O texto em ambientes virtuais de aprendizagem

Quando falamos em produção de texto sempre imaginamos no "texto científico", baseado em pesquisas, relatórios, argumentações e todas as regras de começo, meio e fim. Que seja agradável de ler, gramaticalmente correto, compreensível, coerente e mantenha conexões lógicas entre as idéias nele contidas. Ou da sua rígida estrutura com introdução, objetivos, materiais e métodos, resultados, discussão e conclusão. Mas afinal, o que é um texto?

Li um dia desses na internet, um texto de Alfredina Nery, publicação especial para a Página 3 – Pedagogia e Comunicação, da Uol, aonde explícita um exemplo bem prático da significação do texto em algumas situações:
1) Você foi visitar um amigo que está hospitalizado e, pelos corredores, você vê placas com a palavra "Silêncio".
2) Você está andando por uma rua, a pé, e vê um pedaço de papel, jogado no chão, onde está escrito "Ouro".

Em qual das situações uma única palavra pode constituir um texto?

Na situação 1, a palavra "Silêncio" está dentro de um contexto significativo por meio do qual as pessoas interagem: você, como leitor das placas, e os administradores do hospital, que têm a intenção de comunicar a necessidade de haver silêncio naquele ambiente. Assim, a palavra "Silêncio" é um texto.

Na situação 2, a palavra "Ouro" não é um texto. É apenas um pedaço de papel encontrado na rua por alguém. A palavra "Ouro", na circunstância em que está, quer dizer o quê? Não há como saber.

Mas e se a palavra "Ouro" estiver escrita em um cartaz pendurado nas costas de um daqueles homens que ficam nas esquinas do centro das cidades grandes que anunciam a compra de ouro? Aí sim, nessa situação, a palavra "Ouro" constitui um texto, porque se encontra num contexto significativo em que alguém quer dizer algo para outra pessoa (no caso, vender/comprar ouro) e, então anuncia isso.

Texto é, então, uma sequência verbal (palavras), oral ou escrita, que forma um todo que tem sentido para um determinado grupo de pessoas em uma determinada situação.

Vamos considerar ainda a origem da palavra "texto", do latim "tecer", "entrelaçar". Na educação à distância estamos então sempre tecendo, entrelaçando as idéias e construindo constantemente um texto colaborativo, cheio de dúvidas, perguntas e respostas mas que aos poucos vão se reestruturando com a coerência da fala para compor um todo. E essa nova textura baseia-se nos quatro elementos centrais da comunicação: a repetição, a progressão, a não contradição e a relação.

Demo (1996) argumenta: "…quando um texto é apenas lido reprodutivamente ou copiado imitativamente, ainda não aparece o raciocínio, o questionamento, o saber pensar. Quando é interpretado, supõe já alguma forma de participação do sujeito, por mais incipiente que seja, pois busca-se compreensão do sentido. Compreender o sentido de um texto implica estabelecer relações entre texto e significado, colocar em movimento modos de entender e compreender, indagar possibilidades alternativas de compreensão, perceber e dar sentidos. Esta dinâmica avança ainda mais, quando se trata de saber fazer e refazer um texto, passando-se de leitor a autor. Aparecendo a elaboração própria, torna-se visível o saber pensar e o aprender a aprender".

Em ambientes virtuais de aprendizagem, ou seja, na educação a distância, o texto é de grande relevância para a comunicação. É justamente por conta da distância entre professor e aluno que a construção do conhecimento é realizada na co-produção de textos que vão tecendo desde os diálogos através de chats, foruns e emails. No entanto, é comum encontrarmos nos ambientes virtuais uma formalidade linguística partindo do professor/orientador, o que acentua o sentimento de solidão.

A linguagem utilizada no texto em ead deve representar a fala, utilizando-se de frases de intervenção e o uso da primeira pessoa sempre que possível. O aluno deve ter a sensação de que o que foi escrito pelo tutor é diretamente dito a ele mesmo. Além de observarmos o contexto (social, cultural, estético, político), é necessário fazermos o texto "falar" com o aluno, fortalecendo a possibilidade de participação direta no aprendizado e compreensão do sentido.

Aproveitando este último parágrafo, quando uso a terceira pessoa nas frases "Além de observarmos…" e "…fazermos", é porque estou considerando eu e você enquanto tutores. Porém, quando o tutor se dirige ao aluno, ele não representa uma instituição ou fala por mais outras pessoas, ele apenas fala por ele mesmo sendo o autor de seu próprio texto. Isso ocorre também no conteúdo curricular. Em EAD todo o conteúdo é produção do tutor-autor, que não é necessariamente o tutor professor, aquele que interage no ambiente virtual, mas que ao produzir o conteúdo considera o aluno como receptor da mensagem, fazendo uso também da primeira pessoa.

Outra intervenção muito comum que encontramos nas respostas às atividades são frases como: "Muito bem!", "Excelente o seu trabalho!", "Parabéns pelo esforço!", com o propósito de motivação ao aprendizado. Você já se imaginou em sala de aula, recebendo uma das atividades de seu aluno e lhe devolver com uma dessas frases? – Quando analisamos um texto qual é o foco da leitura? A princípio se o texto atende aos objetivos da atividade, se está dentro do contexto… e geralmente fazemos observações com referência a coerência ou incoerência naquilo que foi escrito. Essas observações são
feitas na própria atividade mas ao conversar com nossos alunos fazemos nossas considerações. Na sala de aula em AVA não deve ser diferente, apenas fazemos com que, volto a afirmar, o texto fale diretamente com o aluno. Frases como: "O seu texto está ótimo, mas…" , "Está excelente sua atividade, atendeu perfeitamente aos propósitos da pesquisa. É possível você discutir com os demais colegas?", e outras que podem vir a estimular a conversa. Embora, na maioria das vezes, essas conversas sejam assíncronas (por email ou no ambiente offline) somente o fato da resposta direta propõe uma continuidade textual que vai aos poucos construindo o conhecimento.

*Especialista em Formação Docente para atuação em EAD

Veja Mais

Cuidado com a dengue!

Com o verão, o receio de outra epidemia da dengue voltou a inquietar a mente de autoridades sanitárias e do...

A vez agora é dos gatos

A cachorrada ainda toma conta dos lares brasileiros! Hoje os cães de estimação compõem uma população de aproximadamente 67,8 milhões...

Deixe um comentário

Vídeos