Polícia ouvirá colegas de filho de PMs sobre grupo baseado em game

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A Polícia Civil de São Paulo investiga se mais pessoas sabiam do grupo "Os Mercenários", que teria sido criado pelo adolescente Marcelo Pesseghini, de 13 anos, para matar desafetos – inclusive familiares. O adolescente é o único suspeito até agora de ter matado a família entre os dias 4 e 5 de agosto, na Zona Norte de São Paulo. Segundo o delegado Itagiba Franco, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), três colegas de escola do garoto disseram em depoimento que o aluno criou o grupo inspirado no game "Assassins Creed".

"Queremos saber se mais pessoas sabiam disso", afirmou Franco nesta terça-feira (20). Para a polícia, Marcelo matou o pai, o sargento da Rota Luís Pesseghini, a mãe, a cabo da PM Andréia Regina Bovo Pesseghini, a avó Benedita de Oliveira Bovo, e a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva entre a noite do dia 4 e a madrugada do dia 5. A investigação aponta que, depois, Marcelo foi para a escola com o carro da mãe de madrugada, assistiu às aulas pela manhã, retornou de carona para a residência da família na Brasilândia, e se matou.

De acordo com Itagiba Franco, três colegas do Colégio Stella Rodrigues deverão ser ouvidos nesta terça. O depoimento da médica Neiva Damasceno, que cuidava de Marcelo, estava previsto para esta manhã, mas foi adiado, a pedido dela, que alegou problemas pessoais. Ela deverá depor na quinta-feira (22). "A investigação quer saber se os medicamentos tomados por Marcelo poderiam influenciar no comportamento dele".

O adolescente tinha fibrose cística. Neiva afirmou em entrevistas que os remédios não alteravam o comportamento de Marcelo. A fibrose cística é uma doença genética que afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e no sistema digestivo. A doença, que não tem cura, pode levar a morte precoce.

Lista
Segundo autoridades ligadas à investigação, no grupo "Os Mercenários" havia uma lista com nomes de desafetos que deveriam ser mortos. Um dos nomes seria o da diretora do Colégio Stella Rodrigues, Maristela Rodrigues. Ela nao foi localizada pelo G1 até as 10h30 desta terça-feira para comentar o assunto.

"Eram nomes de desafetos. E o objetivo seria assassinar as pessoas", disse Franco, que não deu detalhes sobre o funcionamento do grupo. O delegado voltou a dizer que o único suspeito continua sendo Marcelo, mas que é preciso aguardar os laudos técnicos, que devem ficar prontos no fim do mês.

De acordo com relatos dos amigos de Marcelo, o grupo se inspirava no personagem do jogo "Assassins Creed". Ganhariam pontos quem matasse parentes num paralelo com o game, que dá pontos ao jogador. Para os colegas, no entanto, o grupo seria uma diversão e não havia intenção de ser colocado em prática.

A influência do jogo de videogame foi citada também pelo advogado Arles Gonçalves Júnior, presidente da comissão de segurança da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP). Na sexta-feira (16), ele afirmou que os depoimentos prestados revelam que o menino apresentou uma mudança de comportamento influenciada pelo jogo de videogame. “Todos os depoimentos chamam a atenção, cada um em determinado momento, como se fosse um quebra-cabeças”, disse. Das 31 pessoas ouvidas pela polícia, seis eram amigos de Marcelo Pesseghini, de acordo com o advogado da OAB, que acompanha a investigação.

Marcelo usava a imagem de um assassino do jogo no seu perfil do Facebook. O suspeito trocou a foto do perfil no dia 5 de julho. Esta foi a última atualização de Marcelo na rede social.

No dia 8 deste mês, a desenvolvedora de games Ubisoft, criadora do jogo Assassin’s Creed, divulgou nota de repúdio à ligação feita entre o jogo e o assassinato da família Pesseghini. "Em nenhum estudo até agora realizado há consenso sobre a associação entre a violência e obras de ficção, incluindo livros, séries de televisão, filmes e jogos. É uma falácia associar um objeto de entretenimento de milhões de pessoas, todos os dias, em todo o mundo, com ações individuais e que ainda estão sendo esclarecidas", dizia a nota divulgada pela companhia.

Teste
Peritos fizeram na madrugada de segunda-feira (19) testes com tiros dentro da casa onde a família morava, na Rua Dom Sebastião. Dois aparelhos que medem ruído foram instalados em casas vizinhas. Vários disparos foram dados com uma arma semelhante à utilizada no crime – uma pistola .40. Um perito constatou que, de fato, os disparos podem ter sido ouvidos pelos vizinhos. Jornalistas tiveram que permanecer à distância.

Furto a caixas
O deputado estadual Major Olímpio Gomes (PDT) disse na quarta-feira (14) que a cabo Andréia foi convidada por outros policiais militares do 18° Batalhão para participar de furtos a caixas eletrônicos. De acordo com o deputado estadual, ele recebeu a denúncia de militares de várias unidades e diversas patentes e relatou o fato ao coronel Rui Conegundes, comandante da Corregedoria da PM.

A suspeita de ligação de PMs com esta modalidade de crime tinha sido apresentada pelo comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar, coronel Wagner Dimas, durante uma entrevista à Rádio Bandeirantes. Entretanto, Dimas voltou atrás e disse ter se perdido durante a entrevista. Dimas disse inicialmente que a cabo ajudou nas investigações confirmando que existia envolvimento de PMs em furtos a caixas eletrônicos.

Segundo relato de Major Olímpio, os policiais que fizeram denúncias dizem que Andréia teria recusado a proposta de formação de quadrilha e denunciou alguns colegas ao seu superior na época, o capitão Fábio Paganotto, no início de 2012. O capitão investigou o caso, mas não chegou a nenhuma conclusão e foi transferido do 18° Batalhão para o 9° Batalhão.

Fonte: G1

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