A trajetória de alta no preço do trigo levou a Associação Brasileira da Indústria de Panificação (Abip) a recomendar que os donos de panificações reajustem em 10% o preço do quilo do pão francês. De acordo com números do setor, em junho de 2007 o saco com 50 quilos de farinha de trigo custava R$ 66,00. Hoje, a mesma quantidade da matéria-prima custa R$ 90,00. A projeção da Abip é que, no final de março, o preço esteja na casa dos R$ 100,00.
“Enquanto isso, o preço do pão mantém-se estável e os panificadores absorveram o impacto dos aumentos de seus principais custos, em torno de 25%”, destaca o presidente da associação e do sindicato dos panificadores de Alagoas, Alfredo Raimundo Correia Dacal. Segundo ele, o preço do quilo do pão francês cobrado pelas padarias alagoanas gira em torno de R$ 4,00 a R$ 5,50. “Para que as indústrias tenham rentabilidade, o preço ideal seria entre R$ 5,50 e R$ 7,00, ainda assim insuficientes para operar em patamares confortáveis de lucro”, afirma.
Dacal teme que, diante deste cenário, muitas panificações tenham que fechar as portas, com prejuízo na geração de empregos. Estima-se que existam 1,5 mil panificações no Estado, que empregam cerca de 15 mil pessoas. No Brasil, o setor emprega 600 mil pessoas em 52 mil empresas.
Alfredo Dacal atribui a alta do trigo à escassez do cereal no cenário mundial. A projeção para a próxima safra é que acontecerá a menor relação entre o estoque de trigo e o consumo em todos os tempos (17,7%), o que deve gerar preços internacionais em níveis recordes – US$ 430 por tonelada, nos Estados Unidos em março.
Para o segmento, com este patamar forte e a escassez na Argentina, o mercado doméstico de trigo vai segurar suas altas. Com menos trigo argentino, abre-se espaço para o produto norte-americano que, mesmo com a isenção da TEC para trigo extra-Mercosul, chegaria hoje ao mercado paulista a um nível R$ 117,00 acima da Argentina. Essa situação contribui, também, para aumentar o preço do trigo paranaense.
O empresário Alexandre Pereira, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação (Abip), afirmou que o setor quer algum tipo de alternativa da parte do Ministério da Fazenda para baratear custos da importação do trigo. Segundo ele, o governo federal reduziu em 10% a taxa de importação do produto dos países que não fazem parte do Mercosul, mas a Abip considera medida “paliativa”.
Em comunicado às entidades representativas da categoria de todo o país, ele fez recomendações quanto ao patamar de reajuste do preço do pão. “As margens do setor de panificação entram num patamar crítico e insuportável, já que vem sendo corroído por aumentos de sua principal matéria-prima. Isto remete a uma recomendação final de se evitar preços de pão francês abaixo de R$ 6,05, que ‘drenem’ o mercado para patamares de margem negativa, com o que o setor não tem condições de conviver”, afirmou.
