‘Precisa ser preso’, diz americana agredida por surfista brasileiro

Sara Taylor disse com exclusividade ao g1 que já procurou a delegacia de Bali e deixou com a polícia os vídeos que mostram a agressão. A norte-americana levou socos do surfista capixaba JP Azevedo.

Surfista capixaba agride outra surfista no mar em Bali, na Indonésia — Foto: Reprodução/Redes sociais

A surfista norte-americana Sara Taylor, agredida pelo brasileiro João Paulo Azevedo, conhecido como JP Azevedo, falou por telefone com exclusividade ao g1 nesta sexta-feira (7) sobre o momento da agressão. Sara contou que fez um boletim de ocorrência na polícia da Indonésia e que espera que JP, um amigo que agrediu verbalmente e outros envolvidos sejam punidos.

Sara Taylor levou socos enquanto surfava no mar de Bali, e as agressões continuaram do lado de fora, na praia. JP disse que agrediu a surfista porque achou que ela era um homem. O capixaba postou um vídeo nas redes sociais na quinta-feira (7) pedindo desculpas.

O surfista capixaba foi procurado novamente pelo g1 para responder sobre as denúncias de Sara Taylor, mas não havia retornado até a última atualização desta reportagem.

A atleta norte-americana contou que estava surfando e que um amigo de JP veio, aparentemente de forma intencional, para cima dela na onda.

“Eu estava surfando, estava cheio, e vi alguns caras que estavam se esbarrando. Às vezes, acontece no surfe, mas a onda veio, e eu estava no lugar certo. Esse cara, de forma intencional, esbarrou em mim, não foi um acidente. Ele veio na minha direção, como se quisesse me bater. Eu o empurrei da minha frente”, disse a surfista.

O relato de Sara contradiz o que JP disse no vídeo. Segundo o capixaba, a surfista estaria pegando as ondas “de todo mundo”, e a atitude dela o teria deixado incomodado. Sara deu mais detalhes sobre o momento da agressão no mar.

“Ele estava gritando algo que era a onda deles, mas eu perguntei, ‘Era você ali?’ E ele disse ‘Não, era meu amigo’. Eu não queria ficar discutindo, eu só queria surfar, então eu joguei água na cara dele, como se fosse para ele parar, tipo, por que você está gritando comigo? E eu continuei nadando e foi aí que ele me bateu”, relatou Sara.

A surfista disse ainda que ficou incomodada porque as outras pessoas que estavam no mar com eles não fizeram nada para ajudar.

“Eu fiquei em choque, eu não queria brigar eu só queria surfar, mas eu não queria me sentir derrotada, como se eles tivessem me espantado dali, então eu continuei surfando por pelo menos 1 hora”, explicou a surfista
Ela destacou a importância da cinegrafista Charlie ter filmado toda a ação, e como isso foi fundamental para o registro de ocorrência na delegacia.

“Charlie filmou tudo, o que é incrível, porque se não, os caras iam continuar fazendo isso, e eu recebi muitas mensagens de que isso é o que eles fazem, que isso aconteceu várias vezes antes”, relatou a norte-americana.

Agressões na areia

Depois que Sara saiu do mar, as agressões continuaram. A surfista disse que a briga ficou mais intensa, e que JP bateu novamente nela e até na amiga. “Ele saiu e eu acho que ele estava esperando os amigos. Então Charlie me perguntou: ‘alguém te bateu lá? E eu falei, sim, foi ele”, disse a surfista.

“Ela queria filmar o rosto dele, só para ter certeza de que ele era o cara que me bateu. E depois ele ficou irritado porque ela estava filmando e tentou tirar a câmera dela. Tudo escalou muito rápido depois disso. Ele começou a atacar ela, e quando eu vi aquilo acontecendo eu só tentei defender Charlie” contou Sara.
A surfista repetiu mais uma vez que a praia estava cheia e ninguém ajudou as duas ou tentou afastar JP. Ela disse ainda que o amigo do JP fez ameaças.

Fora do mar, JP Azevedo continuou agredindo a surfista Sara — Foto: Reprodução/Redes sociais

“Estava uma briga muito feia. Algumas pessoas na praia ficaram só assistindo e falando para parar, mas eu gostaria que eles tivessem ajudado mais a gente, ninguém foi tentar segurar o JP. Nós só queríamos ir embora. O amigo dele ficou nos ameaçando, xingando, e chegou a correr atrás da gente. Poderia ter sido muito pior”, disse a surfista.

Registro na delegacia

Sara contou que após ela e Charlie saírem da praia, elas foram fazer o registro de ocorrência na delegacia. No local, deixaram cópias dos vídeos que registram a agressão e mostraram diversos comentários apontando quem era o agressor. “Também não foi a primeira vez que ele foi violento com alguém”, afirmou a surfista.

“Nós fomos até a polícia, porque se a gente não tivesse ido, ele simplesmente ia continuar fazendo isso. Eu falei para eles que essa não foi a primeira vez que ele bateu em mulheres, mas que dessa vez foi filmado. Eu quis fazer o registro para que ele pare de fazer isso porque ele parece estar fora do controle. Eu quero que eles paguem pelo que fizeram”, relatou a surfista.

