 2008 sobre o desempenho do PT nas eleições municipais.)

"Cada qual pague pelo seu erro, cada qual pague pelo crime cometido, cada qual pague pela improbidade. Não podemos decepcionar aqueles que votaram em nós." (Em agosto de 2009 ao defender o afastamento do presidente do Senado, José Sarney, envolvido no escândalo dos atos secretos.)

"Se houvesse um prêmio Nobel da desfaçatez, seria o caso de o governo entrar na lista por fingir que combate os ladrões escolhendo qual corrupto enfrentar. O PT prefere enlamear sua estrela a combater quem lhe empalidece o brilho." (Em novembro de 2011 sobre as denúncias de desvio de recursos do governador do DF, Agnelo Queiroz, quando ele era ministro do Esporte.)

Fonte: Veja

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