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Collor, Lessa e Téo: os inimigos cordiais

O quadro eleitoral de Alagoas reúne velhos inimigos, que ocupam palanques separados ou estão unidos dependendo das circunstâncias. São as conclusões do professor-doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Alberto Saldanha. Ele leva à frente um trabalho interessante: uma análise da era Arnon de Mello, o jornalista que governou Alagoas na década de 50 e criador da expressão"União por Alagoas", copiada várias vezes, por diferentes correntes, ao longo dos anos, e bastante útil nas votações.Veja o porquê na entrevista abaixo:

Temos um quadro eleitoral em Alagoas com poucas novidades onde velhos aliados estão em lados opostos: Fernando Collor (PTB), Ronaldo Lessa (PDT) e Teotonio Vilela Filho (PSDB). O que se pode esperar deste confronto?
Uma disputa entre velhas figuras tentando se apresentar como a salvação, a novidade, o caminho melhor para desenvolver Alagoas. O eleitor vai ser chamado a pensar o porquê destes candidatos, tendo sido governadores, não terem feito aquilo que prometeram antes. Chama atenção disso, fazendo uma retrospectiva da política alagoana da década de 80 para cá, que estas figuras atuam desde aquela época, alguns momentos juntos, separados e sempre na tônica do melhor caminho: de fazer o bem, da união por Alagoas. A gente vai encontrar uma disputa com poucas novidades, talvez a inelegibilidade de Ronaldo Lessa- isso pode interferir na campanha. A meu ver, pela chapa que Fernando Collor montou, que não é tão representativa na disputa ao Senado, acho que ele joga nesta possibilidade: mais uma vez, ele tenta se favorecer da inelegibilidade de Lessa, como foi na eleição ao Senado, em 2006. Isso pode trazer novidade porque o eleitor vai pensar que tem menos opções e ao mesmo tempo a incapacidade da candidatura Lessa ir à frente.
E os outros candidatos?
Os que não estão neste bolo são para marcar posição. O laranja do PRTB e duas candidaturas de partidos de esquerda, mais à esquerda da chamada “esquerda verdadeira” que não tem condições de empolgar multidões.
Pois é: os laranjas são lançados em uma disputa geralmente quando se percebe que uma votação não vai ser uma “barbada”. Esse pode ser o termômetro dessa “novidade”?
Não vejo grandes mudanças, a estratégia é a mesma. O quê a gente pode dizer é que estes grandes caciques souberam enrolar- e bem- a esquerda alagoana. Os partidos de esquerda estão divididos entre estas candidaturas e até o momento, nesta composição toda de chapa, os vitoriosos continuam sendo o senador Renan Calheiros (PMDB) e Fernando Collor (PTB). Renan Calheiros tirou Ronaldo Lessa da disputa ao Senado, construiu uma chapa que lhe interessa para a reeleição; Fernando Collor retirou o prefeito de Maceió, Cícero Almeida (PP) da disputa ao Governo do Estado, onde Cícero era um rival de peso e a gente assiste o quê? São vitoriosos porque Renan vai ter os votos das três coligações: Fernando Collor, Téo Vilela e Lessa. É algo impressionante.
O senhor está fazendo um estudo sobre a era Arnon de Mello, à frente do Governo de Alagoas, na década de 50. Ele cunhou a expressão “União por Alagoas”, um discurso, ao longo de mais de 50 anos caiado pela esquerda, direita, centro. Fale um pouco disso.
Esse discurso é recorrente. Cumpre-se uma estratégia de convencer o eleitor de que sempre se vai construir algo novo a partir daquele momento. É uma tendência nossa de tentar esconder o passado. Então, eu sempre me apresento como o novo porque é complicado discutir o passado. Porque ao discutir o passado a gente vai encontrar as relações de A, de B e de C que estiveram lá atrás juntos e que momentaneamente estão em palanques opostos. A união por Alagoas é recorrente primeiro porque Alagoas não consegue mudar esta realidade. Os interesses de mudança são bloqueados por estes grupos políticos. Por isso o discurso é recorrente: o Bem contra o Mal, o que tem Sangue e o que não tem Sangue. Só que quando chega na hora H, a de mostrar a diferença, ela desaparece. Veja que se mandam recados, mas Teotonio Vilela nunca colocou na Justiça o Ronaldo Lessa, que teria lhe deixado R$ 400 milhões em dívida no Executivo. E a herança maldita? Todo mundo é “união por Alagoas” para superar a herança maldita, mas quem deixou a herança? Então, a herança nunca tem dono, ela sempre foi do outro, não é mais minha, está com você, enfim. Observa-se a cordialidade de não atingir o inimigo porque podemos estar juntos mais na frente.
