Perdemos o bonde

Não é apenas o fantasma de uma quebradeira mundial que volta a assombrar o Brasil, diante do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. É a certeza de que jogamos fora a oportunidade de pegar carona na euforia econômica que contagiou o planeta nos últimos anos, uma chance rara de construir, enfim, o sonho do desenvolvimento sustentável. A certeza de que perdemos o bonde da História e patinamos numa taxa média de crescimento econômico inferior a 3% num período em que havia fartura de dinheiro.

A crise atual pode até ser apenas um grande susto, mas pode ser uma bola de neve, que vai acabar engolindo boa parte das finanças internacionais – os especialistas ainda se dividem. Não há como negar, no entanto, que, apesar do fortalecimento da União Européia e do impacto positivo das economias emergentes, em especial da China e da Índia, os Estados Unidos ainda têm um peso enorme na sustentação do crescimento econômico global. Nem há como esquecer que a economia americana já vem dando sinais, há tempos, de estar entrando em marcha lenta.

No Brasil, a economia vive, é verdade, um momento particularmente positivo. Inflação baixa, reservas cambiais de sobra, risco-país cada vez menor, contas externas equilibradas nos dão a tranqüilidade de poder enfrentar, sem medo, uma e outra crise internacional. Mas os menos otimistas alertam: estamos longe de ser invulneráveis a um choque de grandes proporções. Aliás, num mundo globalizado, ninguém está imune a tremores internacionais. A crise corre em velocidade on-line, de uma ponta a outra do mundo.

Se ainda nos sentimos relativamente seguros, não podemos negar que o mercado tupiniquim tremeu – e continua a tremer: o dólar subiu, as bolsas caíram, as empresas brasileiras já estão pagando mais caro pelas linhas de financiamento no exterior. O grande risco é a escalada do dólar – o que acontecerá, fatalmente, se houver queda na demanda internacional por nossos produtos. O câmbio em alta vai, então, pressionar a inflação e obrigar o Comitê de Política Monetária a suspender a trajetória de queda dos juros. Aí, sim, podemos dizer adeus a qualquer projeto de crescimento econômico.

Um projeto que poderíamos muito bem ter tocado, nesses últimos tempos de bonança. Mas não fizemos a lição de casa: não votamos a reforma tributária nem avançamos em outras reformas fundamentais, como as reforma previdenciária e trabalhista. Não investimos como deveríamos em infra-estrutura, não reduzimos os gastos públicos, nem garantimos a necessária segurança jurídica para atrair um maior volume de investimentos para o país.

Agora, é correr contra o tempo, ter maturidade política suficiente para votar as reformas necessárias e torcer para que a solidez de nossa economia possa ser maior do que o vendaval que varre os Estados Unidos e se espalha mundo afora. Esperar pelo próximo susto é estupidez e imaginar que ainda teremos a chance de embarcar no próximo bonde de crescimento mundial, a mais pura ingenuidade.

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