Professora explica o "jeito brasileiro"

Morei na França e nos Estados Unidos: levei bronca até aprender a fazer fila e não jogar chiclete na rua. Compreender a língua do país não significa entender tudo o que estão te comunicando. Americanos são diretos e franceses são frios. Somos mais manhosos e usamos muito a comunicação não-verbal.

O estrangeiro encontra grandes dificuldades para se adaptar, apesar de sermos um povo caloroso e amigável. As regras aqui não são nada claras, a forma de conversar é complexa, temos muita burocracia e o “jeitinho” brasileiro. Eles são mais rígidos e objetivos.

Realizo o treinamento em empresas com equipes multiculturais: dou aulas sobre história, geografia, política, arte, economia e cultura brasileira. Depois vamos para a rua colocar o conteúdo em prática. Visitamos museus, restaurantes, bairros… Ando de metrô e ônibus para que eles conheçam o transporte público e tenham menos medo da cidade.

Violência e trânsito são queixas frequentes. Também já ouvi de um alemão: “Achei que havíamos inventado a burocracia, mas o Brasil a aperfeiçoou muito”. Eles estranham nossa informalidade e a falta de pontualidade. E, como levam tudo ao pé da letra, acham que não temos palavra. Se nos despedimos com “Adorei te conhecer! Vamos tomar chope num sábado”, só queremos dizer “tchau”.

Valorizamos a simpatia, enquanto a sinceridade para eles é mais importante. Um aluno foi visitar a família da mulher, que é brasileira. A tia dela tinha feito um patê e ele disse que não gostava. Isso pega mal aqui porque não sabemos ouvir “não”. Na nossa concepção, ele tinha que comer o patê e dizer que adorou. Já o alemão pode criticar o colega de trabalho e depois marcar uma happy hour. O brasileiro leva para o lado pessoal e não aparece!

O brasileiro usa a informalidade para ganhar intimidade. A gente traz a pessoa para perto, fala “pegando”. Se quiser constranger um estrangeiro, dê um abraço nele. Ele estranha até quando uma operadora de call center diz, por exemplo, “Meu bem, seu problema já foi resolvido”. O estrangeiro acha que a pessoa está dando em cima dele.

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