Devassa nas contas do Imperador Adriano

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Rio – O Ministério Público (MP) decidiu solicitar à Justiça a quebra dos sigilos telefônico e bancário do atacante Adriano por considerar que há “fortes indícios” de que ele tenha repassado dinheiro ao traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, chefe das bocas de fumo da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. A medida foi tomada ontem pelo promotor Alexandre Themístocles, da 6ª Promotoria de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos do MP, depois de ouvir o depoimento do jogador por duas horas.

O nome do atleta aparece no inquérito 6.284/2009, da 38ª DP (Brás de Pina), como suspeito de um suposto envio de R$ 60 mil para traficantes da Vila da Penha, conforme O DIA noticia desde segunda-feira. Ontem, Adriano não compareceu à delegacia, que o havia intimado pela segunda vez. Na avaliação do promotor, são “gravíssimos os fatos que põem o jogador como suspeito”.

A quebra dos sigilos havia sido pedida ao Ministério Público pelo delegado Luiz Alberto Andrade, da 38ª DP. Alexandre Themístocles, no entanto, opinou contra a prorrogação das interceptações telefônicas dos investigados. Segundo a investigação, em 14 de dezembro de 2009, Adriano teria determinado que um amigo fosse a agência bancária onde o jogador tem conta e descontasse um cheque de R$ 60 mil para dar aos traficantes que ‘sufocavam’ o craque. Caso a quebra de sigilo bancário do atacante comprove que o cheque fora realmente descontado, ele terá que explicar e comprovar com o que gastou o dinheiro.

Agora, o inquérito policial será enviado à 26ª Vara Criminal da Capital, e o juiz decidirá ou não pela quebra do sigilo bancário do atacante. Depois, o inquérito voltará à 38ª DP, que terá mais 60 dias para concluir as investigações e apresentar o relatório final.

PRESSÃO DA POLÍCIA CIVIL

Apesar de o depoimento ter sido prestado no MP, o chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, divulgou nota afirmando que o craque será ouvido na delegacia. “Embora o atleta Adriano tenha sido ouvido pelo Ministério Público, a Polícia Civil pretende ouvi-lo em sede policial, ocasião em que serão esclarecidos pontos relevantes da investigação, dando ao atleta o mesmo tratamento dispensado a todo cidadão”, diz o texto, reafirmando as críticas feitas na véspera pelo secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, de que o jogador não poderia ter tratamento diferenciado para depor apenas no Ministério Público.

Em seu depoimento, Adriano respondeu a 20 perguntas. De acordo com Themístocles, o jogador estava calmo e negou todas as acusações de envolvimento com criminosos. Afirmou que nunca deu dinheiro a bandidos, embora já tenha recebido vários pedidos. Disse ainda que costuma fazer doações para moradores do Complexo da Penha, mas nunca em dinheiro. E admitiu conhecer os dois chefes do tráfico do conjunto de favelas — FB e Paulo Rogério Souza Paz, o Mica. Segundo consta em investigação da 22ª DP (Penha), Adriano comprou uma moto de R$ 35 mil, em 2008, que foi emplacada em nome da mãe de Mica.

Adriano também foi questionado sobre as poses em que aparece fazendo com as mãos a iniciais de CV e em posição de atirador, como publicou O DIA segunda-feira. O atacante afirmou que sabia que a sigla significa Comando Vermelho, mas frisou que o gesto foi feito numa brincadeira, na qual também exibiu um fuzil que seria de brinquedo e uma peça dourada que seria parte de um abajur.

Às 16h, depois de quase duas horas de depoimento, o atacante deixou o MP. A saída foi confusa porque curiosos cercaram o Audi Q 7 branco do jogador — um veículo novo semelhante custa em torno de R$ 280 mil. Enquanto alguns tentavam tirar fotos do ídolo, outros criticavam o atacante pelos motivos que o levaram ao noticiário policial.

Polícia Civil em rota de colisão com o MP

O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Adepol), Wladimir Reale, criticou a decisão do Ministério Público Estadual de ouvir Adriano no órgão. “É mais uma pirotecnia do Ministério Público, que é incompetente para atuar na fase pré-processual. Isso não poderia ser feito até para evitar dualidade e duplicidade de função. A medida favorece a defesa, que acordou isso com o MP, que aceitou e gostou. A decisão atrapalha e só causa prejuízo”, avaliou Reale.

Para o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Rio de Janeiro (Sindelpol-RJ), Sérgio Caldas, faltou equilíbrio ao órgão. “Se o Adriano se apresentou ao MP, ele deveria ter sido conduzido pela autoridade à delegacia onde tem que depor. Isso foi vaidade”, analisou Caldas. Segundo o criminalista Luiz Flávio Gomes, a atuação do MP é legítima. “Mas, desde que tenha o inquérito, a polícia pode conduzir o jogador coercitivamente à delegacia”, explicou.

Presença do craque tumultua prédio

Apesar das críticas feitas pelo secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, de que Adriano deveria se apresentar à delegacia como qualquer cidadão, o atacante conseguiu o que queria. Foi depor no Ministério Público, sob forte esquema de proteção, com PMs e seguranças do próprio órgão.

Por volta das 13h, a movimentação dentro do edifício número 12 da Rua Nilo Peçanha já era intensa. Assim que o jogador chegou, parando seu Audi Q7 branco num estacionamento privado nos fundos do prédio (sem precisar pagar), o portão principal foi fechado. Nem funcionários que trabalham no local tiveram acesso ao edifício. “É preciso respeitar o direito dos outros! Não existe ficar 10 minutos aqui fora porque o Adriano vem aí”, reclamou Eliomar Lameira, funcionário de cartório.

“Saí de Nova Iguaçu para vir ao cartório e agora não posso entrar no prédio!”, esbravejava o assistente administrativo Carlos Roberto Nicácio.

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