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Em um bairro, 4 escolas sem professores de Física

“É você o novo professor de Física?”. A pergunta de Andressa Mayara, 1º Ano do Ensino Médio, ilustra bem a carência de profissionais da área na escola Alberto Torres, no Bededouro, um dos bairros mais antigos e populosos de Maceió. No lugar, existem quatro escolas estaduais. Nenhuma delas tem professor de Física.
Apesar do problema, Mayara e Albany do Santos, 3º ano do Ensino Médio, já descobriram como vão preencher as 200 questões das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a chance para alunas como elas entrarem na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a única no Estado a oferecer ensino superior gratuito: “Vamos responder as questões no ‘dedo’: ‘Mamãe mandou eu escolher esse daqui”.
Elas poderiam transferir a matrícula para outra escola estadual, próxima da Alberto Torres, o Bom Conselho, mas há razões para não seguir isso. “Não podemos porque lá faltam professores de Geografia, Química e Inglês. Aqui, só falta Física”.
Dados do Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinteal) indicam que mais de 30 escolas, apenas estaduais e somente na capital, estão com carência de professores de Física. “Existe defasagem salarial há três anos. Em uma escola, o professor de Física pediu exoneração. Ele dava aula a 20 turmas. Tudo parou”, disse Célia Capistrano, vice-presidente do Sinteal.
A carência de Física se estende a outras disciplinas. “Há problemas em toda a área de Exatas. Os professores destas disciplinas têm mais chances. Eles preferem ensinar nos cursinhos ou ainda entrar em faculdades ou na universidade. Eles ganham mais”, avalia Capistrano.
Um professor da rede pública estadual, com 20 horas, recebe R$ 1.015. As condições de trabalho e a falta de estrutura das escolas desmotivam os profissionais de ensino. Em Bebedouro, perto da Alberto Torres, está a escola Bom Conselho. Há duas semanas, a “Mancha Azul”, torcida organizada do CSA, tentou invadir a instituição para tirar alunos da “Comando Vermelho”, a torcida do CRB. O Batalhão Escolar impediu o pior.
A escola Alberto Torres é considerada, pela Associação dos Moradores do Bebedouro, como a melhor instituição de ensino na região. Ela atrai alunos de outras partes da cidade. Mesmo assim, existe o “racionamento” de aulas, nas constantes falta de água no bairro. “O professor dá aula em 40 minutos. Antes do final da tarde, a gente larga”, explica Albany.
Com a planta da escola, aberta sobre a mesa, o diretor José Barros de Abreu e a vice-diretora Geane de Castro ficam pensativos: “Enviamos vários ofícios para a Secretaria Estadual de Educação e Esportes. Se tivéssemos que pedir alguma coisa, queríamos um professor de Física”. Os dois recorreram à rádio comunitário da região: “Pedimos professores qualificados em Física para dar aula aqui. Seriam voluntários. Ninguém apareceu”, afirmou o diretor.
Na “escola modelo” de Bebedouro, os alunos também não têm quadra de esportes nem auditório. “A estrutura daqui é horrível”, resume Mayara, a estudante do Ensino Médio. “Se os R$ 300 milhões que foram desviados pela Assembleia daqui, descobertos pela Polícia Federal, pudessem ser revertidos em escolas, quantas teríamos em Alagoas?”, questiona o diretor José Barros.
O secretário de Educação e Esportes, Rogério Teófilo, não atendeu às ligações. Ele foi empossado há duas semanas no cargo. Segundo informou sua assessoria, ele estava em reunião com o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) apresentando um diagnóstico sobre a educação em Alagoas. A carência de profissionais estava na lista.

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