O menestrel das Alagoas

Teotônio Vilela, alagoano ilustre de Viçosa, de origem nobre, irmão de Dom Avelar Brandão, Arcebispo Primaz do Brasil e do médico Osvaldo Brandão Vilela de quem fui cliente na adolescência, aos quais presto minha homenagem póstuma, era dotado de um grande poder de convencimento pela sua oratória vibrante e contundente.

Ao lado do Governador Luis Cavalcante, foi um dos baluartes em defesa da deflagração do movimento militar de 1964, pois, na sua visão, compactuada pela igreja católica e pelos conservadores da época, era preciso impedir que se implantasse no Brasil o “comunismo chinês”, o mais temido e perverso da época.

Portanto, não mediram esforços para impedir a entrada de Leonel Brizola, Miguel Arraes (Governador de Pernambuco) e Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, que viriam para o “comício das reformas ”que seria realizado na Praça do Pirulito, em Maceió.

A Praça do Pirulito foi transformada em uma verdadeira operação de guerra, tendo na verdade a revolução militar de 1964 eclodido e começado por Alagoas.

Vitorioso o movimento, eleito Senador da República por Alagoas e pela legenda da Arena, vendo que a revolução tomara outros rumos que não eram democraticamente toleráveis, dentre eles, assassinatos de estudantes, trabalhadores e intelectuais; cassações injustas e perseguições mesquinhas e pessoais, não titubeou um só instante e partiu em defesa dos massacrados politicamente, visitando as prisões, enfrentando as forças repressoras no ABC Paulista, percorrendo os cárceres e fazendo pregações cívicas por todo o Brasil.

O Senador Alagoano varou as madrugadas redigindo pronunciamentos e defendendo os presos e os perseguidos politicamente. Com o mesmo denodo e com a mesma empolgação que fazia as suas belas serenatas, passou a cantar hinos cívicos em defesa da Pátria e dos perseguidos.

O velho boêmio trocou as serestas pelas lutas incansáveis, transformando-se em um pacificador, pois, via que o Brasil tinha como destino a luta armada e a guerra fratricida, coisa que não interessava a ninguém de bom senso. Dizem que a guerra é o sonho dos loucos, pensamento esse compactuado pelo nosso destemido homem público.

Teotônio Vilela, na minha concepção, não era de esquerda nem de direita. Era um liberal, um nacionalista, um poeta e um sonhador,posição essa demonstrada quando os seus compatriotas, sem voz e sem vez, tiveram nele a coragem e a suprema ousadia de enfrentar os ditadores, os tanques e o poder constituído.

Confesso que não fui admirador do Teotônio de 1964, daquele primeiro momento, até porque fazia parte do movimento estudantil, porém, passei a admirá-lo e a enaltecê-lo após o mesmo se rebelar civicamente contra a tirania implantada no país. Revelava, aí, o seu desprendimento, a sua coragem, provando que as suas convicções estavam acima de tudo, dos bens materiais, dos cargos políticos e até mesmo da sua capacidade física cuja saúde veio a definhar, culminando com a sua morte em plena luta cívica. Mesmo doente não arrefeceu um só momento, enfrentando a doença e a morte com o mesmo denodo com o que enfrentara os grilhões da ditadura.

O alagoano de Viçosa que se orgulhava de ser filho da princesa das matas, agigantou-se, de tal maneira que em determinados momentos chegou a ser maior do que o próprio estado em que nascera.

Quando de sua morte, no dia do seu sepultamento, Maceió tornou-se a sede da República dos sonhadores, tornando-se pequena para acolher tantos nomes ilustres como Mário Covas, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso e inúmeros outros que vieram render a sua homenagem e o seu pleito de gratidão aquele que foi na verdade o maior de todos e que lutou para ver de volta a Pátria Brasileira, os exilados e aqueles que um dia ele havia discordado ideologicamente.

Estive presente ao seu sepultamento no Cemitério Parque das Flores e confesso que não consegui conter as lágrimas que brotaram recalcitrantes em meu rosto.

O grande guerreiro deixou o seu legado político, a sua herança maior para o seu filho Teotônio Brandão Vilela Filho, atual Governador de Alagoas sob o qual pesa a responsabilidade infinita de governar um povo sofrido, porém sonhador, libertário e que a exemplo de Teotônio Vilela, Zumbi dos Palmares, e Graciliano Ramos, jamais aceitará a opressão, a tortura e os desmandos.

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