Blog

Usuário Legado

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

O rei, os coronéis. E os barões retintos

As eleições presidenciais- e seus dois pólos de disputa (Dilma Rousseff e José Serra) expõem alguns detalhes da democracia brasileira.
Há um certo caráter imperial em nosso presidencialismo. O presidente que administra o País por medidas provisórias; em seu entorno, agrega partidos de pouca expressão política, mas com bancadas gigantescas na Câmara e no Senado. É o caso do PMDB ou PP.
Câmara e Senado assumem uma postura servil ou parasitária no serviço público. Servil por tornar o legislativo dependente da quantidade de ofertas- os cargos na Viúva; parasitária porque a expressão destes partidos se desenha pela fortuna de seus caciques. PT, PSDB ou DEM amealham seus eleitores, seguindo-se a uma lógica financeira dos ocupantes das funções, inversamente proporcional ao PSTU ou PSOL, com poucos eleitores e menos dinheiro. Portanto, menos condições cambiáveis no jogo bruto do poder.
Em entrevista ao Le Monde Diplomatique, o sociólogo e professor da USP, Chico de Oliveira, levanta algumas destas questões. Exatamente por esta atmosfera imperial da democracia brasileira- o presidente e suas medidas provisórias e a nobreza dos coronéis, nos maiores partidos- não acredita que existirá uma reforma política- prometida por Dilma ou Serra. O PT e o PSDB.
“Todos os partidos prometem que vão tocar na reforma política, mas é mentira. Com esse sistema tão caótico, o Lula nada de braçada. Ele arrebanha dezenas de partidos com pouca representatividade, mas com votos no Congresso”.
É um sistema com propostas pouco transformadoras, em suas atuais condições. Aliás, como um reinado e suas subdivisões hierárquicas mais conservadoras. Os decretos são ditados pela Corte; a participação popular se restringe a uma escolha, a cada dois anos, de seus representantes, para ocuparem funções ao infinito- menos a Presidência da República e o Governo. Assim, o deputado federal se elege em uma votação para alcançar uma outra, de chofre, pagando as dívidas de uma campanha, antecipando outra eleição.
Têm-se o rei, os súditos. E, no meio deles, os coronéis.
A lógica vem sendo quebrada. A aprovação do projeto Ficha Limpa mostra que a pressão popular- antecedida por uma iniciativa da mesma população- dá resultados na Câmara,no Senado e na sanção presidencial a um projeto. Permite-se arrancar a banda maligna da eleição: políticos que converteram seus mandatos não apenas em uma profissão, mas em uma licença para a blindagem ao crime. Ou para matar. Nossa Assembleia Legislativa e o pós-taturana mostram isso muito bem.
Mas, o rei não está simbolicamente morto. Só que seus ecos são menos estridentes. Pelos dados do Ipea, 50% da população brasileira alcançou a classe média- um público mais exigente, menos ligado aos coronéis. Isso comparado aos demais súditos.
O processo é longuíssimo. É uma herança de uma cultura política em jogo, na quebra desta antiga lógica brasileira.
Só que os gritos do rei estão menores, apesar da feudal relação do rei, ainda pai, e os súditos, os barões retintos.

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos