“Secretário, você é incompetente, peça exoneração”, diz presidente do Sinmed

Sionelly Leite/Alagoas24horasSionelly Leite/Alagoas24horas

O presidente do Sindicato dos Médicos, Wellington Galvão, e o secretário de estadual de Saúde, André Valente travaram um debate – agora há pouco – no programa Ministério do Povo, na Rádio Gazeta. Em meio a discussão sobre a greve que resultou em 14 demissões e há mais 500 previstas para a próxima sexta-feira, Galvão chamou o secretário de incompetente e despreparado. “André, peça exoneração”, disse Wellington Galvão.

A greve dos médicos já dura quase dois meses e a luta da categoria é por 50% de reajuste salarial. De acordo com Galvão, o salário dos médicos do Estado – que é de pouco mais de R$ 1mil por 20 horas – já está defasado há um bom tempo e a luta é pelo resgate da dignidade e do respeito. “O Estado não está tendo isto com a gente”, colocou Wellington Galvão.

André Valente disse que a greve deixou todos cansados, mas que não dá para agir com a emoção. “Eu adoraria dar este aumento, mas não posso. O Estado não tem condições. A secretaria já se encontra com 75% da receita comprometida com pagamento de funcionário. Não dá para dar mais”, destacou Valente. Em reposta, o sindicalista disse que “não está cansado, mas triste”.

“Eu não estou cansado André. Eu estou é triste e por você, que é um menino novo. Um menino bom, mas tem assumido uma postura de defesa por um Governo que não cumpre com a palavra. Eu gostaria que você assinasse a sua demissão também, já que você é um excelente médico. O aumento do médico é mínimo, André. Nós tivemos acesso aos números e mostramos isto. O que falta no Governo e em você (André Valente) é boa vontade. O governador (Teotonio Vilela Filho) tem que assumir as rédeas. Não estamos intimidados e você sabe que não há serviço para assumir as funções dos médicos que estão pedindo demissão”, destacou Wellington Galvão.

“Momento difícil

O secretário de Saúde destacou que “o momento é difícil”. “A reivindicação é justa, mas a situação do Governo é ruim e trabalhamos em dificuldade. Em relação às demissões, apelo por um voto de confiança. Dêem crédito ao Governo do Estado. O governador vai priorizar a saúde assim que tiver condições. As ações têm que ser planejadas. Respeito os médicos, até porque sou um deles, mas não posso deixar a população desassistida”, disse Valente.

Conforme Valente, a alternativa possível que o Governo do Estado deve tomar é decretar o estado de emergência para formar cooperativas, para dar uma solução em médio prazo. “Decretado estado de emergência, contrataremos serviços para a população com equipes assumindo os postos deixados”, explicou o secretário. “Eu faço o apelo”, destacou.

“Você não tem competência”

Galvão responde dizendo que “eu pedi a demissão porque sei que o Governo do Estado não merece respeito”. Wellington Galvão ainda rebateu André Valente de forma veemente questionado a competência do secretário de Saúde à frente da pasta. “Você não vai conseguir resolver nada André. Você não tem competência para resolver. Peça exoneração. Eu sei os números do Estado e mostramos solução e o seu patrão, o Governo do Estado, não cumpriu com a palavra”, disse o presidente do Sindicato.

“Por incompetência do secretário André Valente e de sua equipe, vocês não conseguiram buscar recursos federais. Você (se dirigindo ao secretário) está no lugar errado. Não tem competência. Você é um menino bom, saia dessa”, falou Valente.

O secretário respondeu a Galvão dizendo que “não há como medir a competência de ninguém e que qualquer um no mesmo lugar veria que não há como dar o aumento pedido”. “Eu seria incompetente se eu desse este aumento aos servidores e prejudicasse a população. Isto sim seria irresponsabilidade. Então, eu não posso fazer. O aumento dos médicos penaliza a sociedade. Reforço o apelo. Nosso paciente não merece ser prejudicado. Eu brigo por um aumento justo, mas sem deixar a população sem assistência”, explicou Valente.

De acordo com Valente, os médicos precisam fazer um pacto social. “Se eu der um aumento maior do que o permitido vou passar a administrar caos. Sei que minha imagem como médico está desgastada, mas é porque estou pensando no bem comum. A situação dos médicos não é confortável, mas com muita dor em meu coração, eu estou agindo como gestor. Queria muito dar este aumento de 50%, mas os esforços se voltam para população em geral”, finalizou o secretário.

O presidente do sindicato reafirma que teve acesso à contabilidade do Estado de Alagoas e encontrou sobras três vezes maior do que o necessário para que fosse dado o reajuste pedido e que mostrou isto para a equipe do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), mas que este “descumpriu sua palavra”.

Demissionários

Quanto a substituição dos médicos demissionários, ainda há uma série de discussão em respeito à legislação. O Governo do Estado pretende trabalhar com médicos terceirizados, mas já foi desaconselhado pelo procurador Regional do Trabalho, Luciano Carlesso. O prazo para que os demissionários deixem o trabalho é de 30 dias, por conta de uma resolução do Conselho de Medicina.

Os médicos grevistas se comprometeram a cumprir o prazo – segundo Wellington Galvão – em respeito a população do Estado de Alagoas. “O procurador Geral do Estado (Mario Jorge Uchôa) colocou que é um prazo jurídico. Não é. Estes 30 dias são em respeito a sociedade e estamos seguindo uma determinação do Conselho. Não existe um prazo jurídico”, explicou Wellington Galvão.

Mario Jorge Uchôa diz – por sua vez – que a briga não pode ser pessoalizada, como vem fazendo – de acordo com o procurador – o presidente do Sindicato da Categoria. Ele nega ainda que as notas oficiais do Governo do Estado tenham sido para intimidar os médicos grevistas. “De forma alguma, o que nós estamos fazendo é mostrando a eles as conseqüências das demissões”. Entre as conseqüências – segundo Uchôa – está a ação que proibiria os médicos de fazerem concurso público por cinco anos.

Galvão rebate de forma irônica: “Quem faria concurso para um Governo que não respeita o servidor. Não existe isto de proibir de fazer concurso. Eles querem intimidar o médico e fazer dele um escravo”, finalizou o sindicalista.

O impasse ganhará um novo capítulo na sexta-feira, quando a categoria realizará um ato público em frente ao Palácio República dos Palmares. O ato resultará na demissão de 500 profissionais, o que corresponde a 1/3 dos concursados.

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