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Em escola-modelo de Alagoas, 30% fora de faixa

Em escola-modelo de Alagoas, até alunos-surdos estão fora de faixa
Odilon Rios/ de Alagoas
A Escola Estadual Tavares Bastos, em Maceió, com 1.490 alunos, é considerada modelo em Alagoas tanto no método de ensino como na inclusão de alunos surdos nas salas de aula. Tão boa é condição do lugar que todos os anos os pais dormem na fila para conseguir uma vaga em um dos melhores colégios públicos do Estado.
Mas, a fama não mudou uma realidade perversa. 30% dos alunos estão fora de faixa, ou seja, alguns se tornaram adultos e continuam nos bancos escolares do Tavares Bastos. É o caso de Ricardo Silva da Cruz, 19. Ele faz o primeiro ano do segundo grau, entrou na escola com dez anos, porém, tem uma jornada de trabalho quase insuportável: acorda às quatro da manhã para ir aos sinais de Maceió vender morango, feijão verde “ou o que tiver na mão”, completa. “Minha mãe não sabe ler; meu pai morreu há muito tempo e tenho seis irmãos. Não posso deixar de trabalhar”, afirma.
Os olhos vermelhos e o rosto com expressões de cansaço não escondem o esgotamento. Ricardo mora o Vale do Reginaldo, um dos pólos da maconha e do crack no Estado. A diretora, Thâmara Carnaúba, fica feliz com o jovem quando ele sonha com a universidade: quer ser engenheiro. “Estou nesta escola desde 1999. Três alunos meus morreram por causa da droga. 25% dos alunos não agüentam e deixam a escola. Não voltam mais. É a evasão escolar”, sentencia.
“Há também a participação da família. E claro a situação do Estado de miséria explica o nosso quadro de analfabetismo e distorção idade-série”, explica.
As palavras da professora expressam a realidade de Alagoas. Dados da Organização não-governamental Todos pela Educação, publicados na quinta-feira, indicam que, no Estado, apenas 15% dos jovens até os 19 anos conseguiram concluir o Ensino Médio.
E a radiografia da falta de esperança não para não alarmar. Na Escola Tavares Bastos, existem 186 alunos surdos. 90% deles estão fora de faixa. Quase todos são adultos, em salas de aula freqüentadas por meninos que mal entraram na puberdade. “Quando a gente vê uma novela com os meninos surdos nas escolas, é um cenário perfeito. Isso nos ajuda, acorda a sociedade”, avalia Carnaúba.
Este ano, os alunos surdos quase acumularam mais um fracasso no currículo escolar. Isso porque os interpretes foram demitidos pelo Governo, porque não tinham concurso público. Todos retornaram, graças a um pedido do Ministério Público Estadual.
Procurada, a diretora de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte, Ângela Costa, estava em uma reunião que durou o dia inteiro e não atendeu às ligações. A secretária Márcia Valéria não comentou os dados da Todos Pela Educação.
“Esses dados de Alagoas têm explicação. Na década de 90, tivemos um caos em todos os setores, incluindo Educação. Além disso, houve a municipalização das escolas. Hoje, 70% das escolas estão com os municípios. Isso é ruim porque eles são, em sua maioria, muito pobres”, disse o vice-presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores da Educação, Milton Canuto. “E quando isso vai para o Ensino Fundamental, aí é que a situação fica pior. Se não existir um sistema de colaboração entre o Estado e os municípios, as metas da Educação nunca serão atingidas”, contou Canuto.

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