Grávidas temem dar à luz em hospitais públicos por surto de bactéria

correiobraziliense.com.brNair Romeu fez o pré-natal na rede pública, mas quer procurar uma unidade privada para dar à luz à primeira filha

Nair Romeu fez o pré-natal na rede pública, mas quer procurar uma unidade privada para dar à luz à primeira filha

O surto de infecção hospitalar que causou a morte de 11 bebês nos últimos 40 dias deixou muitas gestantes com medo dar à luz na rede pública de saúde do DF. Como o atendimento no Hospital Regional da Asa Sul (Hras) está restrito aos pacientes em estado grave, as futuras mães têm que procurar assistência médica em outras unidades. Algumas grávidas pensam até em pagar pelo parto na rede privada para evitar que os recém-nascidos corram o risco de ser contaminados. Diante do problema no Hras, os hospitais públicos estão redobrando os cuidados para evitar que o surto de infecção se espalhe por outras maternidades e UTIs neonatais.

A dona de casa Miriam Honório Matos, 35 anos, quer ter seu filho no Hospital Regional de Taguatinga, cidade onde mora. Como sua gravidez é de risco, devido ao uso de remédios controlados, ela precisa dar à luz em uma unidade que disponha do serviço de UTI neonatal. Miriam teme uma transferência de última hora para outro hospital por conta da superlotação. “Eu queria ter meu filho aqui, mas tenho medo de chegar e não ter médico”, comenta. Miriam, que espera o seu quarto filho, sempre usou a rede pública de saúde para os exames pré-natais e para os partos. “Estou preocupada desta vez por conta desse problema de infecção e também porque sei que faltam médicos.”

Excesso de pacientes
Grávida da primeira filha, a professora Nair Keila Romeu, 30 anos, está em dúvida sobre onde dar à luz. No oitavo mês de gestação, ela pensa em desembolsar os custos de um parto na rede particular. Para Nair, o sacrifício financeiro valerá a pena para garantir a segurança do bebê. “Aqui é muito cheio e não tem pessoal. O atendimento é bom, mas a gente vê que eles não têm tanto cuidado”, critica Nair, que fez o pré-natal no Hospital Regional de Taguatinga.

O excesso de pacientes na UTI neonatal e no setor obstétrico obrigou os hospitais da rede pública do Distrito Federal a tomar providências para otimizar os atendimentos e evitar que o surto de infecção se alastre para outras unidades. Até agora, o problema está restrito ao Hospital Regional da Asa Sul. Mas como a Unidade de Tratamento Intensivo do Hras está impedida de receber novos pacientes, o fluxo de grávidas e de bebês que precisam de assistência médica aumentou muito em hospitais como o de Taguatinga e de Ceilândia. Nessas unidades, os médicos estão fazendo triagens para tentar acelerar o atendimento e a direção dos estabelecimentos alertou as equipes para a necessidade de redobrar os cuidados com a higiene.

Responsável por abrigar as mães de São Sebastião, do Paranoá e de Itapoã, o Hospital Regional do Paranoá ainda não teve um crescimento significativo no número de partos desde a interdição da UTI do Hras. Mas a diretora da unidade, Ana Paula Costa Tamer, explica que depois da crise no Hospital da Asa Sul, a administração tem alertado as equipes sobre a importância de garantir a higiene. “Nossa demanda está dentro da normalidade. Os cuidados já são um hábito, mas com esses casos de infecção, é importante relembrar todo mundo as rotinas que devem ser mantidas”, ressalta.

Medida fundamental
Segundo especialistas, a principal recomendação para evitar a infecção por bactérias em bebês e crianças internados em UTis é a higienização constante das mãos, com lavagem e desinfecção com álcool em gel a 70%. O uso de luvas é importante, principalmente para procedimentos como a coleta de sangue, mas ele não substitui a higienização das mãos.

Viajantes ganham novo serviço
» O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) começou, ontem, a oferecer um novo serviço: o Ambulatório para a Saúde do Viajante, que visa diminuir os riscos de propagação internacional de doenças por meio de procedimentos e normas para a detecção adequada de enfermidades de saúde pública internacional. Por enquanto, a unidade realiza apenas agendamentos. Segundo informou o Hran por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde, o ambulatório funcionará de segunda a sexta-feira, entre as 8h e as 12h. O agendamento poderá ser feito pelos telefones 3244-2926 e 3445-7644. A recomendação é que as pessoas procurem o serviço pelo menos 20 dias antes de viajar.

Cuidados redobrados
Depois do Hospital da Asa Sul, a unidade regional de Taguatinga é uma das mais importantes no acolhimento a mulheres com gravidez de risco. Lá, os funcionários já sentem os efeitos do excesso de pacientes. “Houve um aumento, mas não nos levou ao caos”, pondera a diretora do HRT, Sônia Salviano. Antes de receber mães de outras unidades, os hospitais são consultados sobre a capacidade atual e a possibilidade de cuidar de cada caso — assim, as pacientes são enviadas para o hospital que estiver melhor preparado para atendê-las.

A diretora do HRT garante que a Comissão de Infecção Hospitalar interna é capaz de controlar a disseminação de bactérias. O trabalho de prevenção no HRT vai além da lavagem de mãos. A diretora do hospital conta que agora pacientes e visitantes só poderão usar os aventais cedidos pelo hospital, para evitar a entrada de bactérias por meio das roupas.

Camila Stephanie Rosa Vieira, 19 anos, mora em Luziânia e recorreu à rede pública do DF para dar à luz o primeiro filho, que nasceu ontem no Hospital de Ceilândia. Mesmo sabendo das mortes causadas por infecções, o pai da criança, Ricardo Ferreira de Sousa, acredita que o parto no DF foi a melhor solução. (RM)

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