Mãe de menor grávida morta diz que ex era violento: ‘Não aprovei namoro’

Vítima, de 16 anos, foi estrangulada e jogada em serra de Jaraguá, Goiás. Ex-namorado confessou à polícia que matou por desconfiar de paternidade.

Shayda Munielle, 16 anos, foi estrangulada e jogada em serra (Foto: Reprodução/Facebook)
Shayda Munielle, 16 anos, foi estrangulada e
jogada em serra (Foto: Reprodução/Facebook)

A família de Shayda Munielle Camargo, de 16 anos, grávida de sete meses, que foi encontrada morta no Parque Ecológico Serra de Jaraguá, na região central de Goiás, diz que nunca aprovou o namoro da adolescente com o menor, de 16, que confessou o crime. “Ele era violento com ela, eu não aprovei esse namoro, mas tive que aceitar. Mesmo sabendo que ela não seria feliz com ele, nunca imaginei que ele a mataria”, disse ao G1 a mãe da vítima, a gerente de confecção Seir Camargo.

Segundo Seir, entre idas e vindas, o relacionamento dos dois durou cerca de um ano. Assim que a garota engravidou, eles romperam. “Ele disse que desconfiava dela e que não ia assumir a paternidade. Eu contei para a família dele e disse que a gente tomaria conta da Shayda por conta própria. Depois, quando o bebê nascesse, faríamos um exame de DNA. Porém, quando ela estava com cerca de seis meses de gestação, ele começou a se reaproximar, dizia que a amava e acabou atraindo ela”, conta.

De acordo com a mãe, mesmo com o rompimento, a filha demonstrava estar apaixonada pelo suspeito e se encontrou com ele escondido. “Um dia antes de sumir, na quarta-feira (1º), ela se encontrou com ele para tratar da gravidez. Ela me contou tudo e não vi problema. No entanto, na quinta-feira (2), ela me disse que iria até a casa de uma amiga e eu acreditei. Porém, como não voltou, começamos a procurar por ela na cidade, e os amigos não a tinham visto. Aí eu fiquei desesperada”, relatou.

Após procurar pela menina em toda a cidade, sem sucesso, a família registrou, na sexta-feira (3), o desaparecimento na delegacia. “Durante esse período, ele [suspeito] esteve o tempo todo ao nosso lado, se mostrando preocupado com o filho, com a Shayda e até nos ajudou nas buscas. Eu não desconfiei dele em momento algum, pois como alguém teria a coragem de fazer algo tão grave assim e estar ao lado da família? O nosso sofrimento foi ainda maior no sábado (4), quando ela foi achada”, conta Seir.

O corpo da adolescente foi encontrado por um detento da cadeia da cidade, que havia fugido do presídio na sexta-feira. Segundo a polícia, o preso estava cruzando o parque para encontrar um comparsa, que o ajudaria na fuga, quando localizou o corpo, que estava a cerca de 50 metros do topo da serra.

Quando a polícia conseguiu recapturar o fugitivo, ele informou que havia localizado a vítima e levou a polícia até o local, que fica em uma área de difícil acesso. O Corpo de Bombeiros foi acionado e utilizou técnicas de rapel e multiplicador de força para retirar a garota morta, que foi entregue à Polícia Técnico-Científica.

“Antes da notícia oficial da polícia chegar, uma conhecida me mostrou uma foto que estava circulando no celular, que mostrava o corpo encontrado na serra. Eu quase caí dura, pois reconheci a Shayda pelas roupas. O rapaz [suspeito] estava aqui em casa e na hora acabou se entregando, pois disse: ‘Como é que ela se enforcou e se jogou lá de cima’. Porém, até aquele momento, ninguém sabia a causa da morte. Um policial que estava aqui já desconfiou na hora e relatou o fato ao delegado. Mas eu, muito abalada, continuava sem desconfiar dele”, afirmou a mãe da vítima.

Motivação

De acordo com o delegado Marco Antônio Maia, responsável pelo caso, o adolescente, apreendido na segunda-feira (6), disse que matou a vítima por duvidar da paternidade do bebê. “Ele disse que a matou para acabar com boatos de que ele não era o pai da criança que ela esperava”, explicou.

O delegado diz que desde o início suspeitava do menor, pois ele manteve um relacionamento com a vítima na época em que ela engravidou. “Os dois namoravam e estavam separados há cerca de cinco meses. Sendo assim, ela engravidou ainda quando estavam juntos. Apesar disso, o menor suspeitava de que não era o pai da criança e disse não suportar os comentários de populares de que ele havia sido traído. Por isso, ele a matou”, relatou.

