Saúde bucal: Média de dentes com cáries chega a 20

Correio BrazilienseA pequena Lairy Coelho está na lista de espera do serviço odontológico há um ano. A mãe, Keila, lamenta: "dente dela já está destruído"

A pequena Lairy Coelho está na lista de espera do serviço odontológico há um ano. A mãe, Keila, lamenta: "dente dela já está destruído"

No país onde dentadura virou símbolo de promessa eleitoral, há uma legião de pessoas castigadas por doenças bucais graves. A falta de todos os dentes, que atinge 15% da população brasileira, é consequência de um problema bem anterior: a cárie. Seis entre 10 crianças de até cinco anos têm pelo menos um dente cariado. Nos adolescentes, a média é de 6,2 dentes, subindo para 20,1 nos adultos. Idosos apresentam praticamente toda a dentição afetada: 27,8.

Tais informações foram debatidas ontem, em Salvador (BA), durante evento (1)intitulado Aliança global para um futuro sem cárie. Embora o Ministério da Saúde aguarde com otimismo a conclusão de um novo levantamento sobre a situação, Gilberto Pucca, coordenador nacional de saúde bucal da pasta, reconhece que ainda há um grande “passivo” a ser atendido.

“A falta de serviços nessa área é histórica no Brasil. Até pouco tempo, as pessoas achavam comum que idosos não tivessem nem um dente na boca. Então teremos que trabalhar muito para lidar com esse passivo”, afirma Pucca. O principal programa do governo federal, Brasil Sorridente, colocou 19.100 equipes de saúde bucal, integradas ao Programa Saúde da Família, na ativa. O índice de cobertura gira em torno de 75 milhões de pessoas.

“Como nossa meta é oferecer atendimento a 100% da população, ainda temos cerca de 60% para expandir”, diz Pucca. O principal fator para garantir essa ampliação, segundo ele, está no financiamento — em torno de R$ 700 milhões anuais. “Precisamos de mais recursos”, afirma. Outra frente de tratamento são os 850 Centros Especializados Odontológicos, onde são feitos serviços de alto grau de complexidade, como canais e implantes.

Apesar dos esforços do governo federal e de secretarias estaduais e municipais de saúde, atrair os profissionais para o serviço público é difícil, segundo Newton Miranda de Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Odontologia. “Os salários não são muito atrativos. Então temos hoje 80% dos dentistas na área governamental também trabalhando como (profissional) liberal”, diz Carvalho.

De acordo com ele, vem daí uma contradição forte relacionada ao Brasil, onde se tem o maior número de graduados em odontologia (cerca de 20% dos profissionais de todo o mundo) e uma população com índices baixos de atendimento. Além do tratamento, afirma Carvalho, é preciso focar esforços prevenção. Atualmente, no Brasil, 13,4% das pessoas de 15 a 19 anos nunca foram a um dentista.

Embora mais jovem, com apenas 7 anos, Lairy Coelho vive a mesma situação. A menina está na lista de espera do serviço odontológico do Centro de Saúde 2 do Itapoã, no Entorno do Distrito Federal, onde mora, há um ano. A mãe de Lairy, Keila Pinto Coelho, foi informada que os dentistas precisariam radiografar a boca da filha para iniciar o tratamento. Há quatro meses, a dona de casa de 31 anos pagou pelo serviço em um consultório particular.

“O dente dela já está totalmente destruído. Eu queria ter feito o tratamento logo, mas não tinha dinheiro”, lamenta Keila. Embora tenha entregue a radiografia há seis meses, aproximadamente, Lairy continua esperando. “Tem vezes que dói”, diz a garota, enquanto mostra o pré-molar escurecido pela cárie em estágio avançado. Gerente do Centro de Saúde 2, Suderlan Sabino afirma que esta semana chegaram dois dentistas, totalizando agora cinco profissionais. “Temos uma lista de 3 mil pessoas aguardando, agora acredito que vamos diminuir essa espera”, diz.

Água

Embora a adição de flúor na água conste de uma lei federal de 1976, apenas 60 milhões de brasileiros (30% do total) são contemplados com o bem de maior qualidade. Para incentivar o cumprimento da legislação, o Ministério da Saúde tem oferecido mais recursos, via Fundação Nacional da Saúde, para cidades que queiram se adequar. O Distrito Federal é uma das unidades da Federação onde a lei é realidade.

“Temos conseguido firmar acordos com as empresas de abastecimento para que a fluoretação ocorra”, diz Gilberto Pucca, coordenador nacional de saúde bucal do Ministério da Saúde. De acordo com ele, pesquisas já comprovaram que cidades onde a água tem flúor conseguem diminuir pela metade a incidência de cárie, por fortificar os dentes.

Apesar disso, há discussões, inclusive dentro do Congresso Nacional, com projetos para tentar vetar a fluoretação da água. Mas associações científicas e médicas são favoráveis ao método. Newton Miranda de Carvalho, presidente da Associação Brasileira de Odontologia, lembra, entretanto, que não é só o flúor a única forma de prevenção.

“Primeiro a higienização dos dentes de forma correta e assídua. O uso de fio dental é uma segunda recomendação. E a visita periódica ao dentista. A dieta das pessoas também contribuem muito para a saúde dos dentes. Carboidratos e açúcar, por exemplo, são muito prejudiciais e incentivam a cárie”, destaca Carvalho.

Fonte: Correio Braziliense

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