Governo nomeia novos ministros no Egito; atos seguem

Lefteris Pitarakis / APArmados com tacos, moradores protegem prédios no Cairo nesta segunda (31), sétimo dia de protestos antigoverno

Armados com tacos, moradores protegem prédios no Cairo nesta segunda (31), sétimo dia de protestos antigoverno

O governo do Egito nomeou novos ministros nesta segunda-feira (31), em uma tentativa de contornar a crise política provocada por sete dias de protestos de rua contra o regime de Hosni Mubarak, segundo a TV estatal.

Foram indicados novos ministros das Finanças e do Interior, por um decreto de Mubarak, há 30 anos no poder.

Outros nomes, como o de Field Marshal Hussein Tantawi, ministro da Defesa, e o chanceler, Ahmed Aboul Gheit, foram mantidos.

A pasta do Interior foi para Mahmoud Wagdi, um oficial de polícia reformado. Ele substitui Habib el-Adly, bastante criticado pela violência com que respondeu aos protestos populares.

Os protestos continuavam nesta segunda. O tráfego ferroviário na capital, Cairo, foi obstruído por uma grande passeata convocada pela oposição, que pretendia levar mais de um milhão de pessoas à rua.

O movimento também convocou uma greve geral por tempo indeterminado.

A convocação de uma greve geral foi feita na noite de domingo pelos trabalhadores da cidade de Suez, umas das três maiores do país, ao lado do Cairo e de Alexandria, onde foram registrados manifestações e distúrbios. As três cidades estão sob toque de recolher.

"Nos unimos aos trabalhadores de Suez e iniciaremos uma greve geral até que nossas demandas sejam cumpridas", declarou Mohamed Waked.

A tensão aumenta no país. O aeroporto da capital passou o dia com filas imensas formadas por milhares de turistas que tentavam antecipar a volta a seus países de origem.

Com a polícia fora de ação, jovens formaram patrulhas para cuidar do trânsito e vigiar os bairros de modo a evitar saques a casas e lojas. “Todo mundo está com medo porque há um monte de malandros na rua, entrando nos prédios e indo para as lojas”, disse à reportagem do Fantástico uma egípcia que cresceu no Brasil.

Toque de recolher
O presidente egípcio ordenou que o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez seja ampliado em uma hora e a partir de segunda-feira será das 15h locais às 8h, informou no domingo a televisão estatal.

O toque de recolher, instaurado na sexta-feira devido aos protestos da população para exigir a renúncia de Mubarak, foi gradualmente ampliado, mas não é respeitado pela população. A medida anterior durava de 16h a 8h.

Há ainda relatos de que as autoridades ordenaram que a polícia volte a atuar em todo o país, depois de dois dias nos quais esteve praticamente ausente. A agência AFP diz que a TV estatal atribuiu tal ordem ao ministro do Interior, Habib el Adli, enquanto Reuters e EFE citam fontes anônimas no governo. Há informações desencontradas indicando tanto que essas forças de segurança já estariam na rua, como que voltariam a patrulhar somente nesta segunda-feira.

As fontes da EFE afirmaram, no entanto, que a Praça Tahrir, epicentro dos protestos dos últimos dias, seguirá sob custódia do exército, que na sexta-feira recebeu ordens de apoiar a polícia para manter a segurança do país.

As forças de polícia, numerosas no Egito, tinham desaparecido das ruas na sexta-feira, provocando cenas de caos, saques e fugas em várias prisões do país.

ElBaradei

Na noite deste domingo, o opositor Mohamed ElBaradei, encarregado de negociar com o regime do presidente Hosni Mubarak, juntou-se à multidão que se concentra na Praça Tahrir para pedir a renúncia do presidente. O local é o centro de protestos na cidade. ElBaradei desobedeceu o toque de recolher que começou às 16h (12h, em Brasília).

Ele prometeu aos manifestantes que "a mudança chegará". "Vocês reconquistaram seus direitos e o que começamos não pode ter volta", discursou aos milhares de manifestantes presentes. "Temos uma demanda principal – o fim do regime e o começo de um novo estágio, um novo Egito".

