40 anos em defesa da vida

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi criado em 1972, com o objetivo de, inicialmente, assessorar as pastorais indigenistas das dioceses, prelazias e paróquias que em suas circunscrições eclesiásticas tivessem populações indígenas. Com o tempo, em virtude das demandas das comunidades indígenas e da carência de missionários preparados para atender aos grandes desafios da causa indígena da conjuntura, transformando-se em órgão de pastoral composto por missionários formados e enviados para o trabalho com os povos indígenas do Brasil.

O surgimento do CIMI aconteceu no contexto da renovação da Igreja Católica, impulsionada pelo Concílio Vaticano II, evento realizado entre os anos de 1962 a 1965. O padres conciliares, no documento Gaudium et Spes, no nº 1, afirmam que as alegrias e os sofrimentos dos filhos de Deus devem ser também as alegrias e sofrimentos dos discípulos de Jesus Cristo. No Ad Gentes, a igreja afirma a sua natureza missionária. Com esse espírito de missão e inserção no meio do povo, os missionários indigenistas vão conviver e prender com os povos indígenas, suas culturas e costumes.

Em nível da América Latina, em sua 2ª Conferência realizada em Medellin, Colômbia, de 24 de agosto a 6 de setembro de 1968, com o tema “A Igreja na presente transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II”, os bispos analisam a realidade social, política, econômica e cultural e assumem a opção pelos pobres como compromisso pastoral. Identificam que os problemas sociais do Continente não são originários da falta de caridade, mas produzidos pelo sistema capitalista que explora, concentra riqueza nas mãos de poucos e gera a desigualdade social.

A relação da Igreja com os povos indígenas, iniciada em 1500, a missão foi marcada pela submissão aos interesses da Coroa Portuguesa, com a imposição da visão colonizadora na catequese e no processo de evangelização. Por longo tempo as tradições culturais e as formas organizativas das populações indígenas foram negadas e suas religiões demonizadas.

Com a abertura conciliar e a opção pelos pobres, a Igreja do Brasil criou o órgão de pastoral indigenista para dar respostas aos desafios postos pela modernidade frente à diversidade étnica. Nesse contexto, vale ressaltar a Declaração de Barbados, encontro realizado entre os dias 25 e 30 de janeiro de 1971, em Barbados, onde os antropólogos analisaram a situação dos povos indígenas na América Latina e denunciaram a submissão dessas populações à uma relação de domínio colonial: “O conteúdo etnocêntrico da atividade evangelizadora é um componente da ideologia colonialista”. No Brasil, o projeto desenvolvimentista da ditadura militar impulsionava avanços das fronteiras agrícolas, construções de hidrelétricas, rodovias e hidrovias sobre os territórios, provocavam a violência, doenças e mortes nas populações indígenas.

Os missionários do CIMI, com a mochila nas costas, entram na floresta amazônica para ajudar os indígenas a defenderem suas terras, seus rios e suas matas, acolhendo suas culturas e religiões como presença da semente do Verbo. Com o espírito de inculturação, participam da formulação da Teologia da Libertação, como instrumento de reflexão e compromisso com os pobres, fortalecendo a diversidade e identidades étnicas.

No Nordeste, até o final da década de 70, só eram reconhecidos seis povos: Potiguara (PB); Fulni-ô e Pankararu (PE); Kiriri (BA); Xucuru-Kariri e Kariri-Xokó (AL). A presença missionária junto às comunidades indígenas acolheu os clamores, as reivindicações e as lutas, processo que resultou na emergência e identidade étnica, suscitando e fortalecendo o respeito aos direitos e às suas culturas indígenas.

Em Alagoas, atualmente estão reconhecidos 11 povos indígenas, que reivindicam a garantia do direito constitucional da demarcação dos territórios, o direito à educação escolar indígena específica e diferenciada, como também projetos de etnodesenvolvimento e de assistência à saúde indígena.

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