Roteiro entre Alagoas e Sergipe é convite à cultura nordestina

Bety Colares/EM/D.A PressBety Colares/EM/D.A Press

Para quem gosta de unir cultura e aventura, Piranhas é o destino perfeito, além de abrigar as fantásticas histórias do rei do cangaço, o Virgulino Lampião, que, dividido entre atos de bandidagem e de heroísmo, soube cativar o amor de Maria Bonita. A cidade ficou conhecida por ser o lugar onde a cabeça de Lampião, Maria Bonita e outros do seu bando ficaram expostas depois de decapitadas.

Essa e outras histórias, como a de dom Pedro II, que honrou a cidade com sua distinta visita, fazem de Piranhas um roteiro quase mágico. Cidade com 25 mil habitantes, encravada no sertão alagoano, encanta pela beleza natural, mas, principalmente pela organização do município. A impressão que se tem é que o lugarejo faz parte de um cenário permanente de filmes e novelas, com suas casinhas muito bem pintadas e pontos turísticos impecáveis.

Mas, o que torna o lugar invencível é o seu contorno, artisticamente traçado pelo majestoso Rio São Francisco. E é justamente ele que proporciona um dos mais emocionantes passeios, a navegação pelos cânions, que atraiu, no ano passado, 120 mil turistas, com a previsão de receber 180 mil este ano. Conheça ainda Canindé do São Francisco, a 12 quilômetros de Piranhas, mas no estado de Sergipe, que tem sua história também ligada ao cangaço. Com um São João “arretado de bom”, este ano recria a cidade fictícia de Brogodó, onde se passa a novela Cordel encantado, que teve cenas gravadas em Canindé.

Um passeio pelo cânion

De todos os passeios no complexo turístico Xingó, o dos cânions do São Francisco é talvez o mais emocionante. O embarque e desembarque no catamarã ou escuna se dão a partir de um ancoradouro no Karranca’s, o primeiro restaurante flutuante do Nordeste, em Canindé de São Francisco (SE). A embarcação parte e logo atinge 13 nós por hora (21km/h). A riqueza do passeio é tanta que há, até, não diria uma rixa, mas um certo ciúme entre os habitantes de Sergipe e Alagoas, das cidades de Piranhas e Canindé. Isso se explica porque o rio banha essas cidades e o trecho navegável se dá ora em um estado, ora em outro. O embarque, por exemplo, é em águas sergipanas.

O auge do passeio, a Gruta do Talhado, fica em Olho d’Água do Casado, em Alagoas.
Do ponto saem viagens várias vezes ao dia, de terça-feira a domingo, com duração de três horas e ingresso de R$ 50 e R$ 25 (para crianças). O público mais frequente é formado por estudantes (50%), principalmente das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Mas vamos ao que interessa: a emoção do passeio. A bordo do catamarã e confortavelmente alojados, os turistas desfrutam a vista desde o início (com Alagoas à direita e Sergipe à esquerda).

As partes do rio que antes abrigavam maravilhosas quedas d’água deram lugar aos cânions, depois que a região foi inundada em função da construção da Usina Hidrelétrica de Xingó – aliás, a construção da usina foi uma das mais baratas do mundo, por não ter precisado de concreto para erguer os paredões, já prontos na região. Os cânions, formados por um vale profundo, com 65 quilômetros de extensão, 120 metros de profundidade e largura que varia de 50m a 300 metros, apresentam rochas de granito avermelhado e cinza na encosta. Várias formações também chamam a atenção, como a Pedra do Gavião e o Morro dos Macacos.

Mais delícias aos paladares

Depois de desembarcar é hora de matar a fome e a curiosidade acerca dos pratos típicos. Com serviço de self-service, a R$ 28 por pessoa, o restaurante convida a nos deliciar com os pratos à base de peixes, pitus e feijoada de canoeiro. Uma variedade de carnes, com nomes incomuns para nós, nos faz querer experimentar um pouquinho de cada, mas é claro que é impossível.

Aberto há 16 anos, a demanda logo obrigou o Karranca’s a mudar de lanchonete para restaurante. No início, eram 90 pessoas por dia. Hoje, o lugar tem capacidade para atender a até 250 pessoas simultaneamente e um total de até 1,7 mil pessoas por dia.
Do lado de fora, a área para banhistas tem uma estrutura confortável e ainda dispõe de equipamentos para aluguel, como caiaques, equipamentos para mergulho, pés-de-pato, coletes salva-vidas. Para complementar a diversão com muita adrenalina, o turista pode se arriscar na tirolesa, que leva direto para a água, tudo com as devidas proteções de segurança. Reserva tempo e muita disposição.

Entre as sete mais modernas

A Usina Hidrelétrica de Xingó, construída em 1988, é a segunda maior do Brasil e uma das sete mais modernas do mundo. Gera 25% da energia consumida no Nordeste. A usina geradora é composta de seis unidades, com 527 mil kw de potência nominal unitária instalada. Há previsão para mais quatro unidades em uma segunda etapa, totalizando 3.162.000 kw.

Na década de 1930 existiam dois povoados, Canindé de Cima e Canindé de Baixo, entre morros. Com a construção da hidrelétrica, os habitantes dessas povoações foram transferidos para uma ‘nova Canindé’, uma cidade planejada.
Existe um mirante onde o turista recebe a primeira explanação sobre o Complexo Hidrelétrico de Xingó. De lá tem-se uma vista parcial da usina e podem-se tirar muitas fotos legais. Nos jardins, pedras imensas que foram retiradas do fundo do rio durante a construção das barragens podem ser admiradas como esculturas naturais.

Piranhas é a única cidade do semiárido nordestino tombada pelo patrimônio histórico. Foi fundada no século 18, quando o local era conhecido por Tapera. Conta-se que, em um riacho, que hoje é chamado “das Piranhas”, um caboclo pescou uma grande piranha, levando-a para casa, depois de parti-la e salgá-la. Chegando lá, notou que se esquecera do cutelo. Então, pediu ao filho que fosse até o “Porto da Piranha” buscá-lo. Esse fato foi transmitido de geração a geração, e, segundo consta, denominou o lugar, que cresceu próximo ao riacho. Assim, a centenária Piranhas é um paraíso às margens do Rio São Francisco.

Faz limites com Olho d’Água do Casado, Pão de Açúcar, São José da Tapera, Inhapi e Rio São Francisco. Está a 47 metros acima do nível do mar e tem uma área de cerca de 410 quilômetros quadrados. Sua temperatura máxima chega aos 40 graus centígrados. As principais atividades econômicas são a pesca e a agricultura de subsistência.

Fonte: Diário de Pernambuco

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