‘Nada supera a oportunidade de salvar a vida de alguém’

Victor Melo, de 26 anos, conta a experiência de doar parte do seu fígado ao pai e de vê-lo renascer após o diagnóstico de um câncer.

Sionelly Leite/Alagoas24horasVilmar Pinto recebeu parte do fígado de seu filho

Vilmar Pinto recebeu parte do fígado de seu filho

A possibilidade de salvar uma vida doando um órgão é para muitas pessoas uma realidade muito distante. Para a família do presidente do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), Vilmar Pinto, 49 anos, foi a maior prova de amor ao próximo que um ser humano pôde oferecer, principalmente pelo fato de ter partido de um doador vivo, seu próprio filho.

A vida de Vilmar Pinto não é mais a mesma desde que – há mais de dois anos – descobriu que estava com hepatite B, doença que havia levado à morte seu pai e seu irmão mais velho. A doença, descoberta por meio de exames de rotina, levou o profissional liberal a um tratamento para combater o câncer e, posteriormente, tentar entrar na lista de espera por um transplante de fígado.

Depois de superado o trauma do diagnóstico, Vilmar sofreou mais uma baque quando seu médico informou a família de que, devido ao estado avançado do tumor, ele não se enquadraria no perfil para entrar na lista de transplantes. Mas a sentença de morte foi revertida finalmente com uma boa notícia: Vilmar poderia receber de um doador vivo o órgão. Então teve início à etapa de exames e um de seus quatro filhos – o primeiro a fazer o exame de compatibilidade e o único a se enquadrar nas características exigidas – se mostrou compatível e pôde salvar a vida do pai com a doação de 60% do órgão.

“Não me vejo como um herói, pois sei que qualquer filho faria o mesmo por amor, principalmente pelo próprio pai. O amor supera o medo das conseqüências que se pode ter, pois a idéia de perdê-lo [pai] era muito mais dolorosa do que os riscos que eu poderia correr doando parte do meu fígado. Quando veio a possibilidade, não pensei em nada, apenas na certeza de que meu pai iria ficar bem”, explicou o também corretor de imóvel, Victor Pinto, de 26 anos.

Foram dois meses entre exames dos mais diversos e a assinatura de um termo de responsabilidade, no qual Victor assumia os riscos das complicações que poderiam surgir com o transplante. Mas tudo não passou de uma formalidade e o transplante foi realizado e considerado um sucesso pelos médicos.

“Nada supera a oportunidade de salvar a vida de alguém. Sempre fui consciente sobre a importância de se doar órgãos, mas nunca esperei que fosse sentir na pele o problema. Graças a Deus tivemos muita sorte e tudo deu certo. O transplante inter-vivos era a alternativa para que mantivesse meu pai vivo e não hesitei em nenhum segundo. Sinto-me um privilegiado em poder salvar a vida do meu pai”, afirmou.

Dois anos depois transplante, Victor garante que nada mudou na sua rotina de vida. Segundo ele, o período de cinco meses foi o necessário para a recuperação do corpo e regeneração do órgão. “Quando fiz os exames para a doação do órgão percebi que praticamente nasci com esse objetivo, pois o percentual que eu poderia doar era quase duas vezes maior do que o normal. Além disso, a satisfação de quem recebeu o órgão – seja de um cadáver, quanto de um vivo – e vê-lo voltando à rotina de vida é inigualável. Eu faria tudo isso novamente se precisasse salvar mais uma vez uma pessoa que amo”, completou.

Doador

Hoje se comemora o Dia Nacional do Doador. Segundo a ABTO, 60 mil é o número de brasileiros que aguardam por um transplante. No Brasil, os órgãos mais doados são as córneas e os rins. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2004 foram doados 5.419 córneas e 3.041 rins em transplantes pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Outras doações foram de: medula óssea (1.141), Fígado (807), Coração (192), Rim/Pâncreas (131), Pâncreas Isolado (44) e Pulmão (40). Do total de doações, 1.430 partiram de doadores cadáveres e 10.870 de doadores vivos.

A doação de órgãos no Brasil é regulamentada por lei desde 1997. De acordo com a legislação brasileira, dois tipos de doação são permitidos: doação de órgãos de doador vivo, se o doador for familiar até o 4º grau de parentesco; e doação de órgãos ou tecidos de doador falecido, determinada pela vontade dos familiares até o 2º grau de parentesco e mediante termo de autorização de doação.

Portanto, para se tornar um doador é necessário conversar com a família e deixar claro o desejo. Não é preciso deixar nada por escrito, mas os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte.

A doação de órgãos só é feita após a constatação de morte encefálica e se uma ou mais partes do corpo (órgãos ou tecidos) estiverem em condições de serem aproveitadas para transplantes. Para falar com as centrais estaduais de transplante, é só ligar para o Disque Transplante, pelo telefone 0800-611997. A ligação é gratuita.

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos