Amizade, diversão, paixão pelo Galo: o Atlético-MG em 164 barracas

Globo.comTorcida do Atlético-MG

Torcida do Atlético-MG

Lá por 20h30m de terça-feira, eram 164 barracas. Grandes, pequenas, médias. Arrumadas, bagunçadas. Brancas, cinzas – até, veja só, azuis. Torcedores do Atlético-MG, em surto coletivo com a final da Libertadores, formam um mundo particular, uma espécie de sociedade em preto e branco nos arredores da sede do clube no bairro de Lourdes, em Belo Horizonte. São centenas à espera de ingressos para o momento mais importante da história centenária do Galo, o segundo jogo da final do principal torneio do continente. Alguns estão ali desde antes de o time ir para a decisão contra o Olimpia, em uma espera que já leva uma semana. Ali, nascem amizades, surgem grupos, pipocam histórias que a turma pretende contar vida afora. O que os une é o amor por um time em vias de viver sua maior conquista.Esse microcosmo atleticano toma quatro ruas. As barracas são alinhadas, lado a lado, envolvendo as calçadas que formam o quarteirão que abraça a sede social do Galo. O movimento começou na quarta-feira da semana passada, quando o Atlético vivia o drama do jogo contra o Newell’s Old Boys. Os primeiros torcedores colocaram suas barracas lá, demarcando território, e foram assistir à partida em um bar próximo. Eram chamados de doidos por pessoas que passavam por ali – incrédulas com a precocidade da formação da fila.Uma delas era Marlene Alves da Silva. Idade: 77 anos. Foi a segunda a aparecer por ali. Está há uma semana esperando o começo da venda dos ingressos para o jogo no Mineirão. Parece loucura? Pois ela tem uma explicação bastante lógica.

– Meu filho, acompanho o Galo há mais de 50 anos. Vi quase todos os times. Vi Dadá Maravilha. Você acha que esperei todo esse tempo e vou perder esse jogo?

Difícil discordar de dona Marlene. Pois veja: além de começar a beirar o status de octagenária, ela se recupera de uma fratura no braço. Diz que não sente dores. Também abandonou os remédios que ajudam a dormir. Aliás, garante que dorme como um recém-nascido na barraca. Está feliz da vida.

– Com isso aqui, a gente nem precisa de psicológo. Já fiz umas 20 amizades novas aqui – comenta a atleticana.

Ela é unha e carne com Maria Aparecida, 40 anos. As duas ficam conversando o tempo todo. Afinal, são amigas há… bom, há menos de uma semana. Elas se conheceram na fila. Logo simpatizaram uma com a outra. Marlene já chama a companheira de espera de "Cida".

Amizades surgem a cada punhado de metros. São muitas horas a se percorrer até tocar no ingresso da finalíssima. O jeito é matar o tempo. Aí formam-se grupos para jogar bola (a rua vira campo), para disputar partidas de baralho, para fazer um churrasquinho, para ouvir música, para escutar as últimas notícias do Atlético pelo rádio. A turma vê de tudo: nessa semana de fila, já teve até acidente de carro (um sujeito passou buzinando para os torcedores e esqueceu de olhar para a frente). De madrugada, dizem as testemunhas mais atentas, barracas costumam receber visitas. É preciso passar o tempo, afinal…
A maioria dos presentes é de homens. Mas há muitas mulheres. São os casos de Fabiana Mileide, 27 anos, e Deividielly Oliveira, 21. Elas são cunhadas. Moram em Contagem. Foram a Belo Horizonte ainda na noite de quarta. E sem a maior da simpatia de seus maridos, preocupados com a quantidade de possíveis concorrentes no local. Mas eles torcem pelo Galo. Aí foram compreensivos. Se fossem cruzeirenses…

– Ué? Problema deles. A gente viria mesmo assim! – garante Fabiana.

É interessante a presença de torcedores do interior. São Fracisco Sales, Raposos, Unaí, Governador Valadares – apenas alguns exemplos de cidades que viram atleticanos deixaram suas casas para acampar em busca de ingressos. Muitos conseguem se revezar com amigos ou familiares. Outros ficam ali direto, por vezes abandonando o trabalho. Uma torcedora levou um cartaz para seu chefe com o argumento mais direto possível para justificar o sumiço: "Dr. Paulo, aqui é Galo".

Em volta dos torcedores, surgiu um comércio paralelo. É venda de bandeiras, comercialização de bebidas, oferta de quentinhas para matar a fome. Na frente, bastando atravessar a rua, tem um shopping center. Como existe uma parceria entre o pessoal da fila, acontece de um guardar o lugar de outro. Solidariedade: é muito tempo de espera
O jeito é tentar aproveitar o período ocioso. Diego de Oliveira Lemos, de 17 anos, não teve dúvida: levou junto apostilas de estudos para a prova que decidirá se ele logo, logo terá uma carteira de motorista. O jovem está na fila desde sábado.

O que mais angustia os torcedores é saber quando a venda vai começar (deve ser na quinta-feira para os sócios com prioridade de compra) e quanto custarão as entradas para a finalíssima. Ainda na fila, eles acompanharão o primeiro jogo da decisão, nesta quarta-feira, às 21h50m, no Paraguai.

Fonte: Globo.com

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