Antes, nada era de fato meu

Em um dos últimos artigos que publiquei falei sobre a presença de minha filha em minha vida. Recebi alguns e-mails. Não imaginava isto. A Internet me surpreendeu. Não consigo responder, peço desculpas. Limitações. Não quero ser meramente impessoal. Agradeço muito. Muita gente falando que sente a mesma coisa. É este sentimento que une algumas pessoas ainda que distantes que me dão a suave sensação de que os ideais não faliram e que temos o que esperar neste mundo de meu Deus, mesmo muitas vezes sem ter ao certo para onde apontar o nariz, diante do cotidiano capitalista.

Por esta razão, escolhi dar a resposta aos que me escreveram em artigo.

Um e-mail em especial falava de forma bem simples, mas bastante profunda sobre o amor. Não vou expor o nome de quem me enviou porque não pedi para fazer isto. Reza a regra do bom jornalismo que você só deve expor as fontes com a autorização destas. Mas a carta virtual invadiu um pouco o mundo interno. A leitora não satisfeita ao falar de Beatriz e comparar meu texto com o sentimento que sente por sua filha, solicitou as características físicas de Bia e perguntava sobre a minha esposa.

Quanto a Beatriz ela é baixinha como o pai e dizem que parece muito comigo. Já sobre minha mulher, não sei o que falar sobre Vanessa Alencar. Meu sentimento por ela por vezes é tão contemplativo que não se transmuta em palavras. Se for para falar de Vanessa resolvi homenageá-la com o escritor que ela mais gosta, já quea literatura é uma das muitas das nossas paixões em comum, ou incomuns. Não sei ao certo. Pois bem, o escritor que ela tanto admira, o tal Gabriel Garcia Márquez, diz assim em uma de suas obras (não lembro qual): “Te amo por quem tu és, senão por quem sou quando estou contigo”.

Nunca fui tão melhor que eu mesmo, quanto depois de casado. Sou uma pessoa de dificílima convivência sei disto. Tenho todas as características de um chato digno de ser chato. Prefiro a solidão, aos fins de semana em baladas. Tenho em meus livros parceiros e amigos, o que por vezes me afasta de pessoas. No entanto, convivo – em contrapartida – com um sentimento bem sincero: só está definitivamente ao meu lado quem realmente me ama.

Vanessa Alencar – creio eu – é a mulher que me ama tanto a ponto de arriscar me perder “me mostrando um mundo que às vezes me nego a ver”. A recíproca é verdadeira. No entanto, a personalidade dela é o completo oposto: a pessoa mais sociável e bela que conheço. Linda, numa concepção mais ampla possível da palavra. Sou pequeno perto dela. Penso como Carlos Drummond de Andrade ao seu lado: “O Amor é assim mesmo”. E é desta forma – como diria Paulo Leminski – que quando a noite é enorme, que em mim tudo dorme, tudo, menos o seu nome…

E como falar muito às vezes é falar nada e o amor sempre coube em qualquer canção pop de três minutos, resolvi não encerrar com minhas palavras, mas por tudo o que quero dizer em um dos mais belos – pelo menos para mim – poemas de Pablo Neruda:

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

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