Sobe para 17 o número de homossexuais mortos em Alagoas

O número de crimes em seis meses já iguala aos registrados de todo o ano passado

Mais um crime contra homossexuais foi registrado no Estado de Alagoas. Com isso, sobe para 17 o número de homossexuais mortos em seis meses, igualando com todos os crimes registrados no ano passado. Um dado preocupante visto que, até o momento, nenhuma medida de coibição foi adotada, além do fato de a maioria dos responsáveis pelos crimes permanecerem impunes.

Para o presidente do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), José Carlos Mérten, o número chegou a uma proporção alarmante em seis meses e é necessário que se tome rapidamente uma medida que impeça o aumento desses crimes.

“Já pedimos aos responsáveis pela segurança pública no Estado que tome providências. Mas como ninguém até agora deu respaldo vamos solicitar do Ministério Público uma audiência pública e reunir todos os movimentos envolvidos. Precisamos tomar medidas rapidamente para que este número não cresça ainda mais”, explicou Mérten.

Há um mês os representantes do GGAL se reuniram com o secretário coordenador de Justiça e Defesa Social, coronel Ronaldo dos Santos, pedindo maior empenho nos casos de crimes contra homossexuais no Estado. Como resultado da reunião, na próxima segunda-feira (24.07) o secretário vai apresentar o relatório com dados sobre o andamento nas investigações dos crimes.

“Seria leviano da nossa parte afirmar que todos estes crimes são homofóbicos. Mas é preciso atenção, pois a maioria dos crimes contra homossexuais é. A homofobia é um fato assustador. Eles não se contentam em apenas matar um homossexual, eles estupram, cometem atos de sadismo e esquartejam. Eu me sinto inseguro ao andar nas ruas. Sei que posso ser a próxima vítima. Tenho medo porque os meios responsáveis não me proporcionam a segurança devida”, afirmou o presidente do GGAL.

Preconceito

Segundo o presidente do GGAL, José Carlos Mérten, o grupo defende a existência de uma Delegacia Especializada para atendimentos aos casos envolvendo homossexuais. Para ele, ainda existe muita resistência por parte dos agentes de polícia no trato com o homossexual.

“Nós já solicitamos uma delegacia especializada e a capacitação dos agentes de polícia para evitar que continue o preconceito com o homossexual no momento em que ele precisa prestar queixa. O homossexual sofre muito preconceito e isso precisa mudar”, disse.

Alguns grupos defensores das causa homossexuais em outros estados chegaram a propor, como forma alternativa, que o atendimento a homossexuais fosse feito nas Delegacias da Mulher, com isso aumentaria o número de denúncias de agressão.

Para o secretário coordenador de Justiça e Defesa Social, coronel Ronaldo dos Santos, a criação de uma delegacia especializada para crimes contra homossexuais é complicada pois não existe demanda suficiente para aprovação. Para ser criada a especializada, a Assembléia Legislativa precisa aprovar o projeto.

Campeão mundial

Uma pesquisa divulgada pelo Grupo Gay da Bahia apresentou no mês passado que o Brasil é o campeão mundial de crimes contra homossexuais. Os dados foram coletados pelo próprio grupo baiano, pois não há medições precisas sobre morte de homossexuais no mundo, apenas estudos.

O trabalho mostrou que no ano de 2000, 130 gays foram assassinados no país. As estatísticas mostram que nos Estados Unidos, que têm cerca de 250 milhões de habitantes – 80 milhões a mais do que o Brasil -, cem pessoas foram mortas por este motivo.

Morosidade

Outro fato preocupante apontado pelos grupos de defesa da causa é a impunidade dos criminosos e morosidade da Justiça. Um exemplo foi o caso do brutal assassinato do vereador por Coqueiro Seco, Renildo José dos Santos, de 26 anos, ocorrido em 10 de março de 2003.

O caso teve repercussão nacional pela forma como ocorreu. Renildo foi seqüestrado, empalado, torturado, morto, degolado e teve partes de seu corpo queimados. O julgamento dos acusados demorou 13 anos pra acontecer.

O julgamento de três, dos cinco acusados de cometer o crime, ocorreu no dia 31 de maio. O soldado Antônio Virgílio de Araújo foi absolvido e o soldado Paulo Jorge de Lima e o sargento PM Luiz Marcelo Pessoa Falcão foram condenados a 18 anos e seis meses de prisão.

Dos outros dois dos acusados, o ex-soldado Valter da Silva é considerado morto e o fazendeiro José Renato de Oliveira e Silva – acusado de ser o mandante – teve o julgamento adiado e, possivelmente, irá à júri ainda este mês.

Último caso registrado

O caso de número 17 de crimes contra homossexuais este ano foi registrado hoje com a morte do travesti Everton Estevão dos Santos, que foi executado com um tiro na cabeça em uma viela da Grota do Moreira. O crime ocorreu a poucos metros de sua residência.

Até o momento, a Polícia Civil deteve para averiguação o menor J.H.S.S., 15 anos. Segundo informações da polícia, o garoto teria se apresentado como testemunha, afirmando que estava na varanda de casa quando ocorreu o homicídio e teria escutado três disparos e, em seguida, foi até a porta de casa para ver o que tinha acontecido.

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos