Com recebimento de pouco recursos, Cervi ameaça fechar às portas

Sua missa já está descrita no nome: servir! Esse é o maior compromisso do Centro de Reabilitação Visual – CERVI- uma associação sem fins lucrativos criada há dois anos com o objetivo de cuidar de pessoas com deficiência visual. Entretanto, a entidade enfrenta o risco iminente de fechar suas portas. Sendo mantida apenas pelos baixos recursos de produção da tabela sus e apoio dos médicos e voluntários. O centro enfrenta dificuldades e pode ter suas atividades interrompidas, deixando assim, centenas de pacientes sem o tratamento da habilitação e da reabilitação visual.

Quando foi fundado, o CERVI já começou grande. Além de oferecer consultas oftalmológicas para pessoas com baixa visão ou cegas, com o crescimento da demanda a passos largos, depois da sua criação em março de 2010, em apenas um mês, percebeu-se necessidade de agregar ao Centro outras especialidades que, na mesma proporção, pudessem ajudar na melhoria da qualidade visual dos pacientes.

Foi assim que a instituição montou sua equipe multidisciplinar com profissionais habilitados nas áreas de serviço social, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, pedagogia e orientação e mobilidade, garantindo uma melhor reabilitação visual às pessoas com cegueira parcial ou total.

Entretanto, desde meados deste ano, o único centro de reabilitação visual de Alagoas vem tendo seu trabalho ameaçado. Com a ampliação dos serviços ofertados e tendo sido obrigado a aumentar as despesas com a sua folha de pagamento, o CERVI não está conseguindo mais se manter apenas com os valores pagos por procedimento do sus. Apesar dos centenas de atendimentos realizados, pelos oftalmologistas especializados em visão subnormal (aquela em que o paciente apresenta 20% ou menos do que chamamos de ‘visão normal’), além dos demais profissionais que atuam na entidade, o Ministério da Saúde tem repassado a quantia de R$ 24,00 por cada avaliação multidisciplinar e paga, por cada órtese (óculos para albinos, lupas, bengalas etc), valores que representam apenas ¼ daquele necessário para a aquisição dos produtos.

"Idealizamos o CERVI e temos muito carinho pelo trabalho humanizado que realizamos com o deficiente visual. Não possuímos quaisquer vínculos políticos com nenhuma autoridade constituída e nos mantemos apenas com os recursos deficientes da produção SUS e, claro, com a ajuda dos médicos e voluntários. Mas, como desenvolver esse trabalho exige de nós grande investimento, está sendo muito difícil manter a prestação dos serviços na atual situação. Lamentavelmente, nosso temor é pelo fechamento do Centro”, lamentou a médica de visão subnormal da entidade, Maria Maeve Born.

A oftalmologista também afirmou que a direção do CERVI não foi informada sobre a formação da rede de atenção ao deficiente visual no Estado. "A rede está sendo organizada e, apesar de sermos o único centro de reabilitação visual habilitado pelo Ministério da Saúde para atuar na área, não tivemos conhecimento sobre os novos procedimentos. Isso também tem sido uma dificuldade para nós. E, manter o Centro funcionando sem parcerias com os municípios e com o Estado, é mais um grande obstáculo. O que posso garantir é que o nosso trabalho é árduo, diário e que, é justamente por isso, que conseguimos o respeito dos pacientes e dos seus familiares e da maioria das instituições públicas”, acrescentou a especialista.

Para Roberto Freire, presidente do Conselho de Atenção à Pessoa com Deficiência do Estado de Alagoas e presidente da Associação de Cegos de Alagoas (Acal), o fechamento do CERVI vai deixar sem tratamento uma grande quantidade de pessoas de baixa renda que, atualmente, não possui condições de pagar pelos serviços multidisciplinares: “Pedimos a sensibilidade das autoridades para que elas se pronunciem a respeito do assunto. Uma entidade como o CERVI não pode acabar. A vida de muita gente mudou depois de começar o tratamento lá dentro. São pessoas que perderam o medo de trabalhar, de se locomover, que conquistaram auto-confiança para levar uma vida normal e tudo isso é muito importante”, afirmou ele.

