Wilmar Bandeira deixa Secom: Não entrei na lama

O secretário de Comunicação, Wilmar Bandeira, está fora do Governo. Ele confirmou a informação ao blog e encaminhou uma carta, em forma de tópicos, por e mail. Ele fala sobre os proprietários dos meios de comunicação, sobre o serviço público e o futuro dele. Veja:

MINHA SAÍDA
Em 22 de dezembro de 2008 entreguei meu cargo e o governador me pediu para ficar mais um tempo e terminasse o trabalho de reestruturação da Secom. Em março, reiterei o pedido e neste final de maio estou partindo com a certeza do dever cumprido. Durante esse período alguns veículos por motivos comerciais orquestraram a campanha " Cai Secretário ", mas confesso que nunca tive apego ao cargo e não sou comissionado carreirista.

PUBLICITÁRIO X JORNALISTA
Sou publicitário e me relaciono muito bem com grandes jornalistas e radialistas aqui de Alagoas. Não tenho problema com o profissionais de comunicação que ralam todo dia nas redações e estúdios. Meu problema é com proprietários de meios de comunicação por motivos comerciais, porque a Secom não é mais a jazida de outrora e tive que implantar critérios de investimento em mídia. Saio por tempo de serviço, por prazo de validade vencido e por missão cumprida.

CRITÉRIO DE INVESTIMENTO
Implantamos, através de pesquisa de audiência/alcance/penetração que realizamos em todos os municípios do Estado, critérios que avaliam exposição e retorno de investimento de mídia em cada veículo, grade de programação e comunicador. Eliminamos a mídia assistencialista e passamos adotar a mídia sob demanda. Alagoas era o único Estado da federação que não possuía licitação de agências , onde milhões de reais eram investidos em compras diretas de espaços de mídia, de produção de peças publicitárias, de realização de eventos e de serviços criativos de agências, sem critérios técnicos e à revelia da lei 8.666/93. Critérios técnicos geram seletividade e consequentemente desentendimentos, pois havia uma prática decana de imposição ao Governo de compra de espaços publicitários. Lutei contra essa forma de tratamento, mas pelo que me parece foi em vão.

FORMAS DE CRITÉRIOS
1) No governo anterior, a verba da Secom era de R$ 1.200.000,00 mensais, hoje com o corte do custeio, chega a R$ 560.000,00 mensais.
2) Hoje dividimos e investimos com critérios técnicos e sob demanda em grupo de comunicação ( dois ou mais meios) e em veículo de comunicação, quando há um só meio de inserção de mídia. Antes existiam alguns veículos de comunicação que se auto-denominava Grupo e recebia um bom volume de mídia, sem apresentar o mínimo retorno de investimento. Um grupo tem vários CNPJs, relativos aos veículos que o compõe, por isso uma dica aos especuladores de plantão que, quando acessarem o Portal da Transparência, somem os investimentos de cada CNPJs do grupo, aí sim surgirá o valor global da verba destinada.
3) Exigência de regularidade jurídica e fiscal de todos os veículos e fornecedores que prestam serviços publicitários à SECOM, também um critério nunca antes imposto na história da Secretaria.

LICITAÇÃO DE PRÉ-QUALIFICAÇÃO DE AGÊNCIAS DE PROPAGANDA
As agências de propaganda têm que entender o benefício dessa conquista como ponta-pé inicial da estruturação do mercado. Daqui para frente inúmeras licitações vão acontecer no governo, nas prefeituras e nos demais poderes. O Detran e a Casal vão realizar em breve. Espero que a Assembléia legislativa realize sua licitação. Nos próximos 10 anos, eles vão compreender essa conquista e vão valorizá-la. Diretores da ABAP nacional vieram no início do ano a Maceió exclusivamente para me homenagear em reconhecimento a essa iniciativa. O resto é lamento da perda e a conformação vem com o tempo.

CONQUISTAS DA SECOM NOS ÚLTIMOS 20 MESES
Primeiro a mudança de organograma de uma gestão vertical para horizontal, pois através de Lei Delegada criamos mais duas superintendências, três diretorias e algumas coordenações. Essa descentralização do poder do Secretário delegando responsabilidades para o Adjunto, Superintendentes e Diretores, ocasionou agilidade e funcionalidade na engrenagem da Secretaria. Segundo, o fortalecimento dos produtos e serviços da Secom, como: o suplemento colorido do Diário Oficial, que a partir desta segunda sairá com 8 páginas, graças ao esforço e competência dos nossos jornalistas, repórteres fotógráficos e diagramadores, e da Cepal, através de Marcos Kummer, também a modernização do site Agência Alagoas, o suplemento Caderno Alagoas, a nossa Newsletter eletrônica e o suplemento Agência Alagoas Semanal que serão lançados em junho. Terceiro, o trabalho de reaproximação da Secom com as assessorias de comunicação das demais secretarias, integrando as equipes, normatizando processos de trabalho e unificando o padrão da mensagem governamental. Quarto, a realização da licitação de pré-qualificação de Agências de Propaganda em respeito a lei 8.666/93. Quinto, a formação da rede de rádio estadual e estruturação do núcleo de rádio da Secom. Por último, a utilização de critérios técnicos de mídia para investimentos nos meios de comunicação, amparado por pesquisa de alcance/audiência/penetração realizada em 2009.

SAÍDA PELA PORTA DA FRENTE

Nestes 20 meses cumpri minha missão, porque vim para uma guerra, pois assumi a Secretaria no meio da crise do primeiro ano quando a aprovação estadual de Governo beirava os 18% e saio com quase 30 ponto percentuais a mais. A Secom é um órgão com funcionalidade complexa, depende da conjuntura política, da incompatibilidade de gênios e de egos de gestores, é alvo diário de ataques de motivação comercial e de pitacos de comunicólogos de corredor. Muito Marketeiros, poucos leigos. Não me arrependo um só momento de ter dedicado parte da minha vida a esta causa, porque convivi com Teotônio Vilela Filho e Dr. Wanderley, políticos diferenciados e plenos de coerência e boas intenções para o Estado. Conheci muita gente boa e competente no que faz, de secretários a motoristas, convivi com a mais competente equipe da Secom e Assessores de Comunicação de todos os tempos, segundo as boas línguas, por isso esse pouco de tristeza deve-se a um sentimento de perda. Aprendi no setor público que as paredes tem ouvidos e língua comprida, e que perdemos mais tempo lutando com o fogo amigo do que com o inimigo.Conheci e vivi entre feras… mas confesso que não me tornei fera, não entrei na lama, nem fui abduzido pelo poder, contrariando Augusto dos Anjos que diz: Acostuma-te com a lama que te espera / o homem, que nessa terra vive entre feras / sente a inevitável necessidade de também ser fera .

O QUE VOU FAZER?
Já tenho cirurgia marcada para a próxima semana, vou cuidar da minha saúde que está bastante debilitada. No final de julho, vou morar em São Paulo para retomar minha pós-graduação em Inteligência de Mercado e me aperfeiçoar ainda mais no marketing público e político.