Hillary deixa a disputa depois de irregularidades

A senadora americana pelo Estado de Nova York, Hillary Clinton, encerra sua campanha como pré-candidata democrata à presidência dos Estados Unidos neste sábado quando deve declarar seu apoio à candidatura do colega Barack Obama. A desistência ocorre após uma longa disputa, que iniciou ainda em 2007. Obama, que terá a chance de ser o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, felicitou a adversária e disse que ela "fez história", em uma declaração que tenta afastar os rumores de divisão do Partido Democrata.

No seu site oficial de campanha, Hillary Clinton agradece os 18 milhões de votos que recebeu durante o período de primárias democratas para a presidência dos Estados Unidos. "Eu gostaria de agradecer vocês. Eu não conseguiria ter cumprido esta jornada sem vocês", diz a ex-primeira-dama, em um vídeo com a data de 3 de junho, dia em que praticamente foi definida escolha de Barack Obama como candidato do Partido Democrata para concorrer com o republicano John McCain nas eleições de novembro.

No entanto, os milhões de votos obtidos em todos os territórios americanos – 23 dos quais ela venceu as primárias, segundo a CNN – não foram suficientes para dar chance a Hillary para se tornar a primeira mulher presidente da nação mais poderosa do mundo. Depois de uma disputa acirrada, seu rival, o senador Barack Obama, atingiu (e ultrapassou) o número de 2.118 delegados necessários para obter a indicação do partido. Foram 2.189 de Obama contra 1919 de Clinton, segundo o site RealClearPolitics.com.

Mas o que definiu a vitória de Obama, e a conseqüente derrota de Hillary depois de mais de seis meses de campanha? Alguns fatos foram preponderantes. Talvez um dos mais importantes sequer tenha relação direta com a senadora. A "onda Obama" atravessou os Estados Unidos conquistando eleitores, que foram contaminados pela mensagem otimista do senador de Illinois. Segundo analistas políticos, Obama, 46 anos, fez Hillary, 60 anos, parecer antiquada aos olhos de alguns eleitores.

Esse quadro começou a ser formar logo no começo da disputa, nas prévias do Estado de Iowa, no dia 3 de janeiro. Na época, Hillary apareceu ao lado de figuras políticas do passado, como seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, enquanto Obama obteve uma grande fatia do eleitorado jovem. "Na pior das hipóteses, ela é uma líder estabelecida demais, competente demais. Ela está no cenário mundial, e as pessoas estão cansadas de gente que está no cenário mundial", analisou na época Naomi Wolf, autora do best-seller O Mito da Beleza.

A vitória em Estados importantes, como Texas e Califórnia, além de contar com o apoio feminino maciço, deu a Hillary forças para continuar na campanha. Na campanha de New Hampshire, na qual obteve uma vitória surpreendente, ela chegou a ser comparada com o marido, que se intitulava o "comeback kid" (o garoto que retorna), em função da sua capacidade de recuperação. Na época, Hillary chegou a liderar uma pesquisa nacional encomendada pelos veículos Los Angeles Times e Bloomberg.

Com o apoio declarado de um dos maiores jornais do país, o New York Times, e Obama lamentando a condição de "famosa" da adversária, a candidatura de Hillary parecia em ascendência. Mas a disputa continuava dura. A "Super Terça" (5 de fevereiro, data em que aconteceram primárias em 24 Estados americanos) passou e nada ficou definido. O jogo começou a virar no começo de fevereiro, quando Obama superou pela primeira vez a rival em número de delegados: 1.137 contra 1.134, segundo o RealClearPolitics.

Poucos dias depois, a campanha de Hillary anunciava suas primeiras baixas. Primeiro foi a diretora Patti Solis Doyle. Depois foi a vez do subdiretor Mike Henry. A desorientação era clara. Bill Clinton, por exemplo, chegou a dar um caráter estritamente racial à vitória de Barack Obama nas primárias da Carolina do Sul. O fato despertou acusações de racismo e acabou se voltando contra a própria candidatura de Hillary. Os assessores da ex-primeira-dama ignoravam o número de Estados conquistados por Obama e afirmavam que Hillary obteve conquistas em Estados de grande peso, como Califórnia, Nova York e Nova Jersey.

Mas enquanto a campanha de Hillary tinha altos e baixos, a de Obama seguia seu curso de forma regular. Nem os episódios envolvendo pastores, nem mesmo fotos em que o senador aparecia com trajes muçulmanos abalaram a campanha de Obama. A "Obamamania" chegava inclusive ao velho continente. "A Obamania está se tornando realidade também na Europa", disse Renaud Bombard, presidente da editora francesa Presses de La Cité, que lançou a versão francesa de Dreams From My Father, livro de memórias o pré-candidato democrata.

Mas Hillary não desistia. Após vencer em Ohio, Texas, Rhode Island e Pensilvânia, ela insistia que seria a candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, chegando até a se comparar com o personagem Rocky Balboa. Até que o estrategista-chefe da sua campanha renunciou depois da revelação de que ele fez lobby em prol de um tratado de livre-comércio com a Colômbia, ao qual a pré-candidata se opunha. A maré de azar chegou inclusive ao escritório de campanha de Hillary, que foi destruído por um incêndio.

Enquanto isso, Obama ganhava mais espaço. Na metade do mês de abril, uma pesquisa colocava o senador como o favorito na disputa democrata à Casa Branca, 20 pontos à frente de Hillary. Mas a senadora se recusava a "jogar a toalha", contrariando as previsões de analistas, que acreditavam na desistência de Hillary em favor da unidade do partido. Até que, às vésperas das últimas prévias, nos Estados de Montana e Dakota do Sul, assessores da ex-primeira-dama, em entrevista à agência AP, disseram que ela reconheceria Obama como candidato após a votação.

A informação foi imediatamente negada pelo chefe da campanha, Terry McAuliffe. Mas o quadro já estava praticamente definido. Nesta semana, a equipe de Hillary confirmou que ela anunciará que vai abandonar o desejo de ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos e irá apoiar Barack Obama. Os dois adversários inclusive já se reuniram para conversar. O conteúdo do encontro não foi divulgado, mas os assessores dizem que o diálogo girou em torno do "importante trabalho que precisa ser feito para obter sucesso em nas eleições de novembro".

Fonte: Terra

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