Maia contou, ainda, que o suspeito usou um pedaço de jeans para enforcar Shayda. “Ele premeditou o crime, levou essa tira de pano, a chamou até a serra e, após uma conversa, a enforcou. Depois, jogou o corpo em uma ribanceira. Mesmo dizendo que está arrependido do que fez, acredito que ele agiu com muita frieza o tempo todo”, disse.

O menor foi levado inicialmente para a delegacia de Jaraguá. No entanto, para preservar sua integridade física, ele foi transferido para um local não revelado pela polícia e segue apreendido. “A população está muito revoltada com esse caso, pois ele participou do enterro da vítima, prestou apoio aos familiares, então, mostrou crueldade, pois sabia de tudo o que tinha acontecido. Se deixássemos ele lá, seria linchado”, destacou o delegado.

Segundo Maia, o menor vai responder pelos atos infracionais de ocultação de cadáver, homicídio e aborto. “Infelizmente, pelas nossas leis, ele não passará mais do que três anos apreendido. Apesar da crueldade do crime que cometeu, ele estará de volta à sociedade em pouco tempo”, concluiu.

Enterro

O corpo de Shayda foi enterrado no domingo (12). Segundo a mãe, o feto continuou na barriga da filha, que teve um braço e as duas pernas quebradas em função da queda. “Infelizmente não pudemos nem ver a carinha do bebê, que já era tão querido por todos. O caixão dela precisou ser lacrado, pois ela já estava em avançado estado de decomposição. Mas nunca vou me esquecer da imagem dela, caída na ribanceira, toda torta e inchada”, lamentou Seir.

A mãe conta que durante o enterro o suspeito chegou a passar mal. “Na verdade, eu acho que ele simulou, fingiu. Ele já tem uma nova namorada e chegou lá acompanhado dela, demonstrando estar sofrendo. Mas agora, depois que ele confessou, entendi que ele apenas estava tentando despistar as suspeitas contra ele”, disse.

Para a gerente de confecção, quando o adolescente confessou o crime à polícia, a sensação que ela teve foi de decepção. “Eu nunca fui com a cara dele, mas depois que eles começaram a se relacionar fui aceitando e, por conta do bebê que eles esperavam, posso até dizer que superei isso. Infelizmente ele tomou essa atitude, e a minha maior vontade nesse momento seria encontrá-lo para perguntar o que o levou a matá-la. Minha filha era cheia de vida, estava muito feliz com o filho, e não podia ter acabado assim”.

Mesmo revoltada com o caso, Seir faz questão de ressaltar que não culpa a família do menor. “São pessoas de bem, direitas e honestas. Quando a autoria do crime foi revelada, muita gente quis ir até a casa deles para linchar os parentes, mas eu implorei para que não fizessem isso. Assim como eu, sei que eles estão sofrendo muito, e peço que as autoridades também os protejam. Não é causando mais dor que vamos trazer minha filha de volta”, destacou.

Dor e saudade

Na casa em que a família de Shayda mora, a movimentação de parentes e vizinhos é constante. A mãe conta que muita gente a tem procurado para dar apoio, mas o que ela mais quer agora é justiça. “Sei que ele [suspeito] é menor e que não ficará mais do que três anos apreendido. Mas, mesmo assim, o que ele fez é muito grave e ele tem que pagar por isso. Imagino que a consciência dele vá pesar um dia, pois ele matou o próprio filho também”, disse.

Um quarto da residência havia sido reformado para acolher a criança. Os móveis, como berço, cama e guarda-roupas, já estavam instalados no local. Além disso, Shayda já tinha ganhado um carrinho de bebê e muitas roupas para o enxoval.

“Meu neto se chamaria Arthur Felipe. No começo ficamos chocados com a gravidez, mas logo depois nos envolvemos e o amamos desde sempre. Nunca imaginei que ele não usaria essas roupinhas, esse quarto. Tudo estava sendo preparado com muito amor para recebê-lo”, disse Seir.

Shayda, que cursava o 2º ano do ensino médio, sonhava em concluir os estudos para decidir o que iria cursar na faculdade: enfermagem ou veterinária. “Ela dizia que, mesmo com o filho, não iria parar de estudar. Eu dava todo o apoio, dizia que o bebê não seria impedimento, que eu a ajudaria, e que ela iria longe. Ainda não consigo acreditar que minha filha tão querida, tão amada por todos, nos deixou de uma maneira tão trágica. A saudade é imensa”, concluiu.

A família da vítima está organizando uma manifestação, no próximo sábado (11), às 16h, em Jaraguá, para homenagear a adolescente e para pedir a redução da maioridade penal.

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