Peritos apresentam laudo que apurou acidente ocorrido em São Miguel dos Campos
O resultado do laudo do Instituto de Criminalística de Alagoas – divulgado na manhã desta terça-feira, dia 11 – aponta culpabilidade da empresa Petrobrás no acidente ocorrido em São Miguel dos Campos, na Estação de Produção de Furado, ocorrido no dia 23 de setembro deste ano e que resultou em quatro mortos.
De acordo com o laudo, “os peritos atribuem à empresa Petrobrás a responsabilidade do acidente em apreço, por expor trabalhadores ao risco de acidente”. Os trabalhadores – ainda conforme os peritos – executavam serviço de desmontagem de tubulação sem o conhecimento prévio de problemas relacionados à segurança existentes na Estação de Produção de Furado.
O laudo aponta também que houve falha – por parte dos trabalhadores – no manuseio do equipamento para a retirada de uma peça da tubulação denomidada de “spool”. Os trabalhadores teriam utilizado uma alavanca para retirar o tubo, mas não o escoraram para que este não batesse no chão.
No entanto, afirma o perito José Adriano Rocha de Sá Filho, se não fossem as condições de insegurança, o acidente não tinha ocorrido com tamanha gravidade. “No máximo, o trabalhador teria machucado um pé, ou algo de bem menor proporção”, salientou. Conforme os peritos, ao cair no chão teria rompido um eletroduto, que – ainda segundo laudo – aflorava no solo em local errado.
Com o rompimento do eletroduto, uma válvula (solenóide) parou de funcionar, devido queda de energia. Esta válvula ainda não deu a resposta correta, descumprindo uma das normas da própria empresa. Isto, sem contar que a válvula de bloqueio de ar comprimido estava sem a alavanca para o manuseio manual. “Ou seja, havia uma série de fatores que estavam colocando a vida dos trabalhadores em risco e que ficaram evidentes com o acidente”, colocou.
Mesmo diante da falha do manuseio no equipamento, o laudo aponta diversos outros pontos de condições inseguras de trabalho que resultou na morte das pessoas, no incêndio e na explosão de um tanque, que ocorreu após o vazamento do gás. Por tanto, na visão dos peritos, os atos inseguros cometidos pelos funcionários não podem ser tidos como causa do acidente.
Os peritos apontam – entre os erros de responsabilidade da Petrobrás – a presença de uma “fonte de ignição” (o caminhão munck) que não poderia estar próximo ao local onde os trabalhadores estavam, sob risco de explosão; o afloramento do eletroduto em local errado, sendo este projetado perto do “spool” e não onde deveria estar de fato (nos outros locais da Estação, os eletrodutos afloram em lugar correto); falha na válvula solenóide, que não deu resposta correta diante da situação de risco e a válvula de bloqueio de ar comprimido, que se encontrava sem a alavanca manual.
Como se não bastasse, os trabalhadores atuavam no local sem a Permissão de Trabalho (PT) emitida pela própria Petrobrás, que tem por obrigação alertar os funcionários dos riscos inerentes. “Nós constatamos que no local havia até uso de celular, o que é proibido”, salientou o perito. “Quando o gás foi liberado, ele ainda atingiu uma fonte de ignição, que era o caminhão que estava próximo, como foi possível constatar no local”, colocou ainda José Adriano Rocha Sá.
Os peritos destacaram ainda que em momento algum sofreram qualquer tipo de pressão na confecção do laudo que conta com pouco mais de 200 páginas. Durante a produção do laudo, o perito Ivo Werneck, que iniciou as investigações, foi afastado do caso pela direção do Instituo de Criminalística. Porém, conforme a diretora, o fato se deu por desentendimentos pessoais entre ele e a equipe.
“Não poderíamos deixar que problemas pessoais atrapalhassem o interesse coletivo, que representa este caso. Precisávamos dar uma resposta o mais rápido possível e com precisão, até mesmo porque houve vítimas fatais”, salientou a diretora do Instituto de Criminalística, Rosana Coutinho.
