Nordeste: Desconstruindo preconceitos

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Jorge Vieira, jornalista e antropologo

A população nordestina se deparou, nos últimos meses, com um dos mais perversos e descabidos preconceitos desferido por parcelas da sociedade brasileira residentes nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, hipoteticamente da classe média e alta, mas precisamente caracterizadas por segmentos conservadores aliados aos interesses e pensamento da burguesia reacionária nacional, com ampla cobertura e apoio dos grandes meios de comunicação de massa e das redes sociais.

O Nordeste, admirado, cantado e decantado pelos “sulistas” por sua beleza natural, capitaneada pelas praias, rios e lagoas; por sua rica culinária, artesanato e manifestações populares. De repente, a sua população é atacada violentamente como um bando de “miseráveis”, “mendigos”, “ignorantes”, “acomodados”, “preguiçosos” e “analfabetos”.

Mas de onde vem tanta brutalidade, desrespeito e violência? Pasme! Originado exatamente da autoproclamada sociedade pretensamente civilizada, rica e bem educada, brancos de olhos azuis! Mas por que tanto ódio e intransigência para com o nordestino?!

A Antropologia Cultural identifica que, inicialmente, faz parte do ser humano o etnocentrismo, ou seja, cada grupo social coloca-se no centro e enxerga e julga o “outro” a partir do próprio mundo em que está inserido. Mas a própria antropologia cuidou de contribuir para a relativização cultural na medida em que o “eu” coloca-se no lugar do “outro” na perspectiva de compreender o seu mundo.

Historicamente, o Nordeste foi o primeiro lugar onde os europeus desembarcaram – portugueses, franceses, italianos, espanhóis e holandeses -, para colonizar, escravizar, matar, explorar e espoliar as riquezas aqui encontradas. Os nativos, livres e autônomos, tornaram-se escravos e selvagens. Com o tempo, trouxeram os grupos africanos para garantir a economia e negócios das metrópoles europeias. E, por fim, os pobres, resultado da mistura imposta aos indígenas, negros e brancos pobres.

O sistema escravista se manteve até quando não interessava mais ao sistema capitalista capitaneado pelos ingleses. Aos negros, indígenas e pobres, restaram aldeias desertas e famintas, quilombos pisados e grotões para as moradias. À elite nativa, a subserviência aos interesses da metrópole e, depois, ao capital financeiro internacional; seus filhos, como servos e cordeirinhos adestrados, como sinal de evolução, foram embarcados para estudar a “ordem e do progresso” para que, de volta à terra natal, reproduzissem os interesses da metrópole.

Na literatura que trata e retrata o Nordeste, encontram-se duas vertentes: a conservadora, com seu ufanismo congênito, exalta o modelo da Casa Grande, rodeada pelo engenho e dominada pela economia açucareira; a progressista caracteriza-se pela dominação da classe dominante sobre os miseráveis destruídos pela seca. Nas duas perspectivas, construídas e inventadas de acordo com os seus interesses conjunturais econômicos, políticos e ideológicos, solidificaram e promoveram de forma direta ou indiretamente o preconceito contra a população nordestina, descaracterizando a resistência política, a diversidade étnica e cultural e a riqueza da região.

Compreende-se que é, nesse contexto, onde está encontra-se o preconceito explicitado durante o último processo eleitoral. Secularmente, como escrito acima, a dita população nordestina foi espoliada dos seus territórios, seja brasileiro ou africano, tornou-se apenas mão de obra escrava nos dos engenhos, usinas e fazendas e, durante a maior parte do período republicano, nas construções das cidades e na produção industrial, sem acesso ao estudo e ao bem estar social.

À medida que, na última década, as políticas públicas possibilitaram aos pobres, direito garantido na Constituição brasileira, o acesso a alimentação, saúde, educação e emprego, conquistaram a liberdade de poder escolher quando, onde e para quem trabalhar, os setores mais favorecidos sofrem psicologicamente com a presença deles voando na mesma aeronave, estudando na mesma universidade do seu filho e passeando no mesmo Shopping Center.

As eleições para a presidência da República foram o canal para a expressão da insatisfação, por um lado, e, por outro, de aprovação do projeto de Estado de Bem Estar Social em curso. E, por sua vez, os meios de comunicação, que têm como atribuição constitucional promover a informação objetiva e a igualdade social, ao contrário, parcela importante dos grandes meios de comunicação ecoaram incentivou e impulsionou os preconceitos e as intransigências contra a população nordestina.

À população brasileira cabe a tomada de consciência cidadã e do seu papel social na construção de uma sociedade que não aceita o preconceito de qualquer natureza, seja de ordem social, econômica, orientação sexual, gênero, política, ideológica, étnica, cultural e geográfica.

E, no caso em questão, com a palavra os poderes constituídos, especialmente a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal no cumprimento do ordenamento Jurídico brasileiro e internacional. A impunidade é o encorajamento para as praticas preconceituosas, xenófobas e para a proliferação da discriminação.

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