Está na hora de apagar as velinhas

Um amigo meu me disse certa vez que crescer dói. Não uma dor física, mas uma dor que vai se alastrando pelo corpo e tomando conta do juízo à medida que os anos vão se passando. Talvez seja por isso que muita gente insista em permanecer pequena.

Queria hoje poder não usar frases feitas – do tipo “o tempo passa” ou “estou ficando velho” – mas não há como fugir do lugar-comum. Até porque todos os anos as coisas se repetem e, pelo menos um dia, alguém lhe dar os parabéns por você estar justamente mais velho.

Acho um contra-senso desejar felicidades para quem está cada vez mais próximo do cemitério (no meu caso, além de estar próximo do cemitério por estar ficando mais velho, estou morando vizinho de um campo santo. Ou seja, mais perto impossível. O perigo vai ser errar de morada qualquer dia desses. Juro que não pretendo fazer isso. Nem morto). Confesso que, a não ser por uma boa festa de halloween, não vejo graça nenhuma ir parar num local desses.

Não me convence essa história de que o tempo lhe traz maturidade. O ser humano não pára de aprender. E o que é mais grave: o melhor aprendizado se dá justamente com os piores erros. Há dez anos, eu fazia muita besteira nesta vida. Percebi isso uma década depois. E tenho certeza que daqui a uma dúzia de anos, descobrirei, não sem me espantar, que continuo fazendo muita besteira.

O que sei é que o tempo vai passando e a gente vai ficando cada vez mais engelhado. Que nem uma uva-passa. E com o tempo, o número de velas sobre o bolo vai aumentando e seu fôlego para apagá-las vai diminuindo. A sorte é que no final só restarão duas velinhas. Uma em cada lado do caixão. Mas aí já não dá mais pra soprar. Mesmo assim, se você conseguir, comemore, porque você provavelmente foi parar dentro de uma mortalha por engano.

Envelhecer também tem seu lado bom: você pode fazer festa de aniversário. Pelo menos dá pra se vingar da sogra comendo os olhinhos dela que, diga-se de passagem, são uma delícia. E brindar com um bom vinho ou um uísque envelhecido 12 anos. Aliás, se envelhecer fosse tão vantajoso assim, haveria uísque 80 anos. Ou mais. Mas o meu parco conhecimento etílico só conseguiu conhecer esta bebida com uma dúzia de anos.

Para mim, em se tratando de aniversário, o melhor presente é descobrir que tudo o que você fez de errado ficou no passado. E que, se você pretende continuar errando, pelo menos no futuro vai ter sabedoria para enxergar os erros. Isso se sua vista não lhe pregar uma peça a longo prazo.

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