A surfista relatou também que ficou com a cabeça inchada e sentindo dores após a agressão, e que as agressões deixaram marcas nos braços e no queixo. Sara disse que preferiu não buscar atendimento médico.

Mulheres no surfe

A atleta norte-americana também comentou sobre o fato de JP ter dito que a agrediu porque pensou que ela era um homem.

“Ele continuou dizendo que eu parecia um homem. Eu perguntei o nome dele e ele disse: ‘Eu sou uma mulher, meu nome é de mulher, que nem você, na verdade, você é um homem’. É rude demais, mas eu não ligo para os insultos e para a opinião dele. Naquele momento, na praia, ele sabia muito bem que estava batendo em duas mulheres”, pontuou Sara.

Sara, que tem 32 anos, começou a surfar quando tinha 10 e contou que já passou por casos de preconceito no mundo do surfe por ser mulher.

“Às vezes alguns homens tratam mulheres de um jeito diferente, negativo, no mundo do surfe. Eles veem as mulheres como um alvo mais fácil. Mas o surfe é para todo mundo e é sobre ter diversão, esse incidente é revoltante, não é o que o surfe é. A mensagem que eu passo para as mulheres surfistas é: não se sintam excluídas ou diferentes por serem mulher”

A surfista disse ainda que viu o relato da ex-companheira de JP, que contou ter sido agredida por ele.

“Eu vi quando acordei e fiquei muito muito triste. Eu espero algum tipo de justiça seja feita. Ela é uma mulher muito forte”, disse Sara.

Sobre o caso

Um vídeo postado na quarta-feira (5) por Sara em suas redes sociais mostra o momento em que a norte-americana leva um soco do brasileiro dentro da água e continua sendo agredida por ele do lado de fora, na praia.

“Essa menina parecia um homem, eu não sabia que ela era mulher. Ela surfava igual homem, se vestia igual homem. Ela tava pegando a onda de todo mundo, não estava respeitando ninguém. Ela foi na onda do meu amigo e empurrou meu amigo pra fora da onda”, disse JP.

O vídeo postado pela norte-americana mostra Sara sobre sua prancha pegando uma onda quando JP se aproxima e atinge a cabeça dela com um soco. A mulher se vira para ele, mas parece não revidar de imediato. Em seguida, ainda no vídeo postado por Sara, os dois aparecem já do lado de fora da água.

As imagens mostram o homem avançando para cima dela e tentando atingi-la com mais socos. A câmera, manuseada por uma terceira pessoa, parece cair, e é possível ouvir alguém gritar para o agressor ir embora. Segundo o post de Sara, JP continuou agredindo porque viu que estava sendo filmado.

“Depois de dropar na minha primeira onda, o amigo do cara me deu um soco na cabeça e depois de ser confrontado por ter me batido, ele atacou Charlie na praia por estar sendo filmando. Isso é insano, alguém sabe quem são?”, disse a surfista na postagem.

‘Perdi a cabeça num estresse momentâneo’

O surfista brasileiro disse ter ficado incomodado com as atitudes de Sara enquanto surfava – segundo ele, “pegando a onda de todo mundo” – e afirmou ter ido em direção a ela para perguntar por que ela estava agindo daquele jeito.

“Eu fui perguntar por que ela tinha feito isso com o meu amigo. Ela passou e jogou água na minha cara, me xingou. E aí eu perdi a cabeça num estresse momentâneo e acabei agredindo ela. Perdi a razão. Depois que eu a agredi que eu vi que era mulher. Ela tava de camiseta e não dava pra ver o sutiã. Logo depois eu pedi desculpa, um amigo meu veio remando pra cima e eu falei: ‘calma, é mulher'”, declarou JP.

JP contou ainda que, quando saiu da água, Sara e a namorada teriam ido até ele, tentando jogar o surfista no chão.

“Ela e a namorada vieram pra cima de mim. Tentaram me jogar no chão, quebraram alguns pedaços da minha prancha, que elas pegaram dentro do meu carro. Quando eu vi que ela pegou minha prancha eu saí correndo. Elas vieram pra cima de mim, eu só fiz me defender”, explicou JP.

Durante a agressão fora do mar, Sara se aproxima de JP, ele segura o braço dela e continua dando socos. Uma mulher que está fazendo o vídeo chega a gritar várias vezes “Vai embora, vai embora!”. Ainda é possível ver outros surfistas em volta, acompanhando a confusão.

Nas redes sociais, o vídeo viralizou e vários surfistas brasileiros conhecidos internacionalmente se manifestaram repudiando o comportamento. Um deles foi o campeão mundial Filipe Toledo.

“Sinto muito que isso tenha acontecido com vocês! Espero que vocês estejam bem! Não se estressem com pessoas com esse tipo de energia. Eles não duram muito, a vida vai voltar para eles. Mas o que a gente puder fazer para achá-lo, nós iremos fazer. Deus te abençoe e fiquem bem”.

Outros surfistas do país também se manifestaram, identificando JP e falando que ele não representa o espírito do brasileiro.

JP é de Vitória e mora em Bali desde 2019.

Fonte: G1

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