O Prêmio Nobel da Paz saiu de um carro perto da praça, cujo acesso era controlado por soldados em tanques de guerra. Ele caminhou rodeado por manifestantes que gritavam "O povo quer a queda do presidente" e "Vamos sacrificar nossa alma e nosso sangue pelo país".

As forças de oposição do Egito, lideradas pela Irmandade Muçulmana, encarregaram o dissidente Mohamed ElBaradei de negociar com o regime do presidente Mubarak, alvo dos protestos que já duram seis dias e paralisaram o país. A decisão foi divulgada neste domingo (30) por Saad al-Katatni, um dos líderes do movimento islamita.

A Coalizão Nacional por Mudança, que reúne vários movimentos de oposição egípcios – incluindo a Irmandade Muçulmana, que foi proscrita pelo governo – escolheram o Prêmio Nobel da Paz para representá-los "nas negociações com as autoridades", disse al-Katatni a agência de notícias Reuters.

Logo após a confirmação, ElBaradei disse que o presidente Hosni Mubarak deve deixar o cargo neste domingo para abrir caminho para um governo de unidade nacional em uma eleição "livre" e "justa". ElBaradei disse também que a política dos Estado Unidos no Egito está perdendo a credibilidade.

Hillary Clinton fala em ‘transição ordenada do poder no Egito’

A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, pediu ao governo Mubarak que comece "imediatamente" o diálogo com a oposição.

Na véspera, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que Washington querr uma transição ordenada do poder no Egito. "Nós queremos ver uma transição ordenada para que ninguém preenche um vazio, que não haja um vazio, que haja um plano bem pensado, que trará um governo democrático e participativo", disse Hillary ao programa "Fox News Sunday ".

De acordo com Hillary, o país não quer que uma tomada de poder no Egito abale a democracia e conduza o povo à opressão.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou nesta sexta-feira com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, e pediu que ele respeite os direitos da população e evite o uso de violência contra manifestantes pacíficos.

Governo cativa militares
Mubarak visitou um quartel-general e reuniu os comandantes de alta patente neste domingo (30). A reunião foi divulgada pela televisão estatal. A emissora mostrou Mubarak em reunião com o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman, o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, o chefe de gabinete Sami al-Anan e outros.

A agência oficial de notícias divulgou que Mubarak conferiu também o trabalho das Forças Armadas no comando das operações de segurança.

A ofensiva política do governo consiste em cativar os militares. Por isso, o ex-ministro da Aviação Civil, Ahmad Shafic, foi confirmado pelo governo como primeiro-ministro. Shafic, que é um ex-comandante da Força Aérea, será o responsável por formar o novo gabinete de ministros, que foi dissolvido neste sábado.

Além disso, o presidente egípcio, que não escolheu um vice-presidente desde sua posse em 1981, nomeou o seu chefe de inteligência e confidente Omar Suleiman, para o cargo. Muitos viram a nomeação como o fim das pretensões do filho do presidente, Gamal, de assumir a presidência.

Hosni Mubarak recusa-se a deixar o cargo, apesar da pressão da população. Como reforço à posição do presidente, o Parlamento egípcio anunciou neste sábado que não tem planos para antecipar as eleições.

Mubarak mandou também soldados e tanques para a capital Cairo e para outras cidades. O envio de tropas do exército para ajudar a polícia mostrou que Mubarak ainda tem o apoio dos militares, a força mais poderosa do país. Porém, qualquer mudança de opinião dos generais poderá selar o seu destino.

TV Al-Jazeera é proibida de atuar no país

O ministro da Informação do Egito, Anas El Feki, proibiu neste domingo (30) a rede de televisão Al-Jazeera de operar no país. O anúncio foi feito pela agência oficial Mena. A maior emissora de televisão do Qatar fazia uma ampla cobertura das manifestações contra o regime do presidente Hosni Mubarak. Ela transmitia em tempo real o movimentos nas ruas das principais cidades egípcias, Cairo, Alexandria e Suez, com comentários em inglês e árabe.

Em comunicado, a Al -Jazeera afirmou que a decisão das autoridades do Egito de proibir a cobertura das manifestações tem como objetivo "silenciar o povo egípcio".

