Família encontra últimas imagens de brasileiro morto a Caminho de Santiago

Arquivo pessoalGilbert era um brincalhão”, disse a prima, Eliane

Gilbert era um brincalhão”, disse a prima, Eliane

As fotos encontradas na câmera de Gilbert Janeri, de 43 anos, morto em uma das trilhas do Caminho de Santiago, na Espanha, estão ajudando a família e as autoridades locais a desvendarem parte do que aconteceu com ele durante a caminhada. Ao contrário do que a família pensava, Gilbert não morreu no dia 7 de março, mas depois.

Segundo Eliane Garcia, prima do executivo, as coisas dele permaneceram intactas na neve.

– A última foto que encontramos na câmera foi tirada no dia 8 de março, às 15h40 no horário da Espanha, por volta das 11h40 aqui no Brasil – contou Eliane.

As autoridades espanholas trabalham com a hipótese de que Gilbert tenha sido vítima de um enfarto. A família também acredita nessa possibilidade. Os parentes do executivo descartam a possibilidade de hipotermia e acham possível que tenha caído do penhasco quando já estava morto.

Eliane explicou que o executivo estava acostumado com o frio, porque morou no Canadá durante anos e enfrentou baixas temperaturas. Tudo indica que ele morreu de dia, quando a trilha ainda estava bastante visível e o frio é menos rigoroso.

– Achamos que o corpo dele foi arrastado por uma avalanche, depois – disse Eliane. – Mas ainda não sabemos bem como tudo aconteceu e nunca saberemos, já que não haverá autopsia – acrescentou.

O corpo de Gilbert foi encontrado pela polícia florestal de Navarra no dia 22 de março. A irmã, Sônia Janeri, chegou à cidade de Pamplona, na Espanha, quinta-feira passada, acompanhada da filha, do marido e do genro. Na sexta-feira, ela fez um teste de DNA para comprovar que o corpo encontrado é mesmo o do irmão. A cerimônia de cremação está marcada para o sábado, às 9h na Espanha e 4h da madrugada no Brasil.

No mesmo dia, a família parte para Santiago de Compostela, que fica a cerca de 700 quilômetros de Pamplona. Os parentes pedirão uma missa em homenagem a Gilbert, que deve ser celebrada no domingo, ao meio-dia. Depois da missa, eles vão em direção à Cruz de Ferro, onde deixarão as cinzas, atendendo a um pedido do executivo. Inspirado pelo filme “The Way”, antes de partir ele disse, em tom de brincadeira, que queria ficar por lá, caso morresse na caminhada.

– Ele era um brincalhão – frisou Eliane

Os parentes de Gilbert que viajaram para Pamplona contam com o auxílio de um peregrino que renunciou à própria caminhada para auxiliar a família. O rapaz, um empresário baiano, sequer conhecia Gilbert. Ele já haviam passado de Pamplona, caminhando, mas decidiu voltar de avião para encontrar Sônia, o marido, a filha e o genro.

O peregrino se hospedou no mesmo hotel onde estão os parentes do executivo e os acompanha a todos os lugares. Segundo o relato de Sônia, que escreve todos os dias para a família, a participação dele está sendo essencial. O baiano estava no meio da décima caminhada, e disse que esses anos todos o transformaram em uma pessoa melhor.

– Ele disse que fazia de coração – lembrou Eliane, sensibilizada com a atitude.

No Brasil, o também peregrino Jorge Cáceres marcou uma missa em homenagem a Gilbert, no dia 25 de abril, na Paróquia Santo Agostinho, em São Paulo. Ele também não conhecia o executivo. Ficou sabendo da morte quando Juliana Janeri, sobrinha de Gilbert, recorreu à comunidade Caminho de Santiago, no Facebook, em busca de alguém que pudesse ajudar a família.

– Quando soubemos do que aconteceu começamos a nos mexer para ajudar. O mínimo que podemos fazer agora é prestar uma homenagem – falou Cáceres, professor de espanhol que já fez o Caminho de Santiago duas vezes, em 2003 e 2006.

Jorge também acredita que Gilbert tenha sofrido um enfarto. Ele frisou que o trecho em que o executivo foi encontrado, nos Pirineus, era bastante difícil, com cerca de sete horas de subida. Mas o executivo já estava bem perto do albergue onde pararia para descansar.

– Ele trabalhava com logística, e não acredito que tenha errado justamente na logística da viagem – enfatizou.

Cáceres fez questão de frisar que este período do ano é bem frio na região. Os peregrinos experientes aconselham que as pessoas se aventurem pelo caminho a a partir de maio, quando chove menos e faz menos frio.

– Ele ficou onde queria. O coração dele o levou até lá, e ele acabou ficando porque era o destino – opinou.

Fonte: Extra.globo

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