Chegou o Ano Novo; hora de voltar ao início

Luis VilarLuis Vilar

Entre os fogos de artifício que separam – em uma barreira imaginária – o passado do futuro, na passagem do Ano Novo, as praias brasileiras se tornam um cenário cosmopolita. As diferenças convergem em torno de um espírito de esperança, mudanças e expectativas. Hora de rabiscar as primeiras páginas da agenda, de deixar de beber, fumar, ou de rever velhos conceitos. Maceió não foi diferente.

Debaixo de fogos, suspiros emocionados, frases solidárias, rostos companheiros deram as boas vindas a 2006. No entanto, no outro dia o mundo retorna ao seu início lentamente. O riso se mistura a ressaca. É hora de voltar para casa, afinal de contas, dia 02 está batendo na porta. Muitos tiraram um cochilo nas areias, outros ainda estavam dentro da água. Uns em uma boate improvisada, que ainda não tinha perdido o pique, mesmo já sendo 6 horas da manhã.

“Ainda estamos comemorando o futuro que virá, sabe-se lá como. Afinal, agora podemos deixar o passado para trás e esperar um mundo melhor”, explicou a estudante Michele, 17, sentada na areia da praia abraçada ao namorado. Detalhe: um namoro que começou nas últimas horas de 2005. “Acho que este é o único acontecimento que não deixarei no passado”.

O mito grego de Sísifo talvez defina bem o espírito que toma o ser humano no dia do Ano Novo. Sísifo foi condenado a rolar com uma pedra até o topo da montanha e de lá soltá-la. Quando a pedra atinge o chão ele desce novamente e começa a empurrá-la mais uma vez. Comemora-se toda vez que se chega ao topo, mesmo sabendo que um novo início está a bater novamente na porta de Sísifo. O filósofo francês Albert Camus enxerga o mito como o balanço gradual que fazemos de nossos vidas, para que elas façam sentido.

“É como uma firma. A gente tem que fechar durante um dia do ano para reavaliar os nossos estoques. Atitudes tomadas, arrependimentos, enfim. Uma reavaliação para a busca de um ser melhor neste ano que entra”, coloca o comerciante José Carlos.

O outro lado

Quando as engrenagens retornam aos eixos, infelizmente algumas coisas do passado voltam ao lugar. Alheios a alegria de turistas e banhistas, algumas crianças e pedintes aproveitaram o Ano Novo de uma forma bem diferente: catando o lixo deixado – que não foi pouco – para ter alguma renda extra no primeiro mês de Janeiro. Expectativa de um deles: “Espero que este Ano seja melhor, que pelo menos eu consiga um emprego”.

Dividindo espaço com aqueles que não tiveram forças para voltar para casa – cochilando nas areias – cada catador esperava ter um início de ano com muitas latinhas amassadas e vendidas. Maceió por mais uma vez – em seu rito de passagem – viveu a crônica de uma cidade grande: fogos de artifício que decretam o fim e deixam no ar reflexões subcutâneas para um novo começo.

A Paz

Como coloca o compositor gaúcho Humberto Gessinger, em duas suas canções “que venha em paz o que futuro trouxer”. Pelo menos hoje, pairava um espírito de paz que era para todos, na orla marítima. Pegadas preguiçosas na areia decretavam a retomada da vida depois – segundo a Polícia Militar de Alagoas – de uma noite que não teve uma ocorrência sequer, na orla.

“Que isto seja um bom prenúncio”, falou um dos banhistas ao saber da informação. No entanto, apesar de não haver registros durante a virada do ano. O velho 2005 deixou seis homicídios e 15 ocorrências policiais, no último dia do ano. “Sei que é impossível, mas vamos nos conscientizar para diminuir estas coisas”, finalizou.

O trabalho

Houve também quem trabalhasse duro, nos preparativos e no pós-festa. Foi o caso dos garis e dos ambulantes. A praia amanheceu lotada de funcionários da limpeza urbana. “Temos que reorganizar a cidade e entregá-la limpa ainda hoje. É nossa função”, explicou um dos garis, que não parava de trabalhar, mesmo enquanto conversava com a equipe de reportagem do Alagoas 24 Horas. Os ambulantes também ajudaram a recolher o lixo das areias, enquanto desarmavam tendas e carrinhos.

Enfim, apesar de todos os clichês da noite e de algumas novidades, o ano de 2006 chegou com clima de fé e esperança, para muitos. Agora, “estamos indo de volta para casa”, como diria o compositor Renato Russo. “Que este sentimento nos proteja durante todo o ano” colocou José Carlos. Como promessas feitas e sonhos alçados aos ventos, só resta agora esperar pelos outros 364 dias.

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