Jovem é internada com corpo perfurado

Em dezembro do ano passado, na Bahia, a história de um garoto de dois anos que teve introduzidas no corpo mais de 50 agulhas durante rituais de magia negra chocou o Brasil (leia Memória). No Distrito Federal, a Polícia Civil pode estar diante de um caso semelhante.

Uma jovem de 21 anos está internada, desde o último dia 27 de janeiro, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), com diversos objetos pelo corpo, que sugerem ser agulhas, grampos e alfinetes. As investigações estão a cargo da 12ª DP (Taguatinga Centro) e a mãe da paciente é a principal suspeita.

"Em depoimento, a mãe mostrou-se indiferente e nem um pouco surpresa com a descoberta de que a filha tem objetos no corpo", diz a delegada Vera Lúcia da Silva.

A vítima, Nildna Pereira dos Santos, divide um lote na QMN 38 de Taguatinga, com 24 pessoas, mas nenhuma delas soube explicar se ela foi vítima de maus-tratos ou se a jovem, que possui distúrbios mentais, se automutilou. De acordo com a Assessoria de Comunicação do HRT, os objetos estavam localizados nos braços e nas pernas da garota, mas nenhum deles chegou a perfurar qualquer órgão vital.

Os médicos informaram também que ela havia apresentado melhora, mas permanece no hospital em virtude de uma infecção generalizada. A radiografia que revelou o quadro somente foi realizada depois que a equipe médica levantou a hipótese de que ela poderia ser vítima de maus-tratos.

Os exames foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML), mas o laudo só deve sair em 30 dias. Somente com o resultado será possível constatar se Nildna era vítima de agressões, e também qual é o grau de sua deficiência. Por enquanto, sabe-se apenas que ela apresenta deficit cognitivo e auditivo e que chegou ao hospital com sinais de desnutrição. Nesses três meses de internação, Nildna engordou quase 10kg e a mãe Valdetina Pereira dos Santos, 47 anos, visitou a menina poucas vezes.

Maus-tratos

De acordo com a delegada-chefe da 12ªDP (Taguatinga), Vera Lúcia da Silva, alguns indícios levam a crer que Valdetina esteja envolvida no caso. “Por todo o corpo da Nildna há cicatrizes e marcas de maus tratos. Em depoimento, a mãe mostrou-se indiferente e nem um pouco surpresa com a descoberta de que a filha têm objetos no corpo”, explica.

Um laudo do Hospital de Taguatinga reforça as suspeitas da delegada. Nele, consta que Nildna, além de apresentar várias marcas de agressões pelo corpo, demonstra medo e se recusa a falar sobre o assunto. Além disso, foi revelado que a suspeita é alcoólatra e que, das poucas vezes que teria visitado a filha no hospital, estava sempre embrigada. Entretanto, para a delegada, ainda é cedo para apontar culpados, se é que existe algum. “Ainda estamos investigando o por que e como ela foi perfurada”, afirma. Em princípio, o acusado será indiciado por maus tratos. Nesse caso, a prisão varia de dois meses a um ano.

Agressões antigas

Não é a primeira vez que a polícia investiga uma violência contra a jovem O Correio apurou que, em novembro de 2000, o avô da jovem Manoel Pereira dos Reis foi preso por abusar sexualmente dela. Na época, uma denúncia anônima foi feita ao SOS Criança, que, ao constatar a procedência das agressões, acionou a polícia. Ao chegarem à residência da vítima, os agentes constaram que ela estava com um ferimento na vagina. Hoje, o avô mora na Estrutural.

Na casa onde Nildna reside com outras 24 pessoas, sendo oito irmãos, ninguém quis comentar as acusações contra Manoel. Eles também desconsideraram as suspeitas de que a mãe teria introduzido os fragmentos metálicos na garota. Para a tia Ivonilde Pereira da Silva, 37 anos, a sobrinha se automutilou. “Eu já presenciei Nildna cortando a perna com uma faca e dizia que estava apenas brincando. Ninguém aqui na casa, muito menos a mãe dela, seria capaz de fazer uma crueldade dessas”, disse.

Já Valmir Pereira, 37 anos, também tio da vítima, recorreu a exemplos de acontecimentos anteriores para defender a irmã. “Alguém que come carne crua e tudo o que vê pela frente pode fazer qualquer coisa, até mesmo engolir agulhas. Não podem acusar minha irmã”.

Para o secretário de saúde do DF, Joaquim Carlos Barros, é improvável que a paciente seja a responsável pelos ferimentos. “Os objetos não foram introduzidos por via oral e nada sugere que a jovem tenha se automutilado. Porém, cabe a polícia saber o que realmente ocorria com essa moça”, afirmou Barros.

O chefe da pasta da saúde destacou, ainda, que os vários tipos de infecções identificadas pela equipe médica reforçam a ideia que Nildna vivia em um ambiente inadequado. “Ela já foi internada mais de cinco vezes, todas pelo mesmo motivo (infecção). Mesmo se ela não tivesse com as agulhas no corpo, o quadro de infecção seria o mesmo. Pode ser reflexo da má alimentação, da precária higiene, entre outros fatores. Por enquanto, esses objetos não representam risco, haja visto que eles não estão próximos a nenhum órgão nobre. O mais importante agora é debelar todas essas infecções antes de pensar em retirar esses corpos estranhos”, complementou o secretário.

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