O circo de Soleil de Anadia

A magia do espetáculo que inebria, fascina – fenômeno extraordinário cheio de magnetismo e encanto. A mágica torna possível o que é contrario as leis da natureza.
É muito bom ver o circo!
Recordar ainda é mais gostoso. A gente lá em Anadia tinha um jeito de conseguir ir ao circo – era acompanhar o palhaço da perna de pau e gritar pelas ruas: “O raio, o sol suspende a lua. Olha o palhaço no meio da rua”. Após esse momento mágico, ganhávamos uma inscrição em um dos braços que era a garantia da entrada livre no espetáculo.
Maravilhoso é lembrar que a gente era criança e tudo parecia mágico, a luz, a cor, o movimento. É que a magia gira em torno do ser humano com toda sua força de vontade para alcançar os objetivos.
O circo é como ressurgir da nossa criança interior que fica surpreendida com a coisa simples e pura… O culto ao belo e ao mágico.
Hoje todo mundo quer ser celebrado, ser reconhecido na rua, viver sob a luz dos flashes e holofotes, dar autografo, ler matérias e opiniões sobre si mesmo.
O que vou contar não segue essa linha, pelo contrário, o espetáculo que vi e os astros que conheci são de uma magnitude, leveza e simplicidade que só nossa terra produz.
O circo chegou à Anadia, nos deixou fascinado. Alojou-se vizinho a casa do seu Isaque, em frente ao teatro Olímpia Aragão e ao lado do hotel do seu Né. No Google do passado, com uma empanada branquinha, curiosos e abismados começávamos a conhecer a sua trupe.
Um casal – jovens filhos do dono do circo -, chamava a atenção de todos; eram bonitos, loiros, altos e entre as apresentações que faziam estava a do lago dos cisnes – o balé; algo nunca por nós visto, fantástico.
Entre as travessuras dos palhaços, a habilidade dos trapezistas e malabaristas, a frenética dança das rumbeiras, um drama nos comovia: “A louca do Jardim”. Repetidas vezes chorei ao assistir, mas faz parte do espetáculo, a emoção.
E neste cenário foi que ouvi pela vez primeira “melodia sentimental” que na canção diz: “Acorda, vem ver a lua, que dorme na mata escura, que surgi tão bela e branca, derramando doçura, clara chama silente ardendo meu sonhar, As asas da noite que surgem, e correm o espaço profundo. Oh, doce amada, desperta, vem dar teu calor ao luar”.
Posso afirmar que é uma pérola rara para ouvir e sonhar, no canto da alma onde tudo é real e possível.
Mas uma tragédia ocorreu, entre um espetáculo e a madrugada. Um terrível incêndio queimou todo circo, uma tristeza que abateu a companhia circense e toda cidade. Atônitos, sem saber o que fazer, estávamos todos sem sua casa de magia.
Longos seis meses se passaram, até que após sucessivas campanhas encabeçadas por nossos munícipes, a companhia de circo conseguiu recuperar sua empanada e coberta.
Triste foi ver sua partida, algo só comparado à destruição do teatro Olímpia Aragão – palco de tão belas festas e eventos; desde os recitais de Olímpia Aragão, as peças e dramas produzidos por seu Helvécio Afonso de Melo.
Um capítulo a parte deste escrito, Helvécio Afonso veio de Pernambuco para Anadia implantar o sistema quatro “S”, e aqui desempenhou com brilhantismo sua missão. Em uma época onde carecíamos muito de tudo, ele nos ensinou com técnica, artes e habilidade.
Com uma família linda, parecendo que tinham saído das telas do cinema, sua esposa dona Nélia Freire de Melo, os filhos Geórgia, Gianine, Helvécio Filho, Ubaldo, Maria de Lourdes, Saulo e Romero. E como em uma cena de novela vi a sua mudança de volta pra Pernambuco, um momento de tristeza para todos nós.
Levou com ele, além de seus ensinamentos, meus amigos de infância e a Lourdinha – Que sonhei em ter como minha primeira namorada.
O teatro não mais prosperou e acabou. O casario colonial da Anadia da nossa infância foi praticamente dizimado, a magia do circo evaporou. Claro que não foi a partida do Helvécio Afonso tão somente, mas também a não atuação dos que tiveram em suas mãos os destinos da nossa terra e não souberam transforma-la em um grande espetáculo.
Restaram-nos os sonhos, desejo de reerguer e reeditar cantos, serenatas, poesias, escritos, folguedos e o teatro.
Ainda não tive a oportunidade de assistir o espetáculo do circo de Soleil. Sei do fantástico espetáculo que apresenta, do imensurável projeto cultural e social que se espalha pelo mundo, arregimentando artistas, abrilhantado o mundo, realizando sonhos, fantasias, mantendo viva a arte e a cultura.
Não há como fazer um comparativo entre o circo que vi em Anadia e o que encanta o mundo na atualidade, mas mesmo assim insisto em dizer que o efeito é o mesmo na minha alma e no meu coração. Sei que não estou só, tenho a companhia de amigos de infância e conterrâneos e uma enorme vontade de gritarmos juntos:
“O raio, o sol suspende a lua, Olha o palhaço no meio da rua”.

(*) Ex-secretário de Estado e filho de Anadia

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