Os serviços ofertados

Após conseguir ampliar sua equipe, que ocorreu com apenas alguns meses de instituição criada, o CERVI aumentou também o leque de benefícios que passou a ajudar, ainda mais, à população. São consultas e exames em oftalmologias básica e especializada, estimulação visual por meio do trabalho com a fisioterapeuta, acompanhamento com assistente social e psicóloga, atividade de vida diária com terapeuta ocupacional, adaptação de recurso (lupas e bengalas, por exemplo) e contra-turno com a pedagoga e treino de orientação e mobilidade com técnica especializada.

Tudo isso sendo oferecido num imóvel que foi adaptado às necessidades dos pacientes com algum problema visual. O prédio foi dividido em salas para abrigar os consultórios médicos e os espaços destinados ao tratamento de reabilitação. Um dos cômodos funciona como uma casa e, nele, o paciente aprende, dentre outras coisas, como andar enfrentando os obstáculos como mesas e sofás e como usar a geladeira e o fogão.
Atualmente são 330 pacientes atendidos pelo CERVI. E, só neste ano de 2012, o Centro realizou 406 consultas médicas para pacientes de baixa visão; 590 atendimentos psicológicos para 114 deficientes; 74 pessoas tiveram acesso a 533 atividades da terapia ocupacional; a área de pedagogia promoveu 1.011 ações com 195 crianças e adolescentes; 77 pacientes receberam atenção da fisioterapeuta; outros 92 foram consultados pela assistente social e 80 deficientes visuais foram treinados pela técnica em orientação e mobilidade.

Os grupos

O CERVI já funciona como uma segunda casa para os seus pacientes. Além de promover a interação entre as pessoas assistidas, o Centro montou equipes de auto-ajuda, a exemplo do Grupo de Mulheres e do Grupo de Poesia, para melhorar ainda mais a relação entre pacientes, familiares e a sociedade como um todo.

“Eles trocam ideias, experiências, incentivam uns aos outros e, o mais importante, cada um se torna mais independente e acaba resgatando a sua auto-estima”, explicou Ana Paula Vasconcelos, psicóloga do Centro.

E os grupos já fazem atividades que vão além das paredes dos consultórios. Numa delas, os pacientes tiveram um dia de lazer no Sesc/Guaxuma e visitaram o balneário Águas de São Bento, na cidade de Boca da Mata. “Nesses locais, eles tiveram contato com a natureza, desenvolveram os sentidos da audição, olfato e tato e aprimoraram, ainda mais, noções de tamanho e espaço”, acrescentou a psicológica.
Habilitação pelo MS
E o CERVI conquistou reconhecimento nacional pelo trabalho que desenvolve. Em agosto do ano passado, ele se tornou o 1º centro de reabilitação visual do Nordeste habilitado pelo Ministério da Saúde para cuidar, legalmente, de pacientes com baixa visão e deficiência visual. Todo o tratamento, desde então, passou a ser financiado pelo SUS – Sistema Único de Saúde. Esse credenciamento permite que qualquer pessoa com problemas oculares possa receber consultas, fazer exames, cirurgias e a reabilitação da visão sem qualquer custo pessoal.
A habilitação era um sonho antigo da equipe do CERVI e todos aguardavam por ela há mais de um ano. Desde que a entidade foi criada, sua administração começou a enquadrar o Centro dentro das exigências estabelecidas pela portaria nº 3128/08 do Ministério da Saúde. “Cumprimos todas as etapas exigidas por lei, a exemplo da infraestrutura do prédio, a capacitação da equipe multidisciplinar e os equipamentos necessários para a prestação do serviço. Faltava apenas o credenciamento e ele chegou para o bem daquelas pessoas que precisam desse tipo de assistência. Todavia, permanecer com os atendimentos tendo apenas como fonte de renda o valor pago por procedimento, não está sendo mais possível, infelizmente”, explicou Paola Reys, coordenadora de atendimento do CERVI.
Com o credenciamento, o Cervi passou a oferecer o tratamento completo para os pacientes que sofrem com problemas visuais, desde a primeira consulta, passando pelos exames e cirurgias, até o período pós-operatório, com o acompanhamento da equipe multidisciplinar no tratamento das doenças. Porém o tão necessário e esperados auxílios ópticos não podem ser adquiridos sem o apoio dos gestores da saúde.
O CERVI funciona de segunda a sexta-feira, das 08h às 18h, e está localizado na Rua Albino Magalhães, nº 135, no bairro do Farol.

Fonte: Assessoria

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