O exemplo de Frei Galvão

O Vaticano confirma oficialmente, no dia 11 de maio, o que o Brasil todo já tinha certeza. Antônio de Sant’Anna Galvão, o frade franciscano que semeou generosidade e esperança entre pobres e enfermos no final do século XVIII e início do século XIX, e que até hoje é venerado por milhões de fiéis vai ser, enfim, canonizado.

A cerimônia acontecerá durante a missa que o papa Bento XVI vai celebrar em São Paulo, na sua primeira visita ao país. Num momento em que a violência urbana mergulha todos nós numa onda de medo e de indignação, a canonização do primeiro santo brasileiro reacende muito mais do que a fé católica. Ela reacende nossa crença no poder do amor e da generosidade, na possibilidade de um mundo mais justo e mais humano.

É essa crença que multiplica as filas intermináveis de devotos nas portas dos conventos de São Paulo e do Paraná, em busca das pílulas milagrosas do Frei Galvão. Esses fiéis não precisam de um documento do Vaticano para comprovar a santidade do franciscano da cidadezinha paulista de Guaratinguetá, que deixou uma família rica e poderosa para se dedicar aos mais humildes. Mas a canonização alimenta a devoção do povo e fortalece os laços da Igreja com os 125 milhões de católicos brasileiros.

Os quase 24 mil milagres atribuídos a Frei Galvão confirmam que o amor e a fé estão entre as maiores forças transformadoras do dia-a-dia. É o que também confirmam histórias como a de Madre Paulina, italiana que viveu no Brasil por 67 anos e foi canonizada em 2002, e de irmã Dulce, exemplo de luta e de dedicação aos mais necessitados, e que está em processo de canonização pelo Vaticano. Curas e graças de todo tipo são atribuídas aos 784 santos já canonizados pela Igreja Católica ao longo da História.

Mais do que milagres, porém, beatos e santos nos legam o exemplo de uma vida virtuosa, voltada ao próximo. Exemplo precioso, numa sociedade em que valores éticos são cada vez mais deixados de lado, substituídos por interesses individuais, competição, consumismo e ambição desenfreada.

No maior país católico do mundo, o desprezo pelo bem-estar coletivo, o foco na satisfação individual, imediata, e a elasticidade moral que torna “aceitáveis” uma e outra atitude desonesta, pequenas mentiras e deslealdades vão muito além de questões religiosas. Estão por trás de denúncias de caixa dois e de corrupção, estão por trás da impunidade vergonhosa que alimenta a violência, estão por trás do tráfico de drogas e de armas, da má gestão dos recursos públicos, do cenário de injustiça e de exclusão social em que vivemos.

Temos, todos, católicos ou não, muito que aprender com Frei Galvão. E muito que fazer, se quisermos mudar, de fato, a face de miséria e violência do Brasil.

* Presidente do Senado

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