Deputado ligado a doleiro deve escapar de cassação

Luiz Argôlo, o Bebê Johnson, foi flagrado em negociatas com o doleiro Alberto Youssef; processo de cassação está pronto, mas deve ser votado a tempo.

Divulgação/Câmara dos Deputados/VEJAO deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA)

O deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA)

Enquanto o Ministério Público finaliza as denúncias contra políticos envolvidos na Operação Lava Jato da Polícia Federal, a Câmara dos Deputados se prepara para livrar da cassação o parlamentar sobre o qual pesam, até o momento, as mais contundentes provas de integrar o megaesquema de lavagem de dinheiro. Luiz Argôlo (SD-BA) foi flagrado trocando mais de mil mensagens com o doleiro Alberto Youssef em um período de seis meses, chegou a ganhar um helicóptero de presente do pivô do propinoduto e ainda foi o centro do revelador depoimento da contadora Meire Poza, no qual confirmou que o parlamentar foi beneficiado com o dinheiro fraudulento. Mesmo assim, ele deve deixar o Parlamento sem qualquer prejuízo – e ainda pode reassumir o posto na próxima legislatura.

Argôlo é alvo de um processo de cassação que se arrasta há sete meses, mas, como já virou praxe entre os parlamentares enrolados em esquemas de corrupção, recorreu às mais diversas manobras para protelar o caso. Funcionou.

O deputado protocolou um recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) há um mês, mas, sem quórum no colegiado, a ação não foi julgada. Somente na próxima semana – a última antes do recesso – o caso deve ser desengavetado. Conforme os prazos regimentais, ainda que o recurso seja rejeitado, o processo de cassação não poderá ser levado ao plenário antes do início das férias dos congressistas. O processo pode ser analisado até o fim de janeiro, quando oficialmente encerra o mandato legislativo. No entanto, já há todas as evidências de que os deputados não estão preocupados em cassar Argôlo – o que não seria diferente durante o recesso.

O Conselho de Ética pediu a perda do mandato de Argôlo pelo estreito relacionamento que mantinha com o doleiro Youssef. De acordo com o relatório final do colegiado, o deputado entrou em contradição ao tentar explicar porque trocava tantas mensagens com Youssef. Segundo Argôlo, os mais de 1.000 torpedos seriam referentes à venda de um imóvel no valor de 375.000 reais pertencente ao irmão dele. No entanto, as mensagens interceptadas pela Polícia Federal às quais o colegiado teve acesso apontam que o objetivo era outro.

“Durante mais de sete meses, Luiz Argôlo e Youssef mantiveram conversas sobre licitações, cargos, agendamento de reuniões, assuntos envolvendo questões de interesse público bem como sobre o pagamento de altas somas de dinheiro, os quais eram entregues ao deputado em espécie ou mediante depósito na conta corrente de terceiros”, disse o relator Marcos Rogério (PDT-RO) no parecer em que pede a cassação do parlamentar baiano.

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados em agosto, a ex-contadora de Youssef Meire Bonfim Poza afirmou que Argôlo mantinha contato com empresas que destinaram dinheiro para o esquema de lavagem e pagamento de propina e que chegou a presenciar o deputado no escritório do doleiro em busca do dinheiro. A contadora disse ainda que o doleiro era sócio do deputado em duas empresas sediadas em Fortaleza: a M.Dias Branco e a Grande Moinho Cearense. Elas teriam recebido mais de 1 milhão de reais do esquema criminoso.

Mesmo no centro das denúncias da operação da PF, Argôlo recebeu mais de 60.000 votos nas eleições deste ano, ficando na 1ª suplência. Se ele reassumir o mandato, a Casa terá de se debruçar sobre uma situação até o momento inédita: discutir se o processo dele, ao fim da legislatura, foi arquivado ou segue em tramitação. A maioria dos técnicos legislativos entende que o caso deve ser encerrado.

Fonte: Veja Online

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