Trabalho ou não? Que me responda você…

Se tomar conta de preso, e olhe que na delegacia que trabalho tem 30 desses elementos, e sendo tal serviço não listado nas funções inerentes ao meu cargo de Agente de Policia, não for trabalhar!

Se tiver que entregar os alimentos, e revistar comida que entra na Delegacia, já que o Estado do Secretário Adriano Soares não cumpre a Lei, não for trabalho!

Se tiver que tomar conta do prédio, dos objetos, e de todo o armamento ali guardado em salas não apropriadas e inseguras, não for trabalho!

Se tiver que tirar do meu bolso, e de alguns colegas, dinheiro para pagar a limpeza do nosso local de trabalho, pois, o Estado acha que devemos trabalhar em locais sujos, fedorentos e insalubres, ou ainda, tivermos que nós mesmos pegar na vassoura e varrer o chão da Delegacia, não for trabalho!

Se tiver comparecido a Delegacia todos os dias em que estava escalado para os plantões, inclusive feriados, Natal, ano novo e carnaval, não for trabalho!

Se tiver que muitas vezes assinar documentos como testemunhas instrumentárias, e até mesmo agir como perito em Termos de Constatação Provisória de material entorpecente, não for trabalho!

Se permanecer com as portas da Delegacia abertas, quase que 24 horas ao dia, ter atendido a população que ali esteve, e ao menos dado algum explicação de como podia ser sanado suas problemáticas, não for trabalho?

Se tiver atendido a todos os Flagrantes Delitos, não for trabalho!

Se tiver que garantir o trabalho dos Delegados, dando-lhes segurança, cooperar nos diversos departamentos da Polícia, agindo como secretárias, office-boy, vigia, motorista, atendentes, telefonistas, arquivistas, armeiros, porteiros, e outros serviços gerais, todos não inerentes a minha função de Agente de Polícia, e isso não for trabalho!

Então o sr. Adriano Soares está correto. Sou vagabundo, não mereço promoção, nem meu salário, que até hoje não foi pago… Talvez seja até pior que os deputados lagartas, que tiveraam seu duodécimo aumentado, mesmo quando já provado que são ladrões…

Que me diga você, que muitas vezes me critica, creditando a mim a culpa do desgoverno atual, que não procura negociar, mas impor suas vontades, esquecendo-se que não mais vivemos tempos imperiais ou ditatoriais e sim um estado democrático de direito!

Sei que o que escrevo acima se aplica a todos os policiais civis de Alagoas, que durante os seis meses de greve, lutando por melhores condições de trabalho, um salário decente e dignidade para nossas famílias, jamais deixaram, durante todo esse tempo, de comparecer às suas Delegacias, e se faltar um deles, com certeza teve punido esse dia com falta e desconto em seu salário!

Todos os policiais estiveram em seus locais de trabalho, e realizaram não 30% dos serviços, mas muitos mais que suas obrigações, uma vez que estão realizando funções que não são inerentes as suas atribuições funcionais…

Exigir, como faz o governo, que Agentes de Polícia façam Boletins de Ocorrência, como faz o governo, não é justo e nem legal, pois, tal serviço não obrigação do Agente de Polícia, mas do Escrivão de Polícia.

Mas, exigir que o Escrivão de Polícia, profissional raro na Polícia, pois, por anos não se faz concurso público, e existem menos que 300 desses profissionais atuando, sendo que em cada Delegacia existe no máximo um Escrivão, e esse servidor tem que confeccionar 20 ou 30 Boletins diários, e ainda, assumir o cartório com responsabilidade, proceder às anotações de Inquéritos, despachos, ofícios, emitir Certidões, Termos Circunstanciados de Ocorrências, oitivas de testemunhas, vítimas e acusados, além de tantos outros documentos, é então condicioná-lo a escravidão!

Greve é um direito constitucional!

Ter sua data-base respeitada também é um direito… Decisão Judicial é pra ser cumprida, mas o Estado não cumpre! O Estado não nos paga o que ganhamos de direito na Justiça! O Estado não paga o que está previsto na Lei, como é o caso das progressões de nível de carreira, previstas, mas desrespeitadas. Mas, diz que nós policiais é que não respeitamos a Lei, isso quando estamos fazendo muito, mas muito mais do que nos é obrigatório, e não por respeito ao atual Governo, mas ao povo sofrido de Alagoas.

O policial é povo, é gente, é cidadão!

Tem família, pai, mãe, irmãos, esposa e filhos! O policial tem amigos…

Mas, na sua vida profissional arruma inúmeros inimigos, pois é quem prende, quem enfrenta cara a cara o bandido, é quem vai aos locais de crime, quem se expõe aos riscos de saúde dos trabalhos insalubres de efetuar uma prisão, revistas pessoais, guarda de presos em selas pútridas, realiza investigações, muitas delas noite e madrugada adentro, procura notificar e intimar àqueles que a Justiça determina, apresentar presos perante o Judiciário, e até mesmo, em muitos casos, bater de frente com gente poderosa, que sabe lhe dizer: -você sabe de quem sou filho?, e se debater com o filho de um Vice-Governador ou de um Senador da República, quando estes resolvem bater nos filhos dos outros aproveitando-se da impunidade em nosso Estado de "Direito".

E o pior, é que sofre do medo de não retornar no final do expediente para seu lar, e não ter o abraço de seus filhos, e o afago dos seus entes queridos!

O policial é quem recebe o pai ou mãe de família, a vítima, a testemunha, e até o acusado nas Delegacias, e muitas vezes, tem que ser: assistente social, psicólogo, advogado, etc.! Porque o Estado nada disso oferece.

O policial é aquele que trabalha em delegacias caindo aos pedaços, sujas, fétidas e úmidas, que dirige carros que não são seguros ao trânsito, e que tem que comprar sua própria arma para trabalhar, pois o Governo não lhes fornece meios melhores, e quando diz que faz, apenas piora o que já parece impossível de se piorar!

O policial é aquele que tem que agüentar calado, quando um colega, que se diz policial, mas é sim um bandido infiltrado na polícia, faz com que toda a sociedade condene a Instituição, incluindo ele, policial honesto, que defende mesmo assim essa mesma sociedade, entendendo que isso também é direito e democracia.

O policial é o mesmo que ao final de um mês, tem contas a pagar, luz, água, telefone, aluguel, escola sua e de seus filhos! Mas não pode pagar plano de saúde, e sofre ao ver um dos seus depender do Estado, e mais uma vez, Nada! Porque também na saúde o Estado é ilusão.

O policial tem que comer! É isso mesmo: Comer! Pois, o policial não é super-homem, e, aliás, poderia até parecer, mas estaria só exercendo mais uma das funções que não lhe são inerentes…

Ser policial não é só o que digo… Mas é respeitar pessoas como Adriano Soares, uma vez que ser policial é respeitar e merecer respeito! Mesmo que seja de uma pessoa que não deseje este respeito.

Sou policial e mereço respeito!

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