Blog

Usuário Legado

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Pobres das matas

Talvez uma das origens do nosso “provincianismo” esteja em um dos tantos movimentos contestatórios espalhando-se em nossa História. A Cabanada, entre 1832 e 1835, carrega algumas destas características. De um lado, a visão preconceituosa e intencionalmente silenciadora das elites para os pobres, os excluídos; do outro, os alagoanos ou pernambucanos que na época viviam nas “brenhas” das duas regiões. Alguns nas matas. Eram chamados “os pobres das matas”.
Os “provincianos” ou “pobres das matas” eram considerados “diferentes”. Menos qualificados, exóticos, gente “perigosa” (violenta, má), ladrões que não “respeitavam” os proprietários de terras. A classificação dada pelas elites era crucial: gerava-se uma relação de poder e as matas eram um mundo paralelo, uma sociedade excluída.
Isso porque uma sociedade excluída deveria ser violentamente incluída. Violência com sangue, justificando-se pelos relatos, reforçando este “provincianismo”. Era preciso convencer os letrados dos “perigos” daqueles grupos humanos.
Porque a existência deles destoava da visão de “sociedade harmônica” ou da “paz”, sem contradições econômicas, sociais. Os cabanos feriam estas regras, insurgiam-se contra as práticas clientelistas. Para fazerem parte de um “novo Brasil”- independente, o Brasil passava pelo período regencial- os cabanos deveriam ser incluídos no “grêmio da civilização”, sair da condição de “vagabundagem, preguiça e sem religião” para o Brasil “crescer”.
Alagoanos e pernambucanos tinham de serem “civilizados”, “modernizados”. Era uma conclusão lógica, com métodos ilógicos e, nem por isso, irreais: a violência física mais brutal.
Parte desta discussão está no trabalho da pesquisadora Janaína Cardoso de Mello, da Universidade Federal de Sergipe.
Um trabalho interessante porque os tempos parecem uma roda gigante. Pois uma nova onda de letrados parece querer convencer que nosso passado “provinciano” ainda não foi desfeito, "apagado". Silenciado.
Por isso, precisa ser “modernizado” para nos fazer “crescer”.
Os alagoanos são menores, pessoas de paz, harmônicas em uma sociedade sem contradições. E quem diz o contrário? Os “pobres das matas”.
Contra estes “provincianos”, a violência da palavra. Claro, sem tisnar o “respeito” às práticas clientelistas.

Para acessar o trabalho da pesquisadora, copiar e colar o endereço abaixo:
http://sites.google.com/site/revistacriticahistorica/numerozero/existe-uma-alagoas-colonial.
Link: Alagoas e a Escrita de si mesma e da sua Gente No Século XIX

Veja Mais

Deixe um comentário

Vídeos