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Acidente da Petrobras: IC afasta perito

A direção do Instituto de Criminalística (IC) entrega na próxima semana à Delegacia de São Miguel dos Campos os laudos conclusivos sobre o acidente na Estação de Furado, em São Miguel, que matou quatro pessoas. Um grande segredo cerca os papéis, com novidades sobre a negligência de trabalhadores ou da própria Petrobras no instante de manutenção das tubulações de gás natural.

Mas, o pior acidente da história da Petrobras em terras alagoanas se transformou em uma maldição no instituto. Até a conclusão do laudo, peritos do IC se dividiram internamente e até o chefe da equipe, Ivo Werneck, foi pressionado a deixar o grupo. De fato, isso aconteceu há um mês, em uma reunião a portas fechadas com a direção do IC e o subsecretário de Defesa Social, Washington Luiz, na Secretaria de Defesa Social. A direção do instituto confirmou a reunião, o afastamento do perito, mas disse que isso não atrapalhou o andamento dos trabalhos. Ver detalhes nesta edição.

O acidente na Estação de Furado, que abastece Sergipe e Alagoas, aconteceu no dia 23 de setembro e matou quatro trabalhadores.

A reunião
A possibilidade de erro da própria Petrobras e as ordens da companhia para que a apuração possa indiciar desde o gerente da estação ao mais simples funcionário agitaram os corredores da Secretaria de Defesa Social. Mês passado, uma reunião, convocada pelo subsecretário Washington Luiz, deveria decidir o futuro do perito Ivo Werneck.

Werneck é apontado como um dos mais competentes peritos do IC. Com 58 anos e formado, em 1973, em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o perito entrou através de concurso público para o IC há cinco anos. Em sua ficha funcional não consta que ele tinha experiência de trabalho em estações da Petrobras, mas, outro perito, consultado pelo jornal, disse que este tipo de trabalho não é considerado “complexo”: “A área onde houve o acidente não foi em toda a estação, mas apenas nove metros quadrados. Portanto, é tudo considerado bastabte fácil”.

Werneck visitou a estação de Furado cinco vezes. A primeira delas no dia 23 de setembro, quando houve o acidente. Só que no mês de outubro, na sala do subsecretário, a proposta era retirar Werneck dos trabalhos. Não era um dos melhores climas. “Vocês estão me afastando a contra-gosto. Não vou pedir para sair. Agora, seria mais honesto da parte de vocês me afastarem porque desde o início eu disse que teria condições de continuar neste caso, apesar do meu problema de saúde”, disse o perito, testemunhado por mais outras duas pessoas, na reunião. O “problema de saúde” não foi revelado.

A proposta partiu da diretora do IC, Rosana Coutinho. O afastamento foi decidido. Ivo Werneck não quis. O subsecretário bateu o martelo: o perito Alberi Espíndola e outro, conhecido como Rodolfo, perito na área de mecânica, assumiram as funções.

“Não quero falar sobre isso. Não estou mais no caso. Falem com a direção do instituto”, disse Werneck à reportagem. Ouvida, Coutinho justificou: “De fato, houve o afastamento, mas por causa de problemas de relacionamento na equipe. Não foi imposição da direção. O Ivo propôs condições que não poderiam ser atendidas. São questões particulares, não queria divulgar”, explicou a diretora do IC.

Mesmo em greve, os peritos do instituto, segundo a dirigente, não pararam o laboratório para a conclusão do laudo sobre o acidente na Estação Furado. “Ficou decidido em Assembléia com os trabalhadores que a intenção não era prejudicar os trabalhos. O laboratório continuou aberto para este caso”, contou.

O laudo
“Na semana que vem, vamos entregar o laudo do instituto à Delegacia de São Miguel dos Campos. Antes da entrega, vamos chamar a imprensa para anunciar as conclusões tiradas”, disse a diretora do instituto, Rosana Coutinho.

O blog obteve algumas informações sobre a papelada. A equipe formada por dois peritos do IC e mais dois, cedidos pela Polícia Federal, concluiu que uma fagulha pode ter sido a causa do acidente. Uma fagulha também pode ser entendida como falha humana, causada por um técnico ou pela própria empresa.

Segundo apuração, a área onde houve a explosão – e consequentemente a morte imediata dos quatro trabalhadores- tem nove metros quadrados. O sistema é elétrico e acionado por mãos humanas.

Este sistema elétrico ativa uma válvula, tecnicamente conhecida como solenóide. Esta válvula ativa uma outra, o atuador, influenciando outra válvula, esta em manutenção no instante do acidente na estação.

O atuador é um pistão, que controla a passagem do gás natural pela tubulação. Na comparação, é como um registro de um chuveiro. Ele deveria estar desligado no instante do acidente para a manutenção. Supostamente, um dos fios elétricos foi “partido” no manejo da tubulação, o que pode ter acionado a passagem do gás.

Segundos antes da explosão, houve um vazamento na tubulação de gás natural e uma pressão de 80 Kg/centímetros quadrados. “É uma pressão considerada pesada. É como se fossem 80 quilos apoiados em uma unha. Uma faísca é fatal”, disse uma das fontes, consultadas pela reportagem.

Com o vazamento, o que estava “envolvido”, no jargão técnico, ou atingido pelo gás se queimou, como árvores, dois veículos. O aço não se carbonizou. Os corpos, na descrição, foram reduzidos a quase pó, informou uma fonte. A Petrobras não tinha brigada de incêndio, no momento do acidente. Para apagar o fogo, provocado pelo gás, só desligando a chamada “chave-geral” na própria estação.

Os erros
Houve uma sucessão de erros, segundo apurou o blog. Dos quatro funcionários mortos, três eram pedreiros, contratados por uma empresa terceirizada para construir batentes ou pequenas pontes na estação, atividade considerada “normal”.

A manutenção das tubulações de gás também é um serviço de rotina. Isso porque o quarto funcionário tinha a tarefa de observar microfissuras ou microvazamentos na tubulação de gás.

A proposta é que –para a realização deste trabalho- considerado de alto risco, por causa da possibilidade de explosão- este funcionário deveria ter desligado uma das válvulas da Estação. E ela de fato estava desligada. Problema é que um erro no deslocamento da tubulação pode ter rompido um dos fios elétricos, que controla o fluxo de gás, acionando novamente o gás. O resto é sabido: houve vazamento e explosão.

Porém, a válvula desligada também interromperia o fornecimento de gás natural para Sergipe e Alagoas. Essa outra possibilidade- um pedido para não desligar a válvula- não está descartada.

Na descrição da perícia, aparecem dois outros dos possíveis motivos do acidente. Próximo ao local de manutenção, havia um caminhão e um carro, ambos da Petrobras. O caminhão tinha um braço mecânico, para levantar a tubulação de 200 quilos, por onde passava o gás. Se o veículo estava ligado, a fagulha pode ter saído do motor, acarretando o acidente. Ou ainda o carro pode ter sido este motivo.

No laudo do Corpo de Bombeiros e da Petrobras, há uma mesma conclusão: houve uma “ação pessoal acidental” provocada por “imprevidência, imprudência ou negligência”. Não é só isso. O Samu de Arapiraca foi acionado, mas, no meio do caminho, voltou para a cidade. Não há como se comprovar os pedidos de socorro dos funcionários da Petrobras, no dia 23 de setembro. Isso porque o sistema de gravação telefônica do serviço de emergência estava quebrado, portanto, o registro não aconteceu.

O encontro do IC com a imprensa, na próxima semana, pode revelar novos fatos ao ainda misterioso acidente na estação pertencente à maior estatal brasileira.

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