Até agora, pelo menos 100 pessoas morreram no Egito desde o começo das manifestações contra o governo do presidente Hosni Mubarak, na última terça-feira (25). O número foi apurado pelas agências de notícias Reuters e France Presse com fontes de segurança e médicas. Ainda não há dados oficiais sobre as vítimas.

A embaixada dos Estados Unidos no país aconselhou neste domingo os americanos a deixar o Egito o mais rapidamente possível. "Os voos para os pontos de evacuação começarão a deixar o Egito na segunda-feira, 31 de janeiro", declarou a embaixada em comunicado.

Medo

A brasileira Larissa Amorim, que mora nos arredores da capital, contou à BBC que o medo era muito grande na sua vizinhança devido aos saques que ocorriam na cidade. "Meu marido foi à rua juntamente de outros homens do bairro com facas e bastões para proteger as propriedades", contou ela, que é casada com um egípcio e mora no país desde 2007.

"Nós estamos muito nervosos, mas os moradores falaram que, por enquanto, não havia sinais de distúrbios na área."

A rede de TV CNN exibiu imagens de pessoas armadas nas ruas do Cairo. Portando rifles, pistolas e outros instrumentos mais simples, como bastões e até tubos de aspirador de pó, eles tentavam espantar grupos que circulam em motos, supostos saqueadores.

Prédios do governo também foram alvos de tentativas de invasão, que deixaram dezenas de feridos. Os militares disseram que vão agir ‘com firmeza’ para restabelecer a ordem e impor o toque de recolher. Em uma prisão no Cairo, os detentos armaram uma tentativa de fuga em massa, que foi contida. Oito presos morreram.

A brasileira Rossana dos Santos, que mora em Alexandria, outra cidade sob toque de recolher, disse, em entrevista à Globonews (veja vídeo acima), que ali também há homens armados tentando proteger os edifícios.

Depois da oficialização da estratégia anunciada nesta sexta-feira, o presidente egípcio, que não escolheu um vice-presidente desde sua posse em 1981, nomeou o seu chefe de inteligência e confidente Omar Suleiman, para o cargo. Dessa forma, o presidente garante aliados militares no novo governo a ser formado.

Ataque ao Ministério do Interior
O exército egípcio guarda a sede do Ministério do Interior, no centro do Cairo, neste domingo. Dois carros blindados e um tanque montavam guarda na frente do edifício, que foi evacuado por causa de ataque de manifestantes neste sábado.

A polícia abriu fogo contra cerca de mil manifestantes egípcios que tentavam invadir o Ministério do Interior. A reação teria acontecido após um grupo de pessoas atirar contra o prédio e só parou quando tanques de guerra foram enviados ao local. Na ação, a polícia teria matado pelo menos três manifestantes, de acordo com a rede de televisão Al Jazeera.

O Exército tenta restaurar a ordem em meio a saques depois que as forças de segurança retiraram as seguintes ruas enormes manifestações na semana passada.

Também no Cairo, tanques do exército egípcio e tiros disparados no ar foram usados neste para controlar pessoas que tentavam atacar a entrada do prédio do Banco Central, onde é impresso o papel moeda. Os manifestantes usavam pedaços de madeira e desistiram da abordagem depois de ouvir os tiros.

Canal de Suez
O Canal de Suez, eixo estratégico do comércio mundial, funciona normalmente, informaram nesta segunda (31) veículos da mídia oficial, citando um diretor do canal.

O Canal de Suez, que une Porto Said, no Mediterrâneo, a Suez, no Mar Vermelho, representa a terceira maior fonte de renda estrangeira do Egito.

O volume de seu tráfego é considerado indicador da saúde do comércio marítimo através do mundo.

Opep
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) observa a situação no Egito com preocupação, mas apenas aumentará a oferta de petróleo se houver uma escassez, afirmou nesta segunda o secretário-geral do cartel, Abdullah al-Badri.

Os preços do petróleo têm subido devido à tensão no Egito. O tipo Brent, negociado em Londres, está perto de US$ 100 o barril por temores de que a instabilidade possa se espalhar por países do Oriente Médio, que junto com o norte da África produz mais de um terço do petróleo no mundo.

Fonte: G1

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