Pois é: Téo Vilela tem dois candidatos ao Senado, Benedito de Lira (PP) e José Costa (PPS), mas faz aliança branca com Renan Calheiros…
Ele adotou a mesma linha de Renan: não fecha portas.
E ninguém fecha portas nesta eleição.
Isso. Só o PT que achou que fecharia portas. Iria indicar Lessa, ter o vice de Lessa, a Dilma Rousseff iria carregar o PT nas costas e o partido viraria vice-governador, fazer uma grande bancada. Hoje corre o risco de sair sozinho, de não eleger ou eleger além do que estava prevendo.
Em 1992,a esquerda tinha seu representante: Ronaldo Lessa. Em 1996, a esquerda foi representada por Kátia Born e Heloísa Helena. Em 1998, Ronaldo Lessa, ao chegar ao Governo do Estado. E hoje? A esquerda acabou?
Não, ela sucumbiu às práticas políticas que tanto condenava. As grandes lideranças que alcançavam os cargos do Executivo ao invés de terem aprofundado o processo de democratização da política, de incorporação dos segmentos organizados, de enfrentar o mundo da violência em Alagoas, sucumbiu à lógica da governabilidade. Para garantir a governabilidade, Lessa negociou com deputados na Assembleia, Kátia Born negociou com os vereadores na Câmara, as políticas de Estado ajudaram a cooptar o movimento sindical. Tudo isso com o manto de projeto de esquerda, que oscilou: Lessa foi favorável ao Governo Federal- esteve ao lado de Fernando Henrique Cardoso- outra hora esteve ao lado de Lula, outra hora brigou com Lula…
… depois voltou com Lula, aceitou uma assessoria no Ministério do Trabalho depois da derrota na disputa ao Senado com Collor, em 2006, hoje volta apoiado por Lula, ao Governo…
Ao mesmo tempo fica o PT, com a saída de Heloísa Helena do partido. Pensava-se em uma correção de rumos: no primeiro mandato de Lessa ele teria abandonado as propostas de esquerda, tinha se adequado ao grupo dos 14 na Assembleia, o PT e outros partidos rompem com Lessa, lançam a opção Heloísa Helena, que desiste da candidatura e quebra por si só essa correção de rumo, o quê readequou o discurso de Lessa de ser o “anti-Collor”. O que aconteceu? PT, PPS, PC do B trataram de voltar ao Governo Lessa em 2002, com a eleição de Lula, e depois tiveram de sair do Governo porque Lessa nunca construiu um sucessor, porque os ronaldízios não deixavam, porque a relação caciquista dele com os outros partidos imperava. Vide o resultado da eleição dele em 2004: se impôs o nome do Alberto Sextafeira e Lessa não queria brigar com Kátia Born. Virou cada um salve-se quem puder. O PSB que sempre esteve no projeto Lessa diz agora que Téo Vilela é a mudança de Alagoas, a retomada, o equilíbrio. E não apresenta o porquê ao eleitor de ter andado este tempo todo com Lessa. E o PT, caldatário da macropolítica nacional, representada em Alagoas por Renan Calheiros. É uma situação meio melancólica da esquerda.
E a esquerda de Heloísa Helena?
Também conduzida por um cacique, uma liderança messiânica que não importa ao partido e sim a ela, a ponto de ela dizer que não vai votar no candidato a presidente da República do partido dela porque ela gosta da Marina. É uma demonstração deste personalismo e o PSOL sempre vai ser um partido isolado porque o objetivo é não se misturar com os porcos.
Heloísa é o Lula de calça jeans?
É o Antônio Conselheiro, ela vai no pensamento messiânico: através de um ser iluminado, ela vai alertar o seu povo.

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