O mundo que merecemos

Vivemos no País do marketing, das musiquinhas bonitinhas que, aliadas a imagens de natureza e pessoas sorridentes, nos dizem o quanto é bom ser brasileiro, ajudar o próximo, investir em educação, dar um bom exemplo… as musiquinhas grudam em nossos ouvidos, e sem esperar, as repetimos no dia-a-dia. Vivemos no País dos clichês, das frases feitas, dos conceitos de certo e errado que variam segundo nossas conveniências.

Para não sair do foco, então, vou ser clichê: Vivemos no País da impunidade. Uma impunidade alimentada por leis muito brandas, ineficazes, por brechas que mais parecem crateras, de tão, como diria, “elásticas”… mas isso não é de se admirar, uma vez que vivemos no País onde tudo é uma questão de ponto de vista, ou de vista grossa, onde o conceito de moral é tão elástico quanto as tais brechas da lei. Afinal, é permitido dar um jeitinho, roubar um pouquinho… só não pode exagerar, se não pega mal.

Meu marido, que é uma pessoa que admiro, principalmente pelo caráter, costuma repetir sempre que em questão de moral, de caráter, não existe meio termo. Sempre o ouvi dizer isso meio incrédula, pois como a maioria dos brasileiros, também sou flexível, também acho que não é bem assim, que é radicalismo julgar que caráter é algo que se tem ou não. Hoje, algo me abriu os olhos para o que ele sempre falou… Não existe gente mais ou menos honesto. O certo é o certo e o errado é o errado. E não deveria haver nenhuma elasticidade nesse conceito.

Porque é justamente essa elasticidade, essa tolerância, que nos levou aonde chegamos. “Se beber não dirija, se dirigir não beba”. A regra é clara, mas é a nossa tolerância que diz, implicitamente, que pode sim, beber um pouquinho, socialmente…
“Não roubarás”. Certo. Um mandamento. Mas é a nossa tolerância que diz: do imposto de renda pode, só um pouquinho…Mais um exemplo? “Não matarás”… aí, mais uma vez, a nossa “flexibilidade” entra em ação: só se for para fazer justiça com as próprias mãos.

Estou indignada com tantos crimes sem punição, com tanta irresponsabilidade, com tanto descaso pela vida humana, pelo próximo. Estou indignada, insegura e triste. Não só por tudo o que listei, mas por enxergar a minha parcela de culpa, a sua, a nossa, em tudo isso. As nossas leis são frágeis sim, mas o nosso caráter também é. A nossa indignação não significa nada, por que ela é passageira. É claro que é preciso mudar as leis, mudar tudo enfim…mas chega de musiquinhas, chega de tanta flexibilidade. Nenhuma mudança jamais será eficaz se não entendermos que o certo é o certo, sem “mas”, sem “talvez”, sem “e se”…
Quando pudermos enxergar isso sem o véu da hipocrisia, veremos que estamos vivendo no mundo que merecemos.

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