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Bispo Filho

Bispo Filho é Administrador de Empresas e Estudante de Jornalismo.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Eduque seu filho, antes que a vida o faça

O moço morava na casa da namorada. Um casal kinder ovo: cada um com sua surpresinha no bolso. A moça com sua filha. O moço com o filho dele.

Vivia bem, ele me conta.

Mentira.

Quem vive bem não é expulso. O moço foi expulso. Convidado a se retirar e levar o filho junto. Motivo? O garoto é insuportável. Mal educado. Só faz o que quer. Destrata a namorada e sua filha. Não obedece ninguém. O cão em forma de gente.

O que se faz com uma criança assim? Chama o exorcista? Joga água benta nele? Leva para um descarrego? Quem sabe uma terapia? Eu voto na última opção.

Uma criança revoltada é uma criança que sofre. Sofre por dentro, silenciosamente. É preciso buscar as causas para entender o que com ela acontece. E fazer o que for possível para transformar essa situação.

O menino mora direto com o pai? Parece esquisito? Tem os que moram direto com a mãe também e a gente acha normal. Como se só à mãe coubesse dar conta e criar seus filhos.

A grande questão aqui não é só com pai, só com mãe.

O triste é ser órfão de pai/mãe vivo.

Essa é a dor que a gente procurava.

Pais que abandonam são criaturas que dão defeito. Não sabem amar. Não têm a capacidade de serem generosas com seus próprios filhos. Mandam a cria embora. Desfazem-se como se fosse coisa velha. Não ligam. Não sente falta. Apenas se livram do traste. E pronto.

Muitos mandam embora. Deixam na casa de parentes. De pessoas apenas conhecidas, sem laços de sangue. Uns somem. Outros aparecem eventualmente. Sempre fazendo estragos.

As crianças não entendem isso. Poupam os pais assumindo a responsabilidade. Para elas, o defeito é delas. Crianças maltratadas ou rejeitadas se culpam como forma de justificar os maus-tratos e a rejeição colocando a culpa nelas mesma.

Não são boas o suficiente. Não são dignas de serem amadas. Não são capazes de conquistar o amor dos pais.

Tem ideia de como uma pessoa assim se sente?

Um lixo.

Esse raciocínio faz com que a criança sofra horrores. Em silêncio. Afinal, se ela é a culpada, vai contar para quem? Por quê? Por isso se fecham em copas. Calam-se.

Constroem um muro de proteção em volta delas.

Já que não foram amadas por um dos pais, serão amadas por alguém?

Claro que não, é o que elas pensam.

Elas têm uma hipótese dentro delas. A de que sempre serão rejeitadas. E tiram a prova dos nove testando. Elas vão testar para ver até onde você aguenta. Vão desobedecer. Vão ser intragáveis. Insuportáveis. Até que a pessoa realmente não suporte mais e dê um basta.

A cada pé na bunda que leva, a criança confirma sua hipótese.

– Viu? Eu não disse que ela ia embora? Que ia me abandonar?

Ela não é mesmo capaz de ser amada. Só que por conta do que ela provoca. Essa história costuma ter um triste fim. A criança que tem esse vazio de um dos pais, ou dos dois, pode acabar se enfiando em relações abusivas.

Pode ela mesma acabar se tornando abusiva. Abandonadora. Imitando o padrão do pai abandonador. Ela teve um pai/mãe, vocês irão me lembrar. Isso não basta? Basta. A vida é assim. A gente quando entra nessa aposta de filho não sabe como vai ser.

Quem falta pode ser substituído? Sempre. E fazer a criança bem feliz. Há inclusive quem decida mudar de sobrenome, como homenagem a quem ficou do lado para criar.

Há pais que moram juntos e rejeitam, maltratam.

Não é uma questão de distância física, mas de distância afetiva.

Em geral, a rejeição come por dentro como traça. Deixa buracos, faltas, vazios. A sensação de não prestar. Uma autoestima murcha. Uma dificuldade grande de construir boas relações.

O menino foi mandado embora na separação dos pais.

Agora, mandado embora da casa da namorada do pai.

Vejam as hipóteses se confirmando.

Como parar esse círculo vicioso?

O menino sofre, não restam dúvidas. Isso explica, mas de jeito nenhum justifica o que ele faz.

Esse menino sofre o abandono da mãe?

Sim.

E o do pai que, por alguma razão, não bota limites nessa criatura.

E não percebe que está criando um pequeno monstro.

O menino pode estar com ciúmes do pai com a namorada.

Da namorada do pai com a filha, por conta de uma relação de mãe que ele não tem.

De qualquer forma, esse garoto tem que ter limites e educação.

Tem que saber que há limites na vida. Que há regras. Que há hierarquia. Que é preciso obedecer.

Se não aprender, vai continuar sendo expulso de casa em casa.

De trabalho em trabalho.

Eternamente.

Sem perceber que é o responsável por isso. Cuspindo a culpa nos outros. A culpa vai ser do chefe, da sogra, do amigo, do vizinho. Nunca dele. Triste. Início de uma vida sem grandes futuros.

A namorada do pai se queixou durante muito tempo. Apontou questões. Reclamou. O pai não tomou providências. Mandava o garoto pedir desculpas. Ele pedia sonso, já sabendo que a impunidade era certa.

A namorada se enfureceu?

Claro.

Afinal, a falta de respeito não é só do garoto com ela.

É do pai do garoto que não toma providências.

Que não coloca limites.

Que não educa.

A moça fez bem em botar os dois para fora?

Só perguntando se o que ela sente é alívio ou falta.

Eu voto em alívio. E você?

Eduque seu filho para que ele seja querido. Para que seja bem-vindo. Para que as pessoas não olhem de banda quando vocês chegarem. Eduque seu filho porque os limites dão a margem para a vida. E ensinam o caminho da luta pela felicidade.

Problemas e faltas todos têm. Ninguém é coitadinho por causa disso. Todo mundo passa por dificuldades.

Vida é isso mesmo.

Uma prova atrás da outra.

Umas a gente vence, outras a gente perde.

Faz parte.

Vejo pais com pena de educar. De frustrar. De falar duro e sério quando preciso. Besteira. Pais educam com amor. A vida quando bate, bate forte. Sem dó. Sem piedade. Não é melhor você, antes dela, tomar providências?

Não permita que seu filho seja um reizinho abusado cheio de ordens e poder.

Ao contrário do que parece, falta de limites causa uma angústia enorme.

Uma falta de rumo.

Uma moleza que depois não se resgata mais.

Eduque seu filho antes que a vida o faça.

Por: Mônica Raouf El Bayeh em 03/01/19

Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Perita judicial.

Escreva contando sua história. Mande sua sugestão para elbayehmonic@yahoo